SEJA A FORMA QUE TIVER,
SE FOR AMOR… SÓ SE FOR COM AMOR
Éramos oito irmãos. Desde muito cedo, o que eu gostava era de fazer coisas doces. Nas festas de família, sempre que era preciso um bolo ou uma sobremesa, era a mim que pediam – “a Pureza é quem faz melhor”. As minhas duas avós eram excelentes cozinheiras. A avó paterna fazia alta cozinha e dava aulas de culinária numa instituição de raparig
as órfãs. Depois usava os cozinhados dessas aulas para servir em festas da alta sociedade. O lucro revertia a favor da “Casa das Raparigas”. Acabou por ser profanada por uma “amiga” que lhe pediu o seu livro de receitas pessoais emprestado e “de má-fé” publicou um livro em que quase todas as suas receitas eram da minha avó. A partir daí, jurou que nunca mais daria as suas receitas a ninguém, para além da família directa. Depois disse - “Eu dou sempre o meu toque especial em cada receita. Isso não estava escrito no livro e é impossível de se roubar”. Esse toque dela eu herdei para os doces. A minha mãe também era muito boa cozinheira e fazia muitas receitas da minha avó, das quais o meu pai não prescindia. Lembro-me, ainda criança, de ter passado muitas tardes com ela na cozinha. Primeiro fazia com ela e à segunda vez eu já fazia sozinha. Uma ferramenta preciosa que me foi muito útil em várias fases da minha vida. (Sim, porque para além de ter sido “doceira” toda a vida, fui actriz saltimbanca durante mais de 20 anos, fui e sou terapeuta ayurvédica há mais de 10 anos e fiz nos entretantos um monte de outras coisas que vou contando a quem vou encontrando pelo caminho). Mais tarde interessei-me pela doçaria conventual, que como sabemos é feita à base de ovos. Tive por uns tempos uma casa de chá em que uma das especialidades da casa era um doce conventual do Alentejo. Tinha frequentado durante vários anos um colégio de freiras em que as alunas visitavam com alguma regularidade a cozinha do convento, para observarem e participarem na confecção de algumas iguarias, particularmente em épocas festivas e a Páscoa era a minha época favorita. Sempre adorei doces d’ovos. Os ovos são símbolos de fertilidade e da chegada de uma nova vida. E uma nova vida significa um novo amor. É isso que todos queremos no final deste pesadelo por que passamos. Uma nova vida, cheia de amor. Nasceram assim “Os Amores da Pureza”.