27/03/2025
Acabei de assistir à série Adolescência.
E não saio inteira dela.
Ela incomoda. Provoca.
Exige que a gente pare.
E eu parei.
Parei pra pensar nas cenas.
Parei pra sentir o mal-estar que ficou dentro.
O rosto da moça não aparece em nenhum momento — e isso não é à toa.
A história é contada a partir de outro lugar. Que tambem e o nosso lugar…
A partir do adolescente.
Da família.
Daquilo que não se disse, não se ouviu, não se viu.
É difícil de assistir.
Difícil porque fala das nossas sombras.
Fala de questões que a gente até toca, mas não encarna:
misoginia, violência, medo da rejeição…
Essa família poderia ser qualquer uma.
Classe média. Estruturada.
Casa de dois andares. Jantar à mesa.
Nada que justifique.
E, mesmo assim… aconteceu.
O pai.
A impotência.
A tentativa de fazer o certo.
A falha?
O buraco entre o que se tenta e o que de fato se consegue.
Não há mocinhos e bandidos claros.
Ou talvez até haja — mas não dá pra dizer quem é quem. Não numa simples tacada.
Porque talvez não seja sobre isso.
Talvez seja sobre o quanto estamos todos adoecidos.
Sobre uma lógica que nos escapa.
Essa geração dos nossos filhos já nasceu colada à lógica digital.
Nós somos migrantes disso.
Vivemos duas formas de estar no mundo.
E tentamos ensinar a eles uma lógica que já “não cabe”…
Adolescência mostra isso.
Sem gritar.
Mas também sem poupar.
Tenho um filho entrando na pré-adolescência.
E me pergunto:
Como vai crescer esse menino?
Como aceito que ele não será exatamente como eu espero?
A série me sacudiu.
Me tirou do lugar.
Me fez lembrar que a maternidade também é atravessada por impotência.
E que não basta amor — se não vier acompanhado de escuta, presença e humildade…
Voltei com vontade de olhar.
De novo.
Melhor.
Com menos certezas, talvez…
Obrigada, série.
Obrigada por não suavizarem.
Obrigada por nos colocarem diante do que também é nosso.