
24/06/2025
Se mudou para um lugar diferente. Ali não se levava o lixo até a lixeira. Na verdade levava, mas a uma intermediária. Depois alguém juntava de andar em andar para irem ao encontro do caminhão. Achou esquisito, mas tá né.
Até que a lei veio e disse: assim não pode.
Protestos. Muitos protestos.
O que foi ainda mais esquisito.
O que as pessoas vão fazer agora? descer com o lixo? E quem trabalha aqui? Vai fazer o quê com esse tempo livre? Não teve jeito. A lei chegou e cada um passou a descer com seu lixo.
O tempo livre nunca foi visto porque há sempre muito a fazer, de sete às sete.
Aquilo foi uma experiência e tanto.
Meses depois de novo, dessa vez onde trabalha. Prédio chique. Estava há anos ali e sempre recolheu e levou o lixinho ao lixão. Seu trabalho mesmo que glamourizado, de glamouroso tem pouco. O dia escutando restos e ao final recolhendo o lixo.
Naquele dia, por acaso encontrou a zeladora que quando a viu com uma de lixo em mãos disse:
-Doutora, você que recolhe o lixo aí?
Sem entender muita coisa, disse que sim ué.
-Deixa que tiro para senhora, entro aí e pego.
Então deu um riso e disse:
-Muito obrigada, mas não precisa. Bom que passeio no prédio.
E sorriu.
Se a gente não for nem capaz de lidar com esses lixos tão fáceis de descartar e precisar delegar para outra pessoa isso, imagina com aqueles difíceis mesmo.