01/10/2025
Dia Internacional da Pessoa Idosa
Neste dia de sensibilização, recordo um artigo que publiquei no jornal Público sobre a violência exercida contra os idosos: https://www.publico.pt/2025/08/02/opiniao/opiniao/violencia-geriatrica-romper-silencio-2142442.
É urgente romper o silêncio e enfrentar sem hesitações estas situações intoleráveis. A dignidade das pessoas mais velhas nunca pode ser esquecida, muito menos desrespeitada.
"Violência geriátrica: romper o silêncio
Chegou o momento de colocar a violência geriátrica no centro do debate público e político, assumindo-a como uma prioridade nacional.
A violência contra idosos é uma emergência silenciosa, um drama invisível frequentemente esquecido ou ignorado pela sociedade e pelas políticas públicas. Enquanto a sociedade ganha consciência e mobiliza esforços contra várias formas de violência, como a doméstica, escolar, racial, de género, a violência geriátrica permanece ainda oculta e esquecida, sendo muitas vezes encarada com desconfortável indiferença. A realidade, contudo, é tão dura quanto alarmante.
Os dados recentes da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) são perturbadores: em 2023, registaram-se oficialmente 1671 casos de violência contra idosos no nosso país. Uma média que ultrapassa quatro denúncias por dia. Ainda mais inquietante é que estes números representam apenas a ponta de um icebergue gigantesco, dada a enorme subnotificação causada pelo medo, dependência emocional e estigma social que rodeiam este flagelo.
Do ponto de vista médico, a violência geriátrica traduz-se em múltiplas manifestações: agressões físicas, hospitalizações frequentes, abusos psicológicos, ansiedade, depressão profunda, isolamento social, quadros de subnutrição, complicações médicas severas e exploração financeira que limita drasticamente o acesso a recursos essenciais para a sua saúde e bem-estar.
Os profissionais de saúde estão frequentemente na linha da frente na identificação destas situações. Contudo, falta ainda formação adequada que permita reconhecer precocemente sinais subtis de abuso e negligência. Uma deteção precoce, seguida de uma intervenção imediata e articulada entre os profissionais da saúde, segurança pública e ação social, pode salvar vidas.
Por detrás da violência geriátrica esconde-se o idadismo, um preconceito enraizado que reduz as pessoas idosas à condição de frágeis, inúteis ou desprovidas de direitos plenos. Este preconceito, consciente ou inconscientemente, leva à banalização dos abusos sofridos pelos idosos, perpetuando um ciclo perverso de silêncio e sofrimento.
É urgente romper esta barreira do silêncio. A implementação de medidas concretas, como a criação de uma estrutura especializada para a prevenção e resposta à violência geriátrica e a obrigatoriedade da presença de médicos em lares e instituições, pode fazer uma diferença real. Paralelamente, apoiar cuidadores familiares e informais, frequentemente sobrecarregados física e emocionalmente, é essencial para prevenir situações de risco.
Mas esta não pode ser apenas uma responsabilidade institucional. Cada um de nós deve ser agente ativo desta mudança, através da denúncia de casos suspeitos e da sensibilização constante da comunidade. Os idosos devem ser valorizados não só pela sua experiência acumulada, mas como indivíduos ativos e autónomos, dignos de respeito absoluto.
Proteger os idosos não é apenas um imperativo ético, é um sinal de civilização e humanidade. Chegou o momento de colocar a violência geriátrica no centro do debate público e político, assumindo-a como uma prioridade nacional. A saúde física e emocional dos nossos idosos é responsabilidade de todos. Não podemos permitir que o silêncio seja cúmplice da violência. É hora de agir com coragem, compaixão e determinação.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico"