28/04/2024
Ao longo da nossa vida, passamos por muitas mortes e renascimentos. Precisamos de fazer morrer o que tem de ser largado para, dessa forma, permitir que o novo possa entrar.
Só que esse processo nunca termina. E podemos cair no erro de achar que, chegando a um certo sítio, e tendo tido a coragem, força e determinação de superar uma série de coisas, há uma espécie de promessa de estabilidade ou de manutenção do que foi alcançado. De controlo.
Basta olharmos para a natureza. Nada do que foi alcançado, seja numa árvore, fruto, flor, permanece. Connosco é igual. E a pessoa que superou, que alcançou, também precisa, a certa altura, de fazer morrer o seu modo de sobrevivente e resiliente. Ter sido forte, ter enfrentado muito, já serviu. Mas pode já não servir. E se não conseguirmos largar essa pessoa, com uma carapaça dura que precisou de se formar para sobreviver emocionalmente, se não a deixarmos morrer, ela pode impedir uma nova e importante transformação. Aquela que o presente pede.
Ficarmos agarrados a uma identidade de força, luta e coragem, vem de um lugar de medo. Então o medo precisa de voltar a morrer, mas de uma maneira oposta, diferente. Desta vez, pode ser preciso deixar entrar a doçura, a vulnerabilidade, o pedido de ajuda, a confiança no outro e o amor que não dependa apenas de contarmos connosco mesmos.
É mesmo o ciclo da vida. O que em tempos precisamos tanto de conquistar, pode ser exactamente o que agora temos de largar. Morrer e renascer. Para sempre.
Ana Rita Dias