Podemos encontrar a nossa vocação em qualquer altura do ciclo de vida, com a idade não se perde flexibilidade e capacidade de adaptação, e é possível acertar (com maior ou menor dificuldade, e às vezes com uma ponta de sorte) as velas quando o vento não está de feição. Durante aproximadamente 20 anos (dos 30 aos 50 anos) desempenhei a função de delegado comercial imobiliário n
o grupo Portugal Telecom, e tinha como área comercial o distrito de Aveiro e o sul do distrito do Porto. No ano em que fiz 48 anos o meu pai foi diagnosticado com demência, e como eu tinha uma carteira de clientes sólida, estive aproximadamente 2 anos a cuidar informalmente do meu pai e a desenvolver a atividade comercial a partir de casa. Essa minha situação profissional era do conhecimento da minha chefia, e era objetivamente irrelevante porque continuei a cumprir os objetivos que me pediam. Depois de o meu pai falecer, tinha eu na altura 50 anos, talvez para procurar um sentido ao violento turbilhão de acontecimentos que tinha vivido, e acomodar sintomas de stress pós traumático, resolvi tirar a licenciatura de Gerontologia. Fiz uma pesquisa na internet e informei-me que tinha que fazer a disciplina de Biologia ou Bioquímica do 11ª ano para entrar em Gerontologia numa Escola Superior de Saúde. Como não tinha bases em nenhuma das disciplinas, descartei a Bioquímica e optei pela Biologia por me parecer apesar de tudo mais acessível. Despedi-me da atividade profissional que tinha, fui a um liceu de São João da Madeira, e pedi a uma Professora de Biologia que me emprestasse os livros dela de Biologia do 10º e 11º ano (porque são mais completos do que os livros dos alunos). Durante aproximadamente seis meses preparei-me para o exame e entrei em Gerontologia na Escola Superior de Saúde do I.P. de Bragança. No terceiro ano de Gerontologia, idealizei e participei na concretização de uma iniciativa que reuniu a Escola Superior de Saúde do I.P. de Bragança, a Escola Superior de Saúde da U. de Aveiro e a Escola Superior de Artes e Design de Matosinhos. O objetivo era construir equipas multidisciplinares formadas com alunos das áreas de saúde, social e design (gerontologia, enfermagem e design) e tirar o estigma e acrescentar design à funcionalidade das ajudas técnicas para pessoas dependentes. Depois de concluir a licenciatura matriculei-me no Mestrado de Gerontologia Aplicada na Universidade de Aveiro porque vi sentido na palavra “Aplicada” do mestrado. Se o mestrado não tivesse a palavra "Aplicada" não me teria matriculado. Entretanto registei a marca “Cuidador Informal”. Há cerca de um ano e meio, apesar de ter o trabalho de mestrado em fase muito avançada (trabalho que vou publicar um dia), resolvi, por razões pessoais, mudar de tema de dissertação. Atualmente consigo identificar sempre que surgem os sintomas de stress pós traumático e os pensamentos intrusivos que ganhei como medalhas, e como cuidador informal estou a acompanhar, da melhor maneira que sei e posso, o processo de envelhecimento da minha mãe que possui 90 anos.