01/05/2025
Reflexão Clínica
A notícia da morte de uma menina de 12 anos, no Funchal, é profundamente perturbadora e levanta questões essenciais sobre a nossa responsabilidade, enquanto profissionais de saúde, no acompanhamento da saúde mental infantojuvenil. A jovem, que manifestava sinais de depressão e se queixava de bullying, acabou por pôr termo à própria vida, deixando uma carta como último grito de socorro.
Este caso evidencia, de forma dolorosa, a necessidade urgente de reforçar a vigilância, o apoio e a intervenção precoce junto de crianças e adolescentes em sofrimento psicológico. A depressão nesta faixa etária, muitas vezes camuflada sob comportamentos que passam despercebidos, exige sensibilidade clínica, escuta ativa e articulação entre os diferentes setores — saúde, educação, família e comunidade.
O bullying, seja ele físico, verbal ou digital, é um fator de risco bem estabelecido para o desenvolvimento de transtornos de ansiedade, depressão e ideação suicida. Ainda assim, muitos jovens continuam a sofrer em silêncio. Este silêncio, por vezes, só é quebrado de forma trágica, como neste caso.
Enquanto profissionais, é nossa obrigação manter uma postura proativa: fomentar a criação de espaços de escuta clínica seguros, formar educadores e cuidadores para a deteção precoce de sinais de alarme, e garantir o acesso a acompanhamento psicológico especializado. Nenhuma criança deve enfrentar a dor emocional sozinha.
Esta tragédia deve ser um marco de reflexão e mudança. Que este caso nos convoque a agir com mais compaixão, competência e responsabilidade. A prevenção do suicídio começa no acolhimento, na escuta e na presença clínica contínua e disponível.
sargo.freitas