
01/08/2025
Muitas vezes, o chamado “senso de justiça” no autismo é interpretado a partir da lógica neurotípica, como se fosse fruto de um julgamento moral ou de um senso ético desenvolvido. No entanto, na prática clínica e nos relatos de pessoas autistas, o que se observa é que essa reação intensa a quebras de regras, promessas ou combinados está muito mais ligada a aspectos do funcionamento cognitivo, como rigidez, pensamento concreto e necessidade de previsibilidade.
Ou seja, o que parece ser uma defesa da justiça pode, na verdade, ser uma tentativa de manter a coerência interna frente a um mundo percebido como caótico ou incoerente. Uma mudança inesperada, um desvio de rota ou uma quebra de regra pode ser vivida com desconforto ou até angústia, não por uma reflexão ética profunda, mas porque aquilo rompeu com a lógica que organiza o mundo para aquela pessoa.
Por isso é tão importante compreender o funcionamento cognitivo da pessoa autista. Sem esse entendimento, corre-se o risco de interpretar suas reações de forma equivocada, idealizando como uma grande consciência moral ou, ao contrário, criticando como se fossem inflexíveis ou intolerantes. Em ambos os casos, perde-se a oportunidade de enxergar a experiência vivida por trás do comportamento.