19/10/2025
LÁ FORA CÁ DENTRO
“Em 2011, Diane Keaton publicou Then Again, o seu primeiro livro de memórias. O livro é belo por várias razões, sendo uma delas o facto de funcionar como uma espécie de conversa com a sua mãe, cujo triunfo no concurso de beleza Mrs. Los Angeles, quando Keaton era ainda criança, serviu de impulso para que esta subisse ao palco pela primeira vez. Ao incluir excertos dos diários, álbuns de recortes e colagens de Dorothy, Then Again ofereceu a Keaton um véu atrás do qual se pôde resguardar enquanto falava de si própria; a parte mais dolorosa do livro tem a ver com o seu corpo, e a luta contra a bulimia.
Keaton desenvolveu bulimia enquanto participava na peça Hair — foi-lhe dito que seria melhor remunerada se emagrecesse — e o problema prolongou-se durante anos, até que conseguiu vencê-lo com a ajuda da psicanálise (a chamada cura pela palavra, onde talvez, pela primeira vez, Keaton se tenha envolvido num diálogo fora de um guião). Nesse capítulo das memórias, tudo aquilo que sentimos e com que nos identificamos nas interpretações de Keaton — as nuvens que por vezes toldam o sol, a bondade que não consegue encarar-se a si própria — irrompe com força, cru e verdadeiro; é uma conquista devastadora, e uma das melhores coisas que alguma vez li sobre o vício.”
Hilton Als, 13 de Outubro de 2025, “Diane Keaton’s Shadows and Light, The actress’s nuanced ambivalence”, The New Yorker.
Imagem: Diane Keaton no papel de Sonja, na sátira de Woody Allen à literatura russa, com uma referência a Ingmar Bergman; “O Amor e a Morte”, 1975.