
27/06/2025
Términos e a Difícil Tarefa de Sustentar o Vazio
O fim de uma relação não traz alívio imediato, por mais necessária que a separação tenha sido.
O que vem, antes de qualquer recomeço, é o vazio.
A cama grande demais. O silêncio que ecoa. A rotina que sobra.
O corpo que ainda espera por hábitos partilhados — mesmo sabendo que já não havia partilha há muito tempo.
A psicanálise não promete cura rápida.
Ela nos ensina que o luto é trabalho.
E que o luto amoroso é, muitas vezes, o luto por um ideal:
do que se investiu, do que se suportou, do que se quis que fosse.
Separar-se de alguém é também separar-se da posição que se ocupava com esse outro.
É abrir mão da economia psíquica construída em torno do vínculo.
E isso custa.
Custa sustentar a falta sem tamponá-la com reposições apressadas.
Custa resistir à compulsão de retorno — não ao outro em si, mas à tentativa de restaurar um sentido onde já não havia.
Porque o reencontro, se acontecer, não trará co***lo.
Traz o peso da repetição.
A dor de se ver voltando ao lugar exato de onde se teve coragem de sair.
Segundo Freud, o luto é uma separação de libido.
É preciso retirar o investimento feito no objeto perdido e reconduzi-lo ao eu — algo que não se faz sem resistência.
É nesse momento que o sujeito se depara com o real da perda: o reconhecimento de que o outro não sustentava mais a função simbólica que um dia ocupou.
Lacan nos lembra que o desejo é sempre desejo do Outro.
No término, o que mais angustia não é apenas a ausência da pessoa, mas o colapso da cena fantasmática em que o sujeito se inscrevia.
Sustentar o vazio é, portanto, não apenas deixar o outro partir, mas aceitar que um pedaço do que se era também se perde — e isso é da ordem do inominável.
É preciso atravessar esse intervalo entre o fim e o depois.
E isso se faz com presença:
com a escuta da angústia, com o acolhimento da inquietação,
com a escolha, dolorosa e cotidiana, de não se abandonar para silenciar o desconforto.
O vazio não é o inimigo.
É o espaço onde, enfim, algo diferente poderá nascer — quando for tempo.
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Sheila Schildt Psicóloga, Psicanalista, Supervisora Clínica, Professora Coordenadora no IPC RS, Especialista em Psicologia Infantil e TEA (Transtorno do Espectro Autista), aplicadora ABA, com experiência em Avaliação Psicológica. CRP 07/18674.
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