23/05/2024
Este texto espelha aquilo que sempre disse acerca desta série “infantil”, é a meu ver um aprendizagem completa de um modelo parental que apesar de difícil é muito enriquecedor para as crianças! É uma série genial em que todos podemos aprender a sermos melhores! Tirem tempo com os vossos filhos e vejam :)
Bluey não é para crianças, não é para pais. Bluey é para todas as pessoas que querem saber mais sobre quem são. Ali, não há o pai de sempre, a mãe de sempre, a filha de sempre. Precisamos, enquanto colectivo, de escapar de tanta coisa do que foi sempre. Mudar exige coragem, bravura, capacidade de olhar para a ferida para saber de onde vem, de onde chegou. Temos de saber quem fomos para sbermos quem somos, quem pretendemos ser. Entender Bluey, o que representa, em profundidade, Bluey, é entender tanto sobre quem teríamos de ser, sobre quem podemos ser. Bandit não é um escravo; é um pai. Não está às ordens das filhas. Está ao serviço do amor. O amor é reinvenção, é imaginação, é compreensão. Ali, em Bluey, não há comandantes, não há soldados. Há pessoas, juntas, numa casa, a aprenderem, unidas, com falhas, com defeitos, com tristezas às vezes, a ser pessoas. Bluey é um fenómeno mundial porque não é sobre nada em especial, e é por isso que é sobre tudo. Nós estamos lá. O mundo inteiro, as pessoas inteiras, e por inteiro. Nós vemo-nos ali. No que fizemos, no que poderíamos ter feito. Bluey olha-nos, de lupa numa mão e bisturi na outra, faz-nos olhar-nos, de lupa numa mão e bisturi na outra, prontos a fazer a cirurgia que nos pode salvar do analfabetismo emocional, da prisão dos estereótipos, das masmorras decrépitas, pútridas, do preconceito. Nada f**a por tocar, por ver, por remexer. No final de cada episódio, no meio dos risos, estamos nós, adultos e crianças, estendidos, prostrados, mas mais gente. É tudo aquilo, e mais alguma coisa, que a arte (e a vida) nos pode dar.