23/06/2025
Quase todos nós vivemos em ecrãs, lemos menos, estamos viciados em likes, mas se temos filhos, ou mesmo não os tendo, muitas vezes dizemos que os nossos filhos adolescentes ou os adolescentes de hoje têm tudo, com uma carga negativa no pensamento, e depois questionamos que adultos serão estes, como será o mundo das futuras gerações?
Sou mãe de “dois adolescentes”, novinhos… e já fui adolescente, quase me esqueci, mas agora lembro-me bem…, e na minha opinião:
Atualmente colocamos os nossos filhos debaixo de pressões enormes, num mundo muito complexo.
Decidimos ter menos filhos, para lhes poder dar todas as condições, colocamo-los em milhentas atividades, umas boas para desenvolver a parte física, outras para aumento das capacidades intelectuais, definimos montes de objetivos… tudo para uma vida que sabemos que é sempre pouca para viver cada fase devidamente!
Nem todos nós compreendemos (e devíamos porque já o sentimos lá atrás) que estamos sempre a ser contraditórios, ora lhes falamos por exemplo da crise económica, das guerras, dos valores exorbitantes das casas, ou seja, enquadramo-los num mundo com um futuro nada promissor, ora lhes dizemos para acreditarem num futuro maravilhoso.
Estamos muitas vezes desconfiados e muitas vezes não vemos a sua lealdade e sensatez, muitas vezes repreendemo-los por comportamentos e atitudes que a escola nos diz que eles têm, sem observarmos a gratidão e a amizade que desenvolvem com alguns professores, que a merecem.
Muitas vezes achamos incorreto que passem a refeição, por exemplo num restaurante, agarrados ao telemóvel e com os fones nos ouvidos, mas também não conseguimos exercer a nossa autoridade, de modo claro e por vezes deixamo-los dominar. Muitas vezes deixando-os em autogestão.
Muitas vezes fazemos preparação para o parto e nascimento dos nossos filhos, mas depois não nos preparamos para o seu crescimento e os desafios que vêm com ele.
Temos que ser capazes de dizer sim ao que sentem, tentar compreendê-los, e poder dizer “não”!
Temos muitas vezes que não nos escolher a nós, não podemos cair no pensamento que é a tratar mal que nos respeitam, ou que se formos respeitadores e bons vamos facilitar.
Quando dizemos aquilo que estamos a sentir da forma que estamos a sentir, tornamo-nos mais pais, ou mais filhos.
Não podemos desistir dos nossos filhos, temos que lhes demonstrar o que sentimos, o que pensamos, as nossas opiniões, mesmo que não gostem. Mas, também temos que os deixar “pôr tudo cá para fora” e respeitar, e por vezes até questionarmos se o que achamos é mesmo o correto e, portanto, questionarmo-nos a nós próprios.
Devíamos deixar os nossos fantasmas da adolescência e não projetar neles o que fomos, queríamos ser, não conseguimos ser… estamos a dar-lhes um peso terrível!
Muitos filhos amam de tal modo os pais que vão para esta ou aquela área profissional porque é uma enorme alegria para os pais, mas e o custo disto para eles?
Temos por vezes uma relação invejosa, porque eles sentem um amor pela vida e uma pressa de viver, que nos incomoda, porque muitas vezes já não conseguimos amar desse modo! Até nos seus namoricos, muitas vezes banalizamos, por serem fugazes, e deixamos de ver o quão sérios e marcantes podem ser.
Acho até, que para melhor vivermos todos, devíamos ter uns episódios de vida de adolescentes de vez em quando e nunca deixarmos de os ter, porque só assim somos capazes de manter o entusiasmo de uma paixão, em simultâneo com um amor adulto.
Errar é aprender, isto quase todos dizemos, mas depois achamos sempre que estamos certos à primeira.
Por vezes esquecemo-nos, não só com os nossos filhos adolescentes, mas com todos os que os rodeiam, de os olhar, de os olhar no diálogo, porque desse modo podemos ler o outro e deixamos que o outro nos leia a nós!
Enviamos grandes mensagens, fazemos grandes declarações de amor pelos nossos filhos nas redes sociais e ficamos orgulhosos quando nos fazem o mesmo (afinal vários viram e fizeram um like), mas depois deixamos de fazer algo essencial: não respiramos para cima deles, nem lhes pedimos que respirem para cima de nós, num abraço, por exemplo.
Somos desmazelados e achamos que teremos toda uma vida para os abraçar e lhes pedirmos abraços e muitas vezes acabamos por nunca o fazer.
Temos que nos declarar a eles e assim eles também se declararão a nós, em presença, cara a cara, com palavras, porque sim temos filhos adolescentes com uma sensibilidade notável, mas muitas vezes incapazes de a transmitir e isso pode adoecê-los!