28/10/2015
Estudo: Portugal é o terceiro país mais «surdo» do mundo
Cerca de um terço da população está exposta a níveis de ruído excessivo, que pode ser responsável por aumentar em 30% a probabilidade de sofrer dificuldades auditivas e duplicar as hipóteses de sofrer distúrbios de humor e de sono, dificuldades de concentração e dores de cabeça. Estas são algumas das conclusões do estudo Coping with Noise promovido pela Amplifon e revelado esta segunda-feira em Portugal.
Segundo os resultados obtidos, os EUA estão no topo do ranking com 16% da população exposta a níveis elevados de ruído, seguido de Itália com 10% e Portugal com 7%. A França e o Reino Unido partilham com Portugal o 3º lugar no pódio dos países com maior índice de exposição ao ruído (ENPI).
Nas grandes cidades do mundo, 28% da população vive em ambientes ruidosos. De acordo com este estudo, Portugal é o terceiro país mais ‘surdo’ do mundo, ficando à frente de Espanha (5%), Bélgica (6%), Holanda (4%) e Alemanha (2%) em termos de exposição ao ruído.
Em todo o mundo, as maiores fontes de ruído são o trânsito (33% - 39% em Portugal), as conversas entre pessoas (28% - 33% em PT), a música de fundo (25% - 29% em PT) e os transportes públicos (21% - 25% em PT). Portugal lidera o ranking mundial da maior exposição ao barulho do trânsito, juntamente com a Itália, ficando à frente da França e dos EUA.
Outras fontes de ruído em Portugal mas com menor nível exposição são o toque contínuo de telemóveis - 16%, e os aviões - 13%.
Entre as cidades portuguesas, o Porto lidera como a cidade mais barulhenta (8%), seguido de Lisboa (7%) e Coimbra (5%), conquistando o terceiro lugar no pódio das cidades mais ruidosas da Europa, juntamente com Londres e Bruxelas.
Uma análise mais detalhada revela que a maior exposição ao barulho derivado do trânsito, das conversas entre pessoas e dos transportes públicos verifica-se na cidade do Porto, com 45%, 36% e 28%, respetivamente. Já o ruído proveniente da música de fundo é mais ouvido em Lisboa, com 30% de exposição.
O mesmo estudo realizou também um Índice de Audição criado para verificar o estado da saúde auditiva nos 11 países que participam no mesmo, com base na percepção das pessoas entrevistadas. O Índice tem em conta a capacidade de compreender uma pessoa quando existe muito ruído de fundo, ou de ouvir devidamente alguém a falar num espaço relativamente silencioso. Segundo as conclusões, os países com a pior audição são Nova Zelândia, Portugal e Bélgica, por ordem decrescente.
De acordo com os especialistas estamos a encarar uma verdadeira “doença do ruído”, um intenso e generalizado caos sonoro que pode colocar em risco a saúde da população. Alguns estudos consideram o ruído um fator de risco cardiovascular: uma mera redução de 5 dB no ruído seria suficiente para reduzir o aumento da hipertensão em 1,4% e da doença coronária e ataque cardíaco em 1,8%.
Segundo o estudo «Coping with Noise», há uma outra perigosa correlação, nomeadamente entre o ruído e os distúrbios altamente debilitantes: 30% das pessoas expostas a elevados níveis de ruído reportaram perturbações de humor (irritabilidade, ansiedade e nervosismo), insónia ou dores de cabeça, contra os 16% das pessoas menos expostos ao barulho. Por fim, o estudo revela que um nível de exposição ao ruído alto e médio-alto aumenta em 30% a probabilidade de sofrer algum tipo de dificuldade auditiva.
A exposição ao ruído, segundo Celso Martins, director Técnico da Amplifon, pode prejudicar a audição, causando danos anatómicos e funcionais nos ouvidos, dependendo da intensidade e duração da exposição, e igualmente da suscetibilidade de cada pessoa ao barulho. Esta condição pode levar a uma perda auditiva induzida pelo ruído e, por vezes, pode desencadear outras duas condições auditivas: zumbidos e hiperacusia - uma intolerância a sons externos baixos ou moderados. «Os indivíduos mais susceptíveis e vulneráveis ao ruído, acrescenta o especialista, são os mais jovens e os mais idosos. Os primeiros estão geralmente expostos a elevados volumes de música, enquanto os segundos podem estar expostos a uma mistura explosiva para a audição: ruído, medicamentos ototóxicos e maiores riscos de doenças cardiovasculares e metabólicas.»
Se Portugal está no pódio dos países com maior índice de exposição ao ruído, está também no topo da lista no que diz respeito aos mais sensibilizados e informados sobre os riscos associados à exposição ao ruído. No entanto, esta consciência não evita os comportamentos de risco.
Cerca de 63% dos portugueses inquiridos afirma conhecer o risco de perda auditiva, 56% o aumento da irritabilidade e 52% o aumento do stress, como causas da excessiva exposição ao ruído. Ainda assim e apesar do conhecimento de causa, 68% afirma frequentar restaurantes, 55% ir a concertos e 36% assistir televisão com dolby surround, com regularidade.
Apesar da realidade portuguesa, numa perspetiva geral poucos estão a par das consequências desastrosas das consequências do barulho. Apenas 1 em cada 2 pessoas, reconhece que pode causar stress, distúrbios de sono ou irritabilidade; menos de 1 em cada 10 associam a excessiva exposição a um alto risco de doenças cardiovasculares. Metade da população não sabe que estar exposto a ruídos intensos frequente e prolongadamente pode danificar a audição.
De forma a evitar as chamadas “doenças do ruído”, os especialistas sugerem uma ação de duas frentes. Por um lado, é importante informar e sensibilizar sobre a prevenção e os riscos associados quer a nível individual como institucional, por outro lado, é essencial aumentar a sensibilização sobre os progressos feitos no diagnóstico e acompanhamento da perda auditiva induzida pelo ruído com a ajuda da tecnologia digital moderna. No entanto, há ainda um longo caminho a percorrer contra o estigma associado à perda auditiva. E mais investigação é necessária para desenvolver te**es que consigam prever de forma segura, o sucesso da adaptação de uma determinada solução auditiva, para que o tratamento seja o mais personalizado possível.
«Hoje em dia o ruído está em todo o lado, invade as nossas vidas», diz Celso Martins, e o termo socioacusia foi criado para definir exatamente o tipo de perda auditiva causada por viver em ambientes com altos níveis de poluição sonora.
Já em 1950, investigadores evidenciaram que o limiar audiométrico – indicativo da menor intensidade de som que uma pessoa consegue ouvir – era maior entre as pessoas que viviam em ambientes urbanos do que as que viviam no campo. Desde essa altura, a poluição sonora aumentou drasticamente e os estilos de vida contemporâneos contribuíram para aumentar este fenómeno.
O consumo de álcool, o tabaco, a obesidade, a hipertensão, a diabetes e a hipercolesterolemia são conhecidas por deteriorar a audição. Também a forma como ouvimos música mudou significativamente: nos últimos 40 anos, as discotecas atingiram níveis de volume tais que podem danificar a audição dos que as frequentam regularmente por longos períodos de tempo, e mais importante ainda, nos últimos 20 anos o hábito de ouvir música através de auriculares tornou-se um fenómeno gigantesco: sendo que alguns equipamentos conseguem produzir picos de som de 120 decibéis. Hoje em dia, 90% dos jovens entre os 12 e os 19 anos utilizam leitores de música, metade destes admitem ouvi-los em volumes altos e, um em cada três, com muita regularidade.
Segundo Susan Holland, presidente do Grupo Amplifon e do Centro de Investigação e Estudos da Amplifon, «de forma a podermos continuar a trabalhar na nossa missão de dar às pessoas com perda auditiva uma vida o mais normal possível, é necessário entender profundamente o inimigo número um da audição - o ruído - bem como a sua perceção nos diferentes países e consequências práticas na saúde.»
Países participantes:
EUA, Itália, Portugal, França, Reino Unido, Bélgica, Espanha, Austrália, Holanda, Nova Zelândia e Alemanha.
Amostra de Portugal: 800 inquiridos
Masculino – 47%
Feminino – 53%
Média de idades - 48 anos
Cerca de um terço da população está exposta a níveis de ruído excessivo, que pode ser responsável por aumentar em 30% a probabilidade de sofrer dificuldades auditivas e duplicar as hipóteses de sofrer distúrbios de humor e de sono, dificuldades de concentração e dores de cabeça. Estas são algumas da…