24/08/2025
Aquele dia…
O dia era 2 de maio. Após um dia intenso de convívios, camisetas de “feliz dia do trabalhador”, sem contar as fotos que compartilhavam nas redes sociais. Tinha sido um dia inesquecível para os ditos “trabalhadores”.
E quanto a mim? Encontrava-me em frente aos madodas da minha família. Isso tudo porque bebia muito e, segundo eles, eu precisava voltar a uma vida digna. Mas como eu explicaria para eles que vida digna era aquilo que eu vivia agora? Afinal, há 3 meses recebi minha carta de demissão porque me opus à ideia do meu chefe de ir fazer campanha para o partido dele.
Depois, minha namorada terminou comigo porque ganhara uma bolsa de estudos e eu não era mais do nível dela, ainda desempregado e “marginal”, segundo a família dela. Não queria contar, nessa lista, a notificação dos meus amigos quando souberam que fiquei desempregado: “foi removido deste grupo”. Sim, eu fui removido do grupo porque não podia mais pagar o xitique mensal para comprar um Toyota Ractis, porque era isso que cabia no nosso orçamento.
E, no meio de tudo isso, eles viam apenas um jovem desviado, e não os motivos que me levaram a usar aquelas garrafinhas fortes de xivotxonga. No final, para a minha solidão e a minha frustração, os copos tinham sido minha melhor companhia.
Mas eu explicaria como para os meus madodas? Se eu dissesse que alguns ou muitos jovens como eu caíram nos vícios de xivotxonga e aviator por conta do desemprego e da frustração com a vida que levam, e que o governo, além de criar políticas para proibir o uso, devia também ajudar os jovens a despertar para o empreendedorismo e oferecer oportunidades, entenderiam?
Enfim, por saber que não entenderiam porque são antigos combatentes e o legado deles é “amor à pátria” e eu apenas um jovem desempregado, tentando lidar com os recomeços, sair do álcool.
Termino esta carta por aqui. Quem a encontrar, por favor a leve para quem é de direito…
PS: Fui desafiada a entrar nesta corrente literária pelo escritor Nunes Cristóvão. Em seguida, mencionarei os 5 escritores a quem quero lançar o desafio de também escrever um texto e convidar outros 5 escritores, para que esta corrente continue.
Vicente A. Mavuie
Lorna Telma Zita
Exilado Osvaldo
Pelembe
Carlos Ubisse