10/10/2017
Revisitando um texto escrito em 2016, sobre as "tempestades" que surgem no nossa caminho e como lidar com elas...
Sobre quando temos um problema e ele se parece "uma tempestade"...
“Por vezes o destino é como uma pequena tempestade de areia que não pára de mudar de direção. Tu mudas de rumo, mas a tempestade de areia vai atrás de ti. Voltas a mudar de direção, mas a tempestade persegue-te, seguindo no teu encalço. Isto acontece uma vez e outra e outra, como uma espécie de dança maldita com a morte ao amanhecer. Porquê? Porque esta tempestade não é uma coisa que tenha surgido do nada, sem nada que ver contigo. Esta tempestade és tu. Algo que está dentro de ti. Por isso, só te resta deixares-te levar, mergulhar na tempestade, fechando os olhos e tapando os ouvidos para não deixar entrar a areia e, passo a passo, atravessá-la de uma ponta a outra. Aqui não há lugar para o sol nem para a lua; a orientação e a noção de tempo são coisas que não fazem sentido. Existe apenas areia branca e fina, como ossos pulverizados, a rodopiar em direção ao céu. É uma tempestade de areia assim que deves imaginar.
(...) E não há maneira de escapar à violência da tempestade, a essa tempestade metafísica, simbólica. (…) E quando a tempestade tiver passado, mal te lembrarás de ter conseguido atravessá-la, de ter conseguido sobreviver. Nem sequer terás a certeza de a tormenta ter realmente chegado ao fim. Mas uma coisa é certa. Quando saíres da tempestade já não serás a mesma pessoa. Só assim as tempestades fazem sentido.
Haruki Murakami, in 'Kafka à Beira-Mar'
É assim, que muitas vezes percecionamos os nossos problemas, como tempestades e nas quais ou evitamos entrar, ou temos dúvidas sobre como sairemos da mesma… são tempestades dentro da relação, dentro da família, em contexto de trabalho, decorrente de uma situação traumática ou aparecimento de uma doença.
Esta tempestade tem a ver contigo. Não tentes escapar dela, não tentes ignorar, evitar e fechar os olhos, negar ou fingir que não existe, porque ela permanecerá paralela e a falar-te baixinho! Mergulha nela e atravessa-a e se a dor e o que levas para atravessar não forem suficientes, procura ajuda. Partilha a dor para ires mais leve, procura outra ferramentas que te ajudarão a atravessar com menos danos.
Como serás depois da tempestade? Mais capaz, com mais sabedoria? Sairás de pele queimada? Rasgada pela areia? Sairás apenas despenteada?
A forma como sairás dela, dependerá apenas de ti…
Para Minuchin (1979), estes momentos de crise – “tempestades metafóricas” – podem ser entendidos como momentos de crescimento de evolução pessoal, profissional ou da relação ou momentos de impasse de risco de funcionamento.
São por isso também, momentos de excelência para a intervenção psicológica.
Se conhece alguém que está envolvido numa “tempestade” e com dificuldades em atravessá-la indique um psicólogo.
Se está perante a “tempestade” e vai iniciar a travessia, não hesite, procure ajuda.
O psicólogo pode ajudar.