19/04/2017
O jogo (se é que assim podemos chamá-lo) Baleia Azul ganhou notoriedade no Brasil nas últimas semanas. Alguns casos de suicídio notif**ados nos últimos dias têm sido atrelados ao Baleia Azul, embora até o momento que escrevi esse texto, nada havia sido confirmado. A dinâmica do "jogo" é muito simples e qualquer adolescente pode ser convidado a participar dos grupos do Whatsapp que instigam a cumprir os desafios da Baleia Azul. No caso do Facebook, quem quiser participar deve solicitar a entrada nos grupos fechados existentes. São no total 50 desafios, dentre eles, mutilar-se, assistir filmes de terror de madrugada, e na última tarefa, cometer suicídio. Nem todos os adolescentes convidados a participar aceitam o desafio, porém os curadores (normalmente adolescentes com perfis falsos que divulgam os desafios) ameaçam os participantes, dizendo que uma vez aceitado o desafio, não se pode desistir. Os curadores chegam a ameaçar os familiares dos adolescentes e expô-los. Infelizmente, há muitas pessoas que minimizam essas ameaças, dizendo que "se o adolescente não quer é só sair do grupo" e que "eles só querem aparecer". É fundamental considerarmos que os jovens que aceitam participar desse tipo de "jogo" estão em situação de extremo sofrimento e vulnerabilidade. O perfil da maioria dos adolescentes participantes, segundo Julio Boll, blogueiro do jornal Gazeta do Povo, que participou do Baleia Azul, para compreender como tudo acontecia, são de jovens que sofrem violência, tem figuras paternas ausentes, sofrem abuso, estão sofrendo alguma pressão psicológica, ou a pressão da época de vestibular, etc.
Os pais ou guardiões devem f**ar atentos a qualquer mudança brusca no comportamento dos filhos, como isolamento, falta de apetite, agressividade, entre outros, pois podem ser sinais de que o adolescente está sofrendo e não está sabendo lidar com alguma questão. Mostrar-se interessado na rotina dos filhos, conhecer seus amigos, entender o que fazem, incentivar planos futuros, promover o acolhimento, inspirar confiança, promover o diálogo familiar, são meios de prevenir que os adolescentes cedam a esses "jogos".
Alguns sinais dos adolescentes que podem estar relacionados ao Baleia Azul são: mutilações na palma da mão, braços e lábios, desenhos de baleia no corpo, sair de casa de madrugada, furos nas mãos com agulhas, posts em redes sociais dizendo "i_am_whale", assistir filmes de terror com muita frequência.
É importante considerar que é um conjunto de sinais que são motivos de alerta e não apenas um dos fatores acima. Além disso, os familiares devem estar conscientes de que todos esses cuidados a serem tomados devem ser constantes e não apenas devido a um jogo específico.
"Jogos" com apelos de risco letais tem se tornado populares entre os adolescentes. Há pouco tempo, mortes foram provocadas pelo "Jogo da Asfixia", o "Desafio do Sal e Gelo" e o "Jogo da Fada". E a grande questão é: por que? Cada um de nós temos sentimentos que os outros não imaginam e só nós entendemos. Cada um temos a nossa história de vida, nossos sofrimentos, nossas lutas, perdas, alegrias e conquistas. O problema é que temos imensa dificuldade em nos colocarmos no lugar do outro. Minimizamos o sofrimento do outro e nos tornamos apáticos, frios e distantes. Precisamos caminhar no sentido contrário, da empatia, da proximidade, da sensibilidade. Compreender o sofrimento do outro, anulando as nossas verdades, críticas e julgamentos. Com isso, o outro se sente acolhido e nós conseguimos chegar a uma compreensão profunda do que o outro sente. Isso não é uma solução, mas é algo que pode ajudar o outro a se perceber de uma maneira diferente.
Em meio a tantas preocupações com esses jogos, uma boa notícia. Segundo Julio Boll, há nos grupos do Baleia Azul do Facebook, jovens que se passam por curadores e tentam ajudar os adolescentes que buscam a automutilação. Esse jovens tentam mostrar possibilidades, escutam o que os levou até ali e sugerem ao adolescente a busca por ajuda psicológica.
Existe uma campanha muito grande de prevenção ao suicídio e há organizações que fornecem apoio emocional a quem está em sofrimento. É o caso do Centro de Valorização da Vida, que realiza esse apoio e prevenção do suicídio, atendendo gratuitamente todas as pessoas que querem conversar, sob total sigilo.
http://www.cvv.org.br/
Psicóloga Katherine Passos