17/10/2025
“Não chores, tu tens de ser forte.”
Esta semana vi uma mãe dizer isto a um filho.
Talvez tenha tocado uma ferida antiga minha — aquela de quando, em criança, o choro era visto como fraqueza.
Mas hoje, como técnica, consigo ver o que há por detrás: a intenção amorosa de proteger, mas também a herança emocional que se transmite, sem querer.
Ontem a minha filha rachou a cabeça.
Enquanto a tratavam, ela não chorou.
Os técnicos ficaram surpreendidos:
> “Portou-se tão bem… é muito forte"
E pensei: não há aqui algo de semelhante?
Na infância, aprendemos cedo que ser forte é não chorar.
Mas o que é que isso nos ensina, de forma silenciosa?
Que sentir é sinal de fraqueza.
Que mostrar dor é “demais”.
Que para sermos amados, precisamos conter o que sentimos.
Com o tempo, vamos confundindo força com controlo.
Reprimimos o choro, engolimos a emoção — e, por dentro, ficamos mais rígidos.
Mas o corpo e o coração lembram-se sempre daquilo que foi contido.
A verdadeira força não é a ausência de lágrimas.
É o espaço que se abre para as acolher.
É permitir que o medo, a dor ou a tristeza passem por nós — sem nos destruírem, mas também sem os empurrarmos para longe.
Ser forte não é “aguentar sem chorar”.
É chorar e continuar inteiro.
É sentir e permanecer presente.
É ensinar às nossas crianças que sentir é seguro — e que a força nasce precisamente daí: da liberdade de sermos humanos, inteiros, sensíveis.