20/07/2020
O trecho de Cazuza nos distância da romantização do amor e aponta para conceitos caros à psicanálise.
Amor, falta, luto e desejo.
A dor do amor que se vai, nunca é sobre o sujeito que nos deixa. Esse embora importante, é apenas objeto que serve de via para nos apontar do que se trata o nosso desejo.
“𝐎 𝐧𝐨𝐬𝐬𝐨 𝐚𝐦𝐨𝐫 𝐚 𝐠𝐞𝐧𝐭𝐞 𝐢𝐧𝐯𝐞𝐧𝐭𝐚[...]
Pois, todo amor é da ordem do imaginário individual, sendo assim, impossível de ser encontrado na realidade.
“𝐏rá se 𝐝𝐢𝐬𝐭𝐫𝐚𝐢𝐫[...]
Sujeito nenhum tem a capacidade de materializar em si a nossa demanda de completude idealizada pelo amor romântico. O máximo (e não é pouco) o amado(a) vai “nos distrair” (fazer esquecer) da condição faltante inerente à condição humana.
“𝐞 𝐪𝐮𝐚𝐧𝐝𝐨 𝐚𝐜𝐚𝐛𝐚, a gente pensa 𝐪𝐮𝐞 𝐧𝐮𝐧𝐜𝐚 𝐞𝐱𝐢𝐬𝐭𝐢𝐮[...]
Porque não era sobre o outro, e sim, sobre nós, e a nossa falta e as fantasias que criamos em busca da realização do nosso desejo.
O luto, fundamental para nós “devolver” o objeto perdido, que tínhamos suposto que o outro possuía, mas nunca o teve (foi quase, e novamente esse “quase” não é pouco), e isso fará com que o amado(a) em algum tempo seja esquecido(a).
Não por incompetência do amante, pois como dito, o que se procura é sempre da ordem do imaginário.
Assim, que reintegrado ao nosso ser novamente, faremos novas apostas que o que se procura possa ser encontrado em outra um outro.
A estrutura do amor possui uma condição trágica. Porém, não é por ser da lógica do impossível que seja pouco o que se encontra no caminho.
E que a gente não desista de apostar no amor (esse quase tudo, mas nunca completo). Mesmo sabendo que nunca o será, que a gente não desista de se distrair e assim, só assim, conseguir suportar o desamparo de existir.