29/03/2024
TRISTE, RESMUNGÃO, IRRITADO E DESMOTIVADO? VOCÊ PODE ESTAR COM DISTIMIA!
Certamente você tem um amigo(a) “reclamão”: aquela pessoa que nunca está satisfeita com nada? Imagino que a sua vida não é fácil ao seu lado, mas a dela pode ser pior ainda!!
Além de afastar os amigos, quem lamenta demais acaba tendo um sofrimento psicológico desnecessário. O “reclamão”
tende a generalizar todas as circunstâncias. O problema está na maneira como ele interpreta a realidade. Ele pode ter baixa autoestima e sentimento de rejeição e, assim, reclama demais. As relações acabam ficando bastante comprometidas.
O professor de Medicina Comportamental Dr. Geraldo Possendoro, da Unifesp
(Universidade Federal de São Paulo), afirma que os “reclamões” podem ter esse comportamento como um traço de personalidade. Ele diz que são pessoas muito dogmáticas, absolutistas e pouco flexíveis. Isso acaba trazendo infelicidade!! Vamos detalhar um pouco mais essa condição de saúde mental e, principalmente, oferecer informações que possam lhe ajudar a analisar se você sofre com a distimia.
Você tem se sentido triste, desanimado a mais ou menos dois anos? Nesse período, tem reclamado da vida, de tudo e de todos e nunca se dá por satisfeito com nada? Seu mau humor é constante? Anda desmotivado? Pois isso, ao invés de caracterizar uma pessoa “excêntrica” e de personalidade e temperamento complicados, pode estar indicando que você está com distimia, um transtorno depressivo persistente, ou seja, uma espécie de depressão leve e crônica, menos grave e com menos sintomas do que a depressão maior, mas que incomoda muito ao paciente e às pessoas com quem ele se relaciona.
Os distímicos são realmente pessoas de difícil relacionamento, com baixa autoestima e elevado senso de autocrítica. Estão sempre irritados, reclamando de tudo e só enxergam o lado negativo das coisas. Em outras palavras, as lamentações constantes podem ser um sinal de distimia (depressão leve e crônica), sendo, esses pacientes, pessoas pouco esperançosos, sofredores e que se queixam muito, o que faz com que sejam
frequentemente rotuladas como pessimistas. É uma condição que acomete os adultos, adolescentes e crianças e é de difícil diagnóstico pois confundem-se os sinais da enfermidade com um simples mau humor (inclusive por seus amigos e familiares), o que
dificulta muito que se aceite a situação e, principalmente, a iniciativa de buscar ajuda.
Convém salientar que reclamações em demasia também podem ser uma marca de
pessoas que têm boas estruturas psicológicas: há aqueles que são indignados com certas coisas e reclamam, pois, acreditam que aquilo deve mudar, e, igualmente,
existem as pessoas cujas reclamações são um reflexo da irritação causada por estresse,
muito comum em pessoas que trabalham demais.
A distimia pode ser causada, geralmente, por uma combinação de fatores diversos como os biológicos, psicológicos e/ou ambientais, em vez de uma única causa da doença. A herança genética pode desempenhar um papel causador, assim como o funcionamento anormal nos circuitos cerebrais que ligam diferentes regiões do cérebro e que regulam o humor, mas sabe-se que os principais estressores da vida, uma doença crônica, medicamentos e relacionamentos interpessoais ou problemas de trabalho também
podem aumentar as chances de “fazer” uma distimia em pessoas biologicamente predispostos a desenvolver depressão. Mas atenção, diferentemente da depressão maior que se instala de repente, a distimia não tem esse modo brusco de ruptura, contudo, o mau humor ou tristeza são constantes.
Quais são os sinais e sintomas da distimia? Os sintomas são os mesmos que os da depressão maior, mas em menor número e não tão intensos. O doente distímico não terá mais do que um período livre de sintomas de dois meses, durante o curso da
doença, e deve experimentar, pelo menos, dois dos seguintes sinais e sintomas:
• Baixa apetite ou comer demais.
• Insônia ou sono excessivo.
• Cansaço / fadiga / perda de energia.
• Reclamar de tudo que há em sua volta.
• Tristeza ou humor deprimido ou mau humor na maior parte do dia.
• Perda de prazer nas coisas que antes eram agradáveis.
• Baixa autoestima e sentimentos de inadequação.
• Sentimentos de que é rejeitado ou abandonado
• Dificuldade de concentração ou de tomar decisões.
• Excessivo grau de exigência e perfeccionismo.
• Sentimentos de desesperança ou inutilidade ou culpa excessiva.
• Pensamentos recorrentes de morte ou suicídio, o plano de suicídio ou tentativa de
suicídio.
Como identificar se você é uma “reclamão”? A melhor forma para isso é prestar atenção ao que
amigos e familiares dizem sobre você. Se as reclamações sobre o seu modo de ser forem muitas,
é hora de ficar “ligado”.
E qual a melhor maneira de tratar o problema? A melhor maneira é através da psicoterapia. Aceite
que reclamar demais é um comportamento inadequado e que merece ser tratado. Se você estiver indo longe demais, o melhor é ficar atento aos comentários e às reações de familiares e amigos, porém, a principal recomendação é ir a um psicólogo clínico se você estiver sendo rotulado como um
“reclamão”.
O tratamento da distimia, então, é feito com psicoterapia ou com uma combinação de psicoterapia e medicamentos antidepressivos, nos casos de maior gravidade. A
psicoterapia é usada em distimia e outros transtornos do humor para ajudar a pessoa a desenvolver habilidades de enfrentamento adequadas para lidar positivamente com a vida cotidiana e para desfazer crenças negativas errôneas desafiadoras sobre si mesmo.
Na terapia, o psicólogo lhe ajudará a reverter o problema e você, como exemplos, aprenderá “coisas” como:
• Antes de fazer uma reclamação, pare e pense se aquilo é realmente necessário ou se
vai magoar alguém. Às vezes, é melhor ficar calado.
• Peça que seus amigos e familiares digam se você está se excedendo nas reclamações.
• Antes de reclamar de algo, tente resolver o problema. Não fique parado.
A psicoterapia também pode lhe ajudar a aumentar a aderência à medicação e hábitos de vida saudáveis, bem como será um importante apoio para o paciente e sua família entender esse transtorno de humor.
Há pacientes com distimia leve que preferem se tratar sem medicação. Para esses, há uma série de mudanças no estilo de vida e remédios naturais que podem ser úteis.
Mudanças de estilos de vida equilibrados que podem ajudar a aliviar a distimia incluem dormir o suficiente, uma dieta saudável, a definição de pequenas metas para si mesmo, limitar a ingestão de álcool e a abstenção de qualquer outra droga. Um dos remédios
naturais que encontraram algum sucesso no tratamento de depressão leve é a erva de São João, no entanto, estes tratamentos têm resultados variáveis e podem resultar em
efeitos secundários, logo devem ser tomadas em cooperação com um médico.
Em casos mais graves, é necessário a adição de antidepressivos ao tratamento,
havendo diferentes classes dessas medicações disponíveis, portanto, apenas o médico, preferencialmente um especialista
em psiquiatria, deverá prescrevê-lo. O tratamento da distimia grave sempre é mais
eficaz quando se inclui o tratamento medicamentoso e um bom período de psicoterapia. Como mencionado, hábitos de
vida saudáveis como uma dieta bem equilibrada, exercícios regulares, abstinência de álcool e tabaco e relações positivas e frequentes com amigos e familiares são importantes para melhorar o humor e bem-estar.
As pessoas com distimia têm maior risco de complicações em suas vidas como problemas conjugais, problemas de relacionamentos, insucesso profissional, etc. pois geralmente tem baixo apoio social. Não é errado dizer que estes riscos são maiores para quem sofre de distimia do que para os que sofrem com depressão maior, devido à natureza crônica da doença e à maior influência de fatores estressores no
desenvolvimento de distimia.
Concluindo e revisando, se você está triste, resmungão, irritado e de mau humor, e se esses sintomas estão presentes há mais de duas semanas, procure ajuda especializada - será melhor para você e sua família! Fique atento às condições de desânimo e tristeza, alterações do apetite e do sono, falta de energia para agir, isolamento social e tendência
ao uso de dr**as lícitas, ilícitas e de tranquilizantes. Lembre-se que a distimia, assim como a depressão clássica, também pode atingir crianças e adolescentes. Às vezes, esses transtornos estão camuflados atrás do baixo rendimento escolar, do comportamento antissocial e do temperamento agressivo que não conseguem controlar.
Se, nos últimos tempos, seus amigos e parentes têm comentado que você anda de “cara amarrada”, irritado, descontente com tudo e com todos, esteja certo de que isso não é normal; não subestime os sintomas da distimia nem se iluda atribuindo esses sintomas ao envelhecimento, à teimosia, à obstinação e as grosserias, ao mau humor e às queixas do “excêntrico” que só reclama e não quer sair de casa.
Um abraço,
Psicólogo Paulo Cesar
- Psicoterapeuta de adolescentes, adultos e casais.
- Psicólogo de linha humanista existencial com acentuada orientação junguiana, budista
e pós-graduações em Sexualidade Humana, Autismo e Psicologia Clínica.
- Voluntário no Serviço de Reprodução Humana da Escola Paulista de Medicina.
-Psicólogo colaborador da Clínica Paulista de Medicina Reprodutiva.
- Palestrante sobre temas ligados ao comportamento humano no ambiente social e
empresarial.
- Consultório próximo à estação de metrô Vila Mariana em São Paulo, SP.
- Atendimentos (presenciais e por internet) de segunda-feira a sexta-feira.