02/11/2025
Ninguém morre depois de morrer! E, não, isso não faz do mundo uma multidão de almas perdidas e penadas, mas de pessoas que, pela sua eternidade na nossa memória, vivem, para sempre, dentro de nós. Será, assim, a vida eterna.
É claro que as pessoas indispensáveis, “só” porque são indispensáveis a toda a hora, estão proibidas de morrer. Jamais estamos preparados para as perder. Talvez porque nunca se morra senão de morte súbita.
Jamais deixamos de sentir a sua perda como uma renúncia ao nosso amor por si. E como um abandono que nos rasga até à alma.
Jamais deixamos de viver o pavor de descobrir que não sabemos reagir à sua perda, com a qual morremos, também, aos bocadinhos.
E jamais, com ela, se desata um tufão de culpa que corrói, falando baixinho. Porque a sua morte traz a saudade de tudo o que não vivemos com elas: por desmazelo, por preguiça ou, simplesmente, porque supúnhamos que seriam tão eternas que nada do que não vivêssemos hoje chegaria a um tarde demais.
Jamais deixamos de sentir que há um antes e um depois da sua morte, como se, a partir do momento em que perdemos quem amamos, nunca mais voltássemos a ser crédulos ou ingénuos, alegres ou inocentes ou, mesmo, pequeninos.
Jamais, depois da sua perda, deixamos de nos sentir agredidos com todos os incentivos generosos com que nos acirram para a vida - com “força!”, “coragem!”, ou “tens de reagir”, e tudo o mais que dói - como se ninguém reparasse que aquilo que nos convoca para voltar a viver não deixasse de ser uma traição a quem se perde.
E jamais deixamos de perceber que, com a sua morte, “morrem”, uns atrás das outros, pedaços importantes das pessoas que imaginávamos saber quase tudo de nós. Unicamente porque parecem não perceber nada acerca da dimensão da nossa dor. E, seja o que for que nos digam, as palavras que nos sossegariam parecem morrer na sua boca, antes, ainda, de ser ditas.
Brincar com a morte e com o medo, no Halloween, ou celebrar aqueles que morreram, porque vivem em nós e nos iluminam (e são, de certa forma, todos os nossos “santos”), convida-nos para a vida. E para que nunca se aceitem perdas de tempo com ninguém. Que são uma forma de, aos poucos, ir-se morrendo antes de morrer.