19/09/2022
Acho que já sabem que não acho a maior das graças a esta tendência do momento de se chamar ao jardim de infância… “escolinha”. Porque, por mais que não pareça, é uma escola a sério. Que traz imensas coisas boas ao crescimento. Tão boas e tão fundamentais que “escolinha” corre o risco de lhe dar o tom de um certo “faz de conta que é uma escola”. E isso não tem graça.
Mas o que mais me preocupa é que persista a ideia que as crianças mais pequeninas, ao chegarem ao jardim de infância, “tenham” de fazer “boas adaptações”. Não só não têm como não fazem. É saudável, aliás, que não façam! Como é que se pode esperar que - habituadas a ter os pais, os irmãos e os avós só para elas, com toda a gente sintonizada com os seus ritmos e com a sua forma de estar - as crianças vivam com descontração isso de estarem ao cuidado de duas “estranhas” que repartem as suas atenções com uma mão cheia de outras crianças? Como não hão-de elas de chorar de medo, tristonhas, sem entenderem muito bem porque é que os pais as terão “abandonado” ali? Como não hão-de ficar muito encolhidindhas, num cantinho, agarradas a um qualquer pequeno boneco que tenham trazido de casa, como se ele representasse o melhor da mãe e do pai? Porque é que, por mais que haja mães e pais muito frágeis, se convencionou que “arrancar” as crianças do colo dos pais facilita a vida a alguém? Porque é que se diz, invariavelmente, que, depois da mãe virar costas, “ele ficou logo bem” ou “deixou de chorar”?
As crianças, se todos formos pacientes, hão-de perder o medo! E vão chegar, até, a um momento em que serão capazes de fazer um lapso de linguagem e chamar mãe à sua educadora. Mas dêem-lhes tempo, por favor. Para perceberem “as regras do jogo”. Para ganharem o seu espaço. Para poderem compreender o privilégio de estarem com outras crianças. E de terem alguém super-especial para elas que sabe contar histórias, desenhar e brincar, fazer cozinhas de terra e ir, de galochas, saltitar nas poças de água. Aquilo que primeiro se aprende no jardim de infância é a dar tempo ao tempo. Depois, que uma educadora é alguém que parece ter chegado ontem, mesmo, da infância. O resto, vem a seguir.