26/10/2025
E, depois, há os pensos rápidos. As aberturas fáceis. As máquinas de lavar, o micro-ondas e a Bimby. O velcro, claro. As mudanças automáticas, a condução assistida e os indicadores de parqueamento. O GPS (que nos dá, todos os dias, a ilusão de sermos só nós a introduzir as coordenadas do nosso destino). Os computadores. O delivery e o take away. O teletrabalho. O telemóvel (que tem câmara fotográfica, jornais, televisão, cinema, bibliotecas, terminais de pagamento, os recursos de um escritório, jogos e todo um comboio interminável de coisas, a caber dentro de um bolso). E há a inteligência artificial. E as “escadinhas” dos alertas, antes da chuva ou do frio nos assoberbarem, e que nos dão a ilusão de que a Natureza nunca nos apanha de surpresa. E tantas (mas tantas) coisas mais que - mesmo quando alguém, no meio duma tormenta, nos confidencia: “não está fácil!...” - a certa altura, quando se pára, é impossível não se sentir que a vida nos mima com facilidades. Ou (talvez mais isto) que a tecnologia tornou a vida mais fácil.
Ora - desculpem-me! - há muitas alturas em que, de forma denodada, andamos todos a trabalhar para a “publicidade enganosa”. Mas, desde quando, é que o parto sem dor faz da maternidade uma experiência fácil? E será que reparamos no trabalho, duro e dedicado, que um bebé tem que levar por diante para conseguir rodar sobre si, para se virar? E, por mais que nada disto seja fácil de aceitar pelos pais, será que crescer é fácil? E aprender: é fácil? E namorar? E amar? E ser feliz, por exemplo? E as pessoas: são fáceis, as pessoas? Começando por aquelas que nos amam?
Nada, na vida, é fácil! E não ser fácil não quer dizer, por inerência, que seja difícil. (Muitas vezes, sê-lo-á!) Quer dizer que não é fácil. Só isso! E não, não é a experiência que torna o que não é fácil e o difícil em coisas fáceis. É a inteligência com que reconhecemos uma dificuldade, a transformamos num problema e o resolvemos. Ao fácil chega-se com trabalho e com inteligência. E com pessoas!! Que nos ensinam que a vida se torna complexa e simples, de cada vez que a repensamos e repensamos e repensamos. Ao fácil chega-se muito mais depressa se não se “for” sozinho.