20/06/2025
Num tempo em que tantas pessoas procuram respostas em diferentes lugares, é importante parar e refletir sobre o que realmente se procura e onde se está a depositar a própria intimidade. Há uma diferença fundamental entre espaços regulados e espaços não regulados, e essa diferença não é meramente técnica: é ética, emocional e profundamente humana.
O psicólogo é um profissional que está vinculado a um código deontológico, ou seja, a um conjunto de princípios éticos e legais que orientam a sua prática. Um dos pilares desse código é a confidencialidade. Tudo aquilo que é dito numa consulta psicológica permanece dentro daquele espaço seguro. Não é comentado, não é partilhado, não é usado como matéria de entretenimento. É protegido com responsabilidade e com rigor. Esta confidencialidade não é um favor que o psicólogo faz ao cliente; é uma obrigação ética e legal, que tem como objectivo criar um espaço verdadeiramente seguro onde a pessoa possa ser quem é, sem medo, sem máscaras e sem juízos.
Quando se recorre a outras práticas, por vezes místicas ou espirituais, que não estão sujeitas a qualquer regulamentação, é importante perguntar:
quem garante que aquilo que partilho será mantido em sigilo?
Quem me protege de uma eventual exposição, interpretação abusiva ou julgamento?
Muitas dessas práticas podem ter boas intenções, mas a ausência de um quadro ético formal deixa a pessoa vulnerável. Não há garantias, não há supervisão, não há dever de reserva.
Quem anda “em todas as áreas” muitas vezes fá-lo porque carrega uma dor, uma inquietação ou uma sede de sentido. E isso é legítimo. Procurar é humano. Mas há que ter cuidado com os atalhos que apenas adormecem a dor, ou que oferecem soluções rápidas sem um verdadeiro trabalho de autoconhecimento e transformação. A psicologia não promete curas milagrosas. Não diz o que queremos ouvir, diz o que precisamos de compreender. E fá-lo com base na escuta, na ciência, na empatia, na ética e na mensuração psicológica.
Por isso, confiar num psicólogo é confiar num processo. É aceitar que o que dói precisa de tempo, de contenção e de presença para ser transformado. E isso é de um valor incomensurável. Num mundo onde tudo parece descartável e imediato, a relação terapêutica é um lugar raro: um espaço onde a tua história é respeitada, onde as tuas palavras são sagradas e onde o teu silêncio também tem lugar.
Se estás à procura de sentido, de cura ou de compreensão, talvez valha a pena escolher um lugar onde sejas verdadeiramente escutado, não apenas ouvido. Um lugar onde a tua dor não seja uma curiosidade, mas um sinal de humanidade. E onde aquilo que confias seja, de facto, reservado.