23/11/2025
SIC Notícias
Saúde e Bem-estar
Dos efeitos físicos aos psicológicos: massagem terapêutica pode ajudar adultos e até bebés
A massagem terapêutica tem vários benefícios tanto na saúde física quanto na saúde mental e pode até ajudar no desenvolvimento de bebés.
Marta Ferreira
Dos efeitos físicos aos psicológicos: massagem terapêutica pode ajudar adultos e até bebés
Para muitos, uma massagem pode ser um tratamento irrelevante do ponto de vista da saúde ou até apenas um luxo, mas a massagem terapêutica pode ser muito mais do que isso e há vários estudos que o comprovam.
A massagem é uma arte antiga. Em 400 a.C., já o "pai da Medicina" Hipócrates escrevia que um médico deveria ser experiente em muitas coisas, especialmente em massagem. De lá para cá, esta arte muito evoluiu e os efeitos positivos confirmam-se em vários quadrantes, do psicológico ao físico.
Há vários estudos, revistos por pares, que apontam para evidências de que a massagem possa ser útil para vários problemas no curto prazo. Exemplo disso é a dor lombar aguda, ou seja, a massagem terapêutica é eficaz no tratamento dos sintomas naquele momento, mas não no tratamento da dor lombar crónica. No caso da dor lombar crónica, a evidência de que trate o problema é fraca, segundo a Agência para Pesquisa e Qualidade em Saúde (AHRQ, na sigla em inglês), que, numa avaliação de 2016 sobre terapias não medicamentosas para dor lombar, examinou 20 estudos.
O mesmo acontece com as dores no pescoço e nos ombros, onde há evidência científica de que resultem apenas no curto prazo. Um estudo controlado randomizado de 2014, com uma amostra de 228 participantes com dor cervical crónica, constatou que massagens de 60 minutos, realizadas várias vezes por semana, eram mais eficazes do que sessões menos frequentes ou mais curtas.
Também pode ajudar doentes com osteoartrite que procurem alívio dos sintomas. Os resultados de alguns estudos sugerem que a massagem pode ter benefícios a curto prazo no alívio da dor no joelho, por exemplo.
No que diz respeito a dores de cabeça, por outro lado, a evidência é limitada uma vez que há poucos estudos que incidam sobre este problema.
Em doentes com fibromialgia, há estudos que sugerem que a massagem terapêutica pode ser útil. Uma meta-análise de 2014 com nove estudos - e um total de 404 participantes - concluiu que a massagem terapêutica continuada por, pelo menos, cinco semanas, melhorou a dor, a ansiedade e a depressão, embora não se tenha revelado eficaz nos distúrbios do sono.
Uma outra meta-análise de 2015, com 10 estudos (478 participantes), comparou os efeitos de diferentes tipos de massagem terapêutica e constatou que a maioria tinha efeitos benéficos na qualidade de vida de pacientes com esta doença. A massagem sueca é das poucas que não produziu benefícios, segundo dois destes 10 estudos.
Também no campo dos benefícios a nível da saúde mental, como a redução de ansiedade, depressão e qualidade de vida, estão as pessoas com HIV/SIDA, ainda que o número de estudos seja limitado. Uma análise de 2010 a quatro estudos, envolvendo um total de 178 participantes, concluiu que a massagem terapêutica pode ajudar a melhorar a qualidade de vida destas pessoas. Já em 2013, um ensaio clínico randomizado com 54 pessoas sugeriu que a massagem pode ser útil para a depressão e um de 2017 com 29 pessoas descobriu os efeitos positivos ao nível da ansiedade.
Efeitos positivos em doentes oncológicos
Mediante determinados cuidados, a massagem terapêutica pode ser benéfica para doentes oncológicos, ainda que a evidência de que possa aliviar a dor e a ansiedade não seja muito robusta.
As diretrizes de prática clínica emitidas em 2009 pela Sociedade de Oncologia Integrativa recomendam considerar a massoterapia, desde que realizada por um massoterapeuta com formação em oncologia, como parte de uma abordagem de tratamento para pacientes que apresentam ansiedade ou dor. Uma recomendação de 2017, com base em seis estudos, aponta que a massagem terapêutica possa melhorar o humor em sobreviventes de cancro de mama após o tratamento ativo.
Ainda de acordo com uma revisão da base de dados Cochrane (rede global independente de investigadores), de 2016, que analisou 19 pequenos estudos com 1.274 participantes, há evidência de que a massagem, com ou sem aromaterapia, possa ajudar a aliviar a dor e a ansiedade em pessoas com cancro. No entanto, é de salientar que esta evidência não é robusta e os resultados não foram consistentes. Outra revisão sistemática e meta-análise de 2016, com 16 estudos, concluiu que a terapia de massagem, em comparação com um tratamento ativo, para o tratamento da dor, fadiga e ansiedade tem pouco fundamento, ainda que possa ser um tratamento complementar.
Efeitos fisiológicos e psicológicos das massagens no desempenho desportivo
Um artigo publicado na Sport Mont, uma revista científica publicada pela Academia de Desportos de Montenegro, que avaliou mais de 30 estudos, concluiu que e a massagem terapêutica ajuda na recuperação muscular, no bem-estar fisiológico e psicológico e no aumento do desempenho atlético, ainda que não na sua plenitude
Ou seja, em muitos estudos a massagem proporcionou efeitos medíveis e positivos. Mas, quando comparada com outras intervenções (além da massagem terapêutica), os resultados são menos consistentes. Alguns estudos mostram benefício, outros não, não havendo evidência robusta de que seja sempre superior a todas as outras terapias.
Como tratamento isolado (“stand-alone”), a massagem apresentou benefício substancial em alguns estudos, mas em pelo menos um estudo não houve impacto significativo em cura muscular, desempenho, ou parâmetros fisiológicos/psicológicos.
Massagens têm efeitos positivos em bebés e prematuros
Segundo uma meta-análise que avaliou 23 estudos sobre o uso desta terapia em bebés internados, a massagem pode contribuir para o bom funcionamento gástrico, o desenvolvimento neurológico e cerebral, além de reduzir a duração do internamento e aliviar o stress associado em recém-nascidos prematuros hospitalizados.
"A maioria dos estudos relatou que a administração de diversas formas de massagem terapêutica exerceu efeito benéfico sobre fatores relacionados ao crescimento de bebés prematuros", indica a meta-análise.
Outros benefícios demonstrados da massagem terapêutica em prematuros hospitalizados "incluíram melhor neurodesenvolvimento, efeito positivo no desenvolvimento cerebral, redução do risco de sepsia neonatal, redução do tempo de internamento hospitalar e redução do stress neonatal".
Já numa outra meta-análise, que analisou 11 estudos, e incidiu sobre o potencial da massagem terapêutica com menos de nove meses, observou-se que "a massagem terapêutica pode aumentar efetivamente o crescimento e o desenvolvimento de bebés, incluindo peso corporal, comprimento, coordenação e integração visomotora, coordenação olho-mão, audição, fala, habilidades sociais, atividade vagal, linguagem, locomoção, postura estática e reflexos".
Mas há mais. A massagem terapêutica "apresenta efeito positivo em bebés com diversas condições, incluindo prematuros, bebés cujas mães são infetadas pelo HIV e bebés com síndrome de Down".
Uma equipa da Universidade de Warwick analisou ainda vários estudos sobre os benefícios da massagem, envolvendo no total cerca de 600 bebés com menos de seis meses. Concluiu-se que os bebés que receberam a massagem choravam menos, dormiam melhor e tinham níveis de cortisol (hormona do stress) mais baixos.