01/12/2025
O debate sobre pornografia costuma escorregar para dois extremos: demonização moral ou defesa ingênua de liberdade. A psicanálise se interessa por outra coisa. Não o objeto em si, mas o que ele faz com o desejo.
O ponto levantado pelo é clínico. A pornografia, consumida de forma massiva e precoce, não amplia a vida erótica, ela a empobrece. Não por um juízo moral, e sim pelo efeito psíquico: quando a fantasia passa a ser terceirizada por imagens prontas, o sujeito deixa de produzir a própria trama desejante. Ele se desconecta da imaginação, do corpo, da presença.
No consultório, isso aparece na dificuldade de sustentar intimidade real. Muitos descrevem que “não sentem nada” diante do parceiro. A excitação requer hiperestimulação visual, sempre repetida, sempre igual. É um desejo que não nasce do encontro, mas do automatismo.
E isso é fundamental: o desejo, para existir, precisa de intervalo, de mistério, de um não saber. A pornografia entrega respostas demais, rápido demais, num ritmo que a vida não acompanha.
O efeito é paradoxal. Quanto mais acesso, menos experiência. Quanto mais estímulo, menos corpo. O sujeito f**a saturado de imagens e pobre de sensações. A sexualidade vira performance, não encontro.
Esse é o alerta. Não sobre proibição, e sim sobre perda. O excesso de imagem sequestra a possibilidade de descobrir como você deseja, o que te move, o que te convoca no outro. A fantasia vira produto de consumo, não criação singular.
Talvez a pergunta não seja “pornografia é certa ou errada”, mas “que tipo de relação com o desejo ela constrói em mim?”. E, mais difícil ainda: “o que estou tentando evitar quando dependo dela?”.
A análise entra aí. Não para ditar conduta, mas para devolver ao sujeito o direito de construir a própria vida erótica, longe do empobrecimento imaginário que a indústria produz e do silêncio que a vergonha mantém.
Vídeo “CHAY SUEDE | CONVERSA VAI, CONVERSA VEM | Por Maria Fortuna”