03/06/2025
A franqueza no falar!
A palavra dá-nos a conhecer ao outro, porque é por ela que nos manifestamos. Mas nem sempre a usamos com sinceridade e verdade, nem sempre dizemos claramente ao outro aquilo que pretendemos. Esperamos que ele compreenda o que queremos e que responda sem que lhe tenhamos de dizer nada, como se tivesse um qualquer leitor de pensamentos. Acontece mesmo algumas vezes pagarmos para falar verdade, como quando vamos a uma consulta no médico, e, mesmo aí, não somos totalmente francos na crença ingénua que seremos compreendidos. E depois, quando do outro não obtemos o que queremos, obviamente que isso só pode ser por causa dele, nunca por nossa causa.
Acontece tantas vezes não dizermos claramente ao outro o que nos incomoda, preferindo, às vezes, fazê-lo sentir-se mal pelo nosso mau humor, pelo nosso silêncio, pelo nosso mal-estar, e, ao fazê-lo, criamos as condições do próximo conflito que, entretanto, aparece.
Suportamos coisas que não queremos porque temos medo de dizer a nossa verdade, com receio de perder o amor ou o apreço do outro, e acabamos encurralados, frustrados, decepcionados, zangados e, sem que nos apercebamos, tal atitude só ajuda a criar mal-estar nas nossas relações.
Não ousamos fazer pedidos claros porque julgamos que o outro nos pode achar exigentes, egoístas, difíceis ou tão só esquisitos, esquecendo algo tão básico como o direito básico de expressar os nossos desejos e fazer os nossos pedidos como o outro tem todo o direito de lhes responder sim ou não.
Não ousamos dizer o que pensamos com medo de ir contra a corrente e de ser mal interpretados e sermos acusados de não sabermos o que dizemos. A ousadia, ou melhor a afirmação de si mesmo, cede lugar ao conformismo e tecemos uma realidade de forma a não sermos rejeitados ou julgados, mas que, no fundo, não corresponde à nossa verdade.
Quando não ousamos dizer “não” para não ofuscar ou melindrar o outro é todo o nosso ser, nosso corpo e nossa alma, que perde energia. Quando procuramos a todo o custo manter a nossa imagem nos padrões dos outros, o que estamos a fazer é a exercer uma violência sobre nós próprios.
Quando o outro faz qualquer coisa que nos desagrada e que merece um reparo e preferimos antes desvalorizar o seu gesto ou atitude do que lhe dizer clara e calmamente o que nos magoou, não estamos a proteger a harmonia da relação, mas antes a introduzir o veneno que a consumirá aos poucos.
Porque é que às vezes é tão difícil ser-se claro nas palavras?
A nossa educação, os nossos pais, os costumes da sociedade, a religião onde fomos educados, as nossas experiências de vida, o nosso carácter, são as variáveis que estão na origem da construção da nossa personalidade, da confiança que temos ou não em nós próprios e na vida, na forma responsável, integra e assertiva com que nos relacionamos com os outros. E, também, das dificuldades que experimentamos a sermos coerentes, íntegros e assertivos.
Libertarmo-nos de tudo que bloqueia a nossa autenticidade passa pelo reconhecimento dos nossos bloqueios e pela sua transformação em etapas de despojamento e de aprendizagem para vivermos mais livremente, mais levemente e, sobretudo, mais verdadeiramente. A franqueza no falar não nos deve envergonhar, pois é por aí que o nosso coração se manifesta. Aprender a dizer presente, a fazer pedidos claros, a mantermo-nos em pé, a ousar ser si próprio, na calma, no respeito, na integridade e na verdade, talvez que isso seja o início da nossa sabedoria e a base da harmonia das nossas relações. E sim, com consciência, esperança e amor é possível melhorarmos todos os dias: mais confiantes, mais seguros, em harmonia com os outros e, principalmente, connosco mesmos.
Bom dia a todos!
P.S.: PARTILHE para que outros possam beneficiar destas palavras!