07/09/2025
Toda a minha pré adolescência e adolescência foi passada no Bairro Alto.
Vivi na Travessa das Mercês, estudei na escola Fernão Lopes, no Conservatório Nacional e no Liceu Passos Manuel.
Vivi as manhãs, as tardes e as noites do Bairro Alto.
Do Jardim de São Pedro de Alcântara até à Baixa ia sempre no elevador da Glória e regressava, metendo conversa com quem seguia para o trabalho ou para uma visita ao centro do coração de lisboa.
Lembro-me que quando fui estudar para Londres, mostrava fotografias do Elevador da Glória, orgulhosa, aos meus colegas de outras nacionalidades que frequentavam a escola de teatro. Era umas das fotografias que tinha escolhido para destacar a beleza e a originalidade da minha cidade.
Estava cansado. Tinha 140 anos e nunca trabalhou tanto como nos últimos tempos em que Lisboa está inundada de turistas. Quando nasceu, nunca se pensou que iria fazer tantas subidas e descidas e com gente a mais para a sua estrutura.
Independentemente das responsabilidades, a tragédia de um só dia ficará na História e apaga mais de cem anos de uma História de uma beleza imensa.
As milhares de vidas que o elevador transportou, deixam de contar, perante as mortes que o seu descarrilamento provocou.
É demasiado triste. Andamos mesmo desfocados do essencial.
Os meus sentimentos às famílias das vítimas e o desejo de melhoras às pessoas que se encontram nos hospitais.