10/01/2024
Para reflectirmos …
Hoje, gostava de vos falar das queixas de maus-tratos verbais por adolescentes em relação aos seus pais.
Começa por ser inadmissível que haja filhos que, no calor duma fúria, digam aos pais que eles “não estão bons da cabeça”. Ou que, quando forem mais velhos, irão parar a um lar de idosos e que nunca mais terão visitas. E é, igualmente, grave que, a pretexto das “hormonas”, haja filhos que hostilizem os pais ou utilizem com eles uma linguagem obscena. E que os pais sintam “medo” de filhos adolescentes à medida que eles ficam maiores, mais agrestes e mais inacessíveis. E que, em consequência disso, “fechem os olhos” aos seus maus modos. À forma como eles “ditam as regras”. E ao jeito como se transformam em “enclaves com autonomia administrativa” em relação à arrumação, limpeza, horas de refeições e etc. E continua a ser grave que os pais se encolham diante das exigências e dos caprichos dos filhos, em relação aos quais fazem sacrifícios enormes enquanto se privam do essencial a que têm direito. E são graves todos os “eu é que sei!” com que, entre o impertinente e o insolente, “arrasam” os pontos de vista dos pais. E não deixa de ser, ainda, um bocadinho grave que, à boleia do inglês ou das novas tecnologias, os filhos desconsiderem a sabedoria dos pais, com a sua conivência envergonhada.
E, não, não estou a tentar dizer que todos os adolescentes sejam violentos com os pais. Estou, antes, a recordar que os pais - “só” porque os adoram - não podem fechar os olhos a certas respostas, ao tom de algumas delas ou a comportamentos dos filhos que os magoem. Porque uma dor que não se releva corre o risco de se transformar num sofrimento que se banaliza.
Muitas vezes, os filhos estão assustados. A cabeça deles ferve. Ou sentem a vida virada de pernas para o ar. Mas, à medida que não se educam em relação a estes comportamentos agressivos, os pais vão-nos sentindo um bocadinho menos seus filhos. E, de comportamento agressivo em comportamento agressivo, vão deixando que, silenciosamente, se vá no caminho da violência. Até se chegar ao “Eu já não tenho mão nele…”. Com tudo o que isso tem de trágico e de inadmissível.
(Veja o texto completo no Observador)