Estilo de vida saudável

Estilo de vida saudável Cuidamos da nossa saúde física e psicológica

— Não pode ser, Leonor! Olha bem para eles! — A voz do meu sogro, António, ecoou pela cozinha, carregada de incredulidad...
14/12/2025

— Não pode ser, Leonor! Olha bem para eles! — A voz do meu sogro, António, ecoou pela cozinha, carregada de incredulidade e raiva. Eu estava sentada à mesa, com os meus gémeos recém-nascidos nos braços, sentindo o suor frio escorrer-me pelas costas. Tomás dormia tranquilo, com a pele clara como a do pai. Diogo, por outro lado, tinha a pele morena, quase a lembrar o tom de azeitona madura. O silêncio da minha sogra era ensurdecedor.

O meu marido, Miguel, olhava para mim como se não me conhecesse. — Leonor… explica-me. Como é possível? — A sua voz tremia, entre o medo e a vergonha.

Naquele momento, tudo o que eu queria era desaparecer. Mas não podia. Tinha de proteger os meus filhos.

A notícia espalhou-se pela aldeia de São Martinho mais depressa do que um incêndio no verão. As vizinhas cochichavam à porta do minimercado da Dona Graça. — Dizem que um dos gémeos não é do Miguel… — ouvi uma delas sussurrar enquanto passava com o carrinho de bebé. Senti os olhares cravados em mim como facas.

A minha mãe foi a primeira a ligar-me. — Leonor, filha, diz-me que não é verdade… — A voz dela soava cansada, como se cada palavra lhe custasse anos de vida. — Mãe, por favor… são os meus filhos. São irmãos, nasceram do mesmo ventre! — respondi, mas nem eu acreditava na força da minha voz.

As semanas seguintes foram um inferno. Miguel afastou-se de mim, dormia no sofá e evitava olhar-me nos olhos. Os meus sogros exigiram um teste de paternidade. Eu sentia-me sozinha, encurralada entre quatro paredes que já não eram lar.

Numa noite chuvosa, sentei-me no chão do quarto dos bebés e chorei até não ter mais lágrimas. Ouvia os gémeos respirar suavemente nos berços e perguntava-me: "Como é possível amar tanto alguém e ao mesmo tempo sentir tanto medo por eles?"

O teste foi feito em segredo. Miguel levou uma amostra de saliva dos meninos ao hospital de Coimbra sem me dizer nada. Quando chegou o resultado, ele entrou em casa com um envelope nas mãos e os olhos vermelhos de tanto chorar.

— São ambos meus filhos — disse ele, quase num sussurro. — O médico explicou… é raro, mas pode acontecer…

Eu abracei-o com força, mas sabia que a batalha estava longe de terminar. A aldeia não queria saber de explicações científicas. Para eles, Diogo era diferente demais para ser "um dos nossos".

O preconceito tornou-se mais subtil mas mais doloroso. No batizado dos gémeos, metade da família do Miguel não apareceu. A minha sogra recusou-se a pegar no Diogo ao colo, dizendo que "não se sentia confortável". O padre hesitou antes de abençoar os meninos.

Certa tarde, encontrei a minha filha mais velha, Matilde, a chorar no quintal. — Mãe, na escola dizem que o Diogo é adotado… que tu traíste o pai… — O meu coração partiu-se em mil pedaços.

Sentei-me ao lado dela e tentei explicar-lhe o que nem eu compreendia totalmente. — Às vezes as pessoas têm medo do que é diferente, filha. Mas nós sabemos a verdade e só isso importa.

Os meses passaram e fui aprendendo a erguer muralhas invisíveis à volta dos meus filhos. Recusei-me a esconder o Diogo ou a tratá-lo de forma diferente do Tomás. Insisti para que ambos frequentassem as mesmas atividades, fossem às mesmas festas, usassem as mesmas roupas.

📜 Ainda tem mais… e está imperdível. Veja nos comentários👇

— Mãe, hoje também não há jantar? — ouvi a voz trémula da Mariana, do outro lado da parede fina que separava o nosso apa...
14/12/2025

— Mãe, hoje também não há jantar? — ouvi a voz trémula da Mariana, do outro lado da parede fina que separava o nosso apartamento do delas. O silêncio que se seguiu foi mais pesado do que qualquer resposta. Eu, com oito anos, sentado à mesa da cozinha, olhei para o prato de arroz com feijão que a minha mãe me servira. O cheiro era simples, mas naquele momento pareceu-me um luxo.

A minha mãe percebeu o meu olhar e, sem dizer nada, partiu metade do seu pão e colocou-o no meu prato. — Come, Miguel. Amanhã levas um pouco para a Mariana, sim? — sussurrou, como se tivesse medo que alguém ouvisse. O nosso bairro em Chelas era feito de silêncios cúmplices e olhares desviados. Todos sabíamos das dificuldades uns dos outros, mas raramente falávamos delas.

Dona Lurdes era uma mulher magra, de rosto cansado e mãos sempre ocupadas com alguma tarefa invisível. O marido, o senhor António, passava os dias no café da esquina, afogado em copos de vinho barato e discussões inúteis sobre futebol. Mariana, com os seus cabelos desgrenhados e olhos enormes, era a sombra de uma criança que nunca conheceu a leveza da infância.

Lembro-me de uma noite em particular. Chovia tanto que as gotas pareciam tamborilar dentro do nosso próprio peito. Ouvi gritos abafados vindos do apartamento ao lado. — Não temos nada! Nem pão, nem leite! — chorava Dona Lurdes. O senhor António respondeu-lhe com um estrondo de porta e passos pesados pelas escadas abaixo. Fiquei imóvel na cama, o coração aos pulos.

No dia seguinte, encontrei Mariana no corredor da escola. Trazia o mesmo casaco puído do inverno anterior e um olhar perdido. — O teu pai está melhor? — perguntei, sem saber bem o que dizer.

Ela encolheu os ombros. — Ele não gosta de mim. Diz que sou um peso. — A voz dela era tão baixa que quase não a ouvi.

Quis abraçá-la, mas não tive coragem. Em vez disso, tirei do bolso um pedaço de pão com marmelada que a minha mãe me dera para ela. Mariana sorriu, um sorriso pequeno e triste.

Os anos passaram e as coisas só pioraram. O senhor António perdeu o emprego na fábrica e começou a passar mais tempo no café. Dona Lurdes arranjava limpezas aqui e ali, mas o dinheiro nunca chegava. Muitas vezes via Mariana à janela, olhando para a rua como se esperasse que algo mudasse.

Uma tarde de verão, ouvi uma discussão ainda mais violenta do que o habitual. Ouvia-se vidro a partir-se e choros sufocados. A minha mãe foi bater à porta deles. — Precisas de ajuda? — perguntou baixinho.

Dona Lurdes apareceu à porta com o rosto inchado e os olhos vermelhos. — Não quero incomodar… já chega de vergonha nesta casa.

— Não é vergonha pedir ajuda — insistiu a minha mãe.

Mas Dona Lurdes fechou a porta devagar, como quem fecha uma esperança.

Na escola, Mariana tornou-se cada vez mais calada. Os professores notavam as faltas frequentes e as notas a descerem, mas ninguém fazia perguntas diretas. Um dia, encontrei-a sentada sozinha no recreio, a desenhar círculos na terra com um pau.

— Gostavas de fugir daqui? — perguntei-lhe num impulso.

Ela olhou-me nos olhos pela primeira vez em semanas. — Para onde? Se calhar noutro sítio também não há nada para mim.

Fiquei sem resposta.

📖 Quer saber como termina? Está tudo nos comentários 👇

— Marta, tu não podes continuar assim! — gritei, sem conseguir conter a frustração, enquanto ela, sentada no sofá com o ...
14/12/2025

— Marta, tu não podes continuar assim! — gritei, sem conseguir conter a frustração, enquanto ela, sentada no sofá com o cabelo desgrenhado e o pijama manchado de leite, olhava para mim com olhos cansados e vazios. O pequeno Tomás chorava no berço improvisado na sala, e o cheiro a fraldas sujas misturava-se com o aroma do café frio que repousava na mesa.

Nunca pensei que a nossa amizade chegasse a este ponto. Eu, Inês, sempre fui aquela amiga que estava lá para tudo: as festas na faculdade, as noites de estudo, os desabafos sobre amores perdidos. E Marta… Marta era a alma da festa, a rapariga que todos invejavam pela beleza natural, pelo sorriso fácil e pela energia contagiante. Mas agora, à minha frente, estava uma sombra do que ela fora.

— Não percebes, Inês… — murmurou ela, tentando acalmar o Tomás com um embalo desajeitado. — Eu não tenho tempo para mim. Não tenho tempo para nada. — A voz dela soava rouca, quase apagada.

Senti um nó na garganta. Tantas vezes imaginei que seríamos mães ao mesmo tempo, que os nossos filhos cresceriam juntos. Mas eu ainda não tinha filhos, e Marta parecia ter desaparecido dentro do papel de mãe. O marido dela, o Rui, passava horas no trabalho e quando chegava a casa limitava-se a jantar em silêncio e a ver televisão. A sogra vinha de vez em quando, mas só para criticar: “O menino está muito magro”, “A casa está uma desgraça”, “Antigamente as mulheres davam conta do recado”.

Eu tentava ajudar. Levava comida feita, oferecia-me para passear o Tomás para ela tomar banho ou dormir uma sesta. Mas Marta recusava quase sempre.

— Não quero que vejas a minha casa assim… Não quero que penses mal de mim…

— Marta, somos amigas desde os cinco anos! Achas mesmo que me importo com a desarrumação? Importo-me contigo! — tentei argumentar.

Mas ela afastava-se cada vez mais. As mensagens ficaram por responder, os convites para sair foram recusados um a um. As nossas idas ao cinema, os jantares de sushi, até as caminhadas à beira-rio ao domingo… tudo ficou para trás.

Comecei a sentir-me rejeitada. No trabalho, os colegas falavam das suas vidas agitadas e eu sentia-me cada vez mais sozinha. A minha mãe dizia: “Dá-lhe tempo. A maternidade muda tudo.” Mas será que muda assim tanto? Será que apaga quem somos?

Um dia, decidi aparecer sem avisar. Levei flores e um bolo de chocolate caseiro. Toquei à campainha e ouvi passos arrastados do outro lado da porta.

— Inês? O que fazes aqui? — perguntou Marta, surpresa e visivelmente desconfortável.

— Vim ver-te. Senti saudades… — tentei sorrir.

Ela hesitou antes de me deixar entrar. A casa estava ainda mais caótica do que da última vez: brinquedos espalhados pelo chão, loiça acumulada na pia, roupa por dobrar em cima do sofá.

— Desculpa… — murmurou ela, envergonhada.

— Não peças desculpa. Senta-te comigo um bocadinho — pedi.

Sentámo-nos lado a lado no tapete da sala. O Tomás dormia finalmente. O silêncio era pesado.

— Sinto falta de ti — confessei.

Ela começou a chorar baixinho.

— Eu também sinto falta de mim…

Ficámos ali abraçadas durante minutos que pareceram horas. Pela primeira vez em meses, senti que a minha amiga ainda estava lá algures, perdida dentro daquela rotina sufocante.

Continuação no primeiro comentário 👇

— Mãe, não quero discutir mais. Já está feito. — A voz do Pedro ecoou fria pelo telefone, como se cada palavra fosse uma...
14/12/2025

— Mãe, não quero discutir mais. Já está feito. — A voz do Pedro ecoou fria pelo telefone, como se cada palavra fosse uma pedra atirada ao fundo de um poço. Senti o chão fugir-me dos pés. O meu Pedro, o meu menino, acabara de me dizer que se casou em França, há duas semanas, e que não me contou porque "não queria complicações".

Fiquei ali, sentada à mesa da cozinha, a olhar para a chávena de café já fria. Oiço ainda o tic-tac do relógio antigo da sala, como se cada segundo me lembrasse do tempo perdido, do tempo roubado. O António, meu marido, entrou e percebeu logo que algo estava errado. "O que foi agora?", perguntou, já cansado das minhas preocupações maternais. Não consegui responder. Só lhe entreguei o telemóvel, com a mensagem do Pedro aberta: "Mãe, casei-me. Não te zangues."

Lembro-me de quando o Pedro era pequeno e vinha para a minha cama a meio da noite, com medo dos trovões. Sempre lhe disse que a mãe estava ali para tudo. Sempre achei que entre nós não haveria segredos. Mas agora… agora ele tinha construído uma vida nova sem mim. Sem nós.

Naquela noite não dormi. O António ressonava ao meu lado, indiferente ao furacão que me devastava por dentro. A minha cabeça rodava em círculos: onde é que falhei? Porque é que ele não quis partilhar este momento connosco? Será que a culpa foi minha? Será que fui demasiado controladora? Ou talvez demasiado presente?

No dia seguinte, liguei à minha irmã, a Teresa. Ela ouviu-me em silêncio e depois disse: "Sabes como são os rapazes hoje em dia… querem liberdade, querem distância." Mas eu não queria distância. Queria o meu filho de volta.

Os dias passaram arrastados. O António tentava relativizar: "Deixa lá isso, mulher. Ele está feliz, é o que importa." Mas eu sentia-me traída. Não era só o casamento — era tudo o que ele tinha escondido: a relação com a Inês (que só conheci por fotos no Facebook), os planos de ir viver para Lyon, os sonhos que nunca partilhou comigo.

Comecei a evitar as vizinhas. A D. Rosa perguntou-me na mercearia: "Então, o Pedro já casou?" Senti um nó na garganta. "Ainda não…", menti, com um sorriso amarelo. Senti-me pequena, humilhada. Sempre fui aquela mãe orgulhosa do filho engenheiro, agora era a mãe deixada para trás.

As noites tornaram-se longas e frias. O António continuava a sua rotina — futebol à terça-feira, cartas ao sábado — como se nada tivesse mudado. Mas eu sentia um vazio impossível de preencher. Comecei a escrever cartas ao Pedro que nunca enviei:

"Meu filho,

Não imaginas a dor que sinto por não teres partilhado este momento comigo. Sempre sonhei ver-te no altar, apertar-te a mão antes de entrares na igreja, chorar de alegria ao ver-te feliz. Agora só choro de tristeza…"

Um dia, decidi ligar-lhe outra vez. O telefone tocou quatro vezes antes de atender.

— Mãe…

— Pedro, preciso de te ver. Preciso de perceber.

— Não sei se é boa ideia…

— Por favor.

Marcámos um encontro numa pastelaria perto da estação de comboios. Cheguei cedo demais e pedi um galão só para ter algo nas mãos. Quando ele entrou, reparei como estava diferente: mais magro, barba por fazer, olhar cansado.

— Olá mãe.

— Olá Pedro.

O silêncio entre nós era pesado como chumbo.

— Porque é que não nos disseste nada? — perguntei finalmente.

Ele suspirou.

— Mãe… eu sabia que ias fazer um drama. Que ias querer controlar tudo: o vestido dela, os convidados, as músicas… Eu só queria paz.

— Paz? Achas que isto é paz? Achas justo deixares-nos assim?

— Não queria magoar-te.

— Mas magoaste! Como nunca antes!

Ele baixou os olhos e mexeu no café.

— Eu amo-te mãe… mas preciso de viver à minha maneira.

As palavras ficaram ali no ar, entre nós dois, como uma barreira invisível.

Voltei para casa pior do que fui. O António ouviu-me desabafar e limitou-se a encolher os ombros: "Deixa-o viver." Mas como é que se deixa ir um filho assim?

Os meses passaram e o Natal aproximava-se. Sempre foi a minha época favorita — a casa cheia de primos e tias, o cheiro do bacalhau com natas no forno, as risadas à volta da mesa. Mas naquele ano faltava uma peça fundamental: o Pedro.

💬 Essa história ainda não acabou. Leia o resto abaixo 👇

— Mãe, porque é que nunca me disseste nada? — gritei, a voz embargada, enquanto as lágrimas me escorriam pelo rosto. O t...
14/12/2025

— Mãe, porque é que nunca me disseste nada? — gritei, a voz embargada, enquanto as lágrimas me escorriam pelo rosto. O telefone tremia nas minhas mãos, e do outro lado, a minha mãe, Maria, suspirava fundo, como se cada palavra fosse um peso impossível de carregar.

— Helena, filha… Não era altura. Não sabias lidar com isso. — A voz dela soava distante, quase como se falasse de outro mundo.

Naquele momento, o tempo parou. Eu estava sentada na cozinha do meu pequeno apartamento em Almada, rodeada pelo cheiro a café frio e pão torrado. O sol entrava pela janela, mas tudo parecia cinzento. Aquela manhã tinha começado como tantas outras: o despertador tocou às sete, tomei banho, preparei o pequeno-almoço para mim e para o meu filho Tomás, de oito anos. Mas bastou um telefonema para tudo mudar.

O número era desconhecido. Atendi sem pensar muito.

— Bom dia, fala da Junta de Freguesia. É a senhora Helena Silva? — perguntou uma voz formal.

— Sim, sou eu.

— Temos aqui uma situação… É sobre o senhor António Silva. — O nome do meu pai ecoou na minha cabeça como um trovão. — Ele foi encontrado desorientado no parque da cidade. Não conseguimos contactar mais ninguém da família.

O meu coração disparou. O meu pai tinha desaparecido da minha vida há mais de vinte anos. Cresci a ouvir a minha mãe dizer que ele nos tinha abandonado, que não valia a pena falar dele. Nunca me atrevi a perguntar mais.

Desliguei o telefone e fiquei ali sentada, paralisada. Tomás entrou na cozinha com o pijama dos super-heróis.

— Mãe, porque estás a chorar?

Abracei-o com força, sem saber o que dizer. Como explicar a uma criança que a família é feita de buracos negros e silêncios?

No final do dia, depois de deixar Tomás com a minha vizinha Dona Rosa, fui ao hospital onde o meu pai estava internado. Entrei no quarto devagar, como se pisasse terreno sagrado. Ele estava sentado na cama, olhar perdido na janela.

— Pai? — A palavra saiu-me hesitante, quase desconhecida.

Ele virou-se devagar. Os olhos eram os mesmos que eu via ao espelho todos os dias: castanhos escuros, profundos, cansados.

— Helena? — murmurou ele, como se não acreditasse.

Sentei-me ao lado dele e ficámos em silêncio durante longos minutos. Não sabia por onde começar. Afinal, o que se diz a um pai ausente durante vinte anos?

— Porque foste embora? — perguntei finalmente, a voz trémula.

Ele baixou os olhos.

— A tua mãe nunca te contou…

— Contou-me que fugiste. Que não querias saber de nós.

Ele abanou a cabeça, lágrimas a brilhar-lhe nos olhos.

— Não foi assim… Eu fui obrigado a sair. O teu avô ameaçou-me. Disse que se não desaparecesse, faria mal à tua mãe… e a ti.

Senti o chão fugir-me dos pés. O meu avô sempre fora um homem duro, mas nunca imaginei isto.

— E nunca tentaste voltar? — sussurrei.

— Tentei… Escrevi cartas. Mas nunca tive resposta.

Saí do hospital com o coração em pedaços. Liguei à minha mãe e exigi respostas. Ela chorou ao telefone, pediu-me desculpa por me ter protegido demais, por ter escondido verdades que não eram dela para guardar.

Durante semanas vivi num limbo: entre visitas ao hospital e conversas tensas com a minha mãe, sentia-me perdida. Tomás percebia que algo estava errado.

— Mãe, porque estás sempre triste?

Como explicar-lhe que as famílias são feitas de escolhas erradas e silêncios pesados?

Um dia, ao chegar ao hospital, encontrei uma mulher sentada ao lado do meu pai. Era alta, cabelo escuro apanhado num rabo-de-cavalo. Tinha os olhos do meu pai.

Continuação no primeiro comentário 👇👇👇

— Não posso acreditar que estás mesmo a pedir-me isto, Miguel! — gritei, sentindo as lágrimas a queimarem-me os olhos. O...
13/12/2025

— Não posso acreditar que estás mesmo a pedir-me isto, Miguel! — gritei, sentindo as lágrimas a queimarem-me os olhos. O eco da minha voz reverberou pela sala, misturando-se com o cheiro do café frio e do pão amanhecido. Miguel olhou para mim, cansado, os ombros caídos como se carregasse o peso do mundo.

— Não sou eu, Mariana… É a minha mãe, o meu irmão… Eles precisam de ajuda. O Pedro vai perder a casa, sabes disso. — A voz dele era baixa, quase um sussurro, mas cada palavra era uma facada.

Vinte anos. Vinte anos de casamento, de sacrifícios, de noites sem dormir para pagar aquela casa. O nosso lar. O sítio onde vi os meus filhos darem os primeiros passos, onde chorei e ri, onde plantei as minhas flores na varanda e pendurei fotografias nas paredes. Agora, tudo isso podia desaparecer porque a família do Miguel achava que eu devia sacrificar tudo pelo Pedro, o eterno irresponsável.

— E nós? E os nossos filhos? O que é que lhes digo? Que têm de deixar o quarto deles porque o tio não sabe gerir dinheiro? — A minha voz tremeu. Miguel desviou o olhar.

Lembrei-me da primeira vez que entrei naquele apartamento. Era pequeno, antigo, mas era nosso. Lutei por cada centímetro: pintei paredes grávida do Diogo, montei móveis com as minhas próprias mãos enquanto o Miguel fazia horas extra no hospital. A sogra nunca gostou de mim — "A Mariana é muito independente", dizia ela às vizinhas — mas sempre engoli em seco para manter a paz.

Agora, sentia-me traída. Não só por eles, mas pelo próprio Miguel.

— Mariana, é só até o Pedro se recompor…

— Até quando? Até ele arranjar outro problema? Já não chega? — Senti uma raiva antiga a crescer dentro de mim, aquela raiva que guardei durante anos sempre que a família dele me olhava de lado ou fazia comentários sobre como eu "mandava demais".

O Diogo entrou na sala nesse momento, olhos arregalados.

— Mãe… está tudo bem?

Sorri-lhe como pude.

— Vai para o teu quarto, querido. Já vou ter contigo.

Quando ele saiu, olhei para o Miguel.

— Não vou vender a nossa casa. Não vou. — Disse isto com uma firmeza que nem sabia que tinha.

Miguel passou as mãos pelo rosto.

— Eles nunca vão perdoar-te…

— E tu? Vais?

O silêncio dele foi resposta suficiente.

Naquela noite não dormi. Fiquei sentada na cozinha, a olhar para as fotografias dos miúdos na parede. Lembrei-me da minha mãe, que sempre me dizia: "Nunca deixes ninguém tirar-te aquilo que conquistaste com suor." Senti-me sozinha e ao mesmo tempo estranhamente forte.

No dia seguinte, a sogra apareceu em minha casa sem avisar. Entrou como se fosse dona daquilo tudo.

— Mariana, precisamos falar.

Sentei-me à mesa com ela. O olhar dela era frio.

— O Pedro está desesperado. Se perder a casa vai para a rua. És mãe, devias entender.

— Sou mãe dos meus filhos. E é por eles que não vou vender o nosso lar.

Ela bufou.

— Sempre foste egoísta. O Miguel merece melhor.

Senti um nó na garganta mas mantive-me firme.

— Egoísta seria sacrificar o bem-estar dos meus filhos por alguém que nunca soube assumir responsabilidades.

Ela levantou-se bruscamente e saiu batendo a porta. Fiquei ali sentada, tremendo, mas orgulhosa por não ter cedido.

Continuação no primeiro comentário 👇

— Porquê, mãe? Porquê é que insistes em cozinhar para o Miguel todas as noites? — perguntei, já sem conseguir conter o t...
13/12/2025

— Porquê, mãe? Porquê é que insistes em cozinhar para o Miguel todas as noites? — perguntei, já sem conseguir conter o tom de voz, enquanto ela mexia distraidamente no tacho de arroz de pato.

Ela não respondeu de imediato. Limitou-se a olhar para mim, com aquele olhar cansado, como se eu fosse uma criança birrenta. O cheiro intenso do forno misturava-se com a raiva que me subia ao peito. Desde pequena que sentia que nunca seria suficiente para ela, mas agora parecia que nem para o meu próprio marido eu era suficiente.

O Miguel entrou na cozinha nesse momento, sorrindo, como se nada se passasse. — Cheira mesmo bem, dona Teresa! — disse ele, piscando-lhe o olho. A minha mãe sorriu-lhe de volta, um sorriso que eu já não via há anos. Senti-me invisível.

A verdade é que nunca gostei de cozinhar. Sempre sonhei com uma vida diferente, longe das panelas e dos tachos, longe das expectativas sufocantes da minha mãe. Queria viajar, conhecer o mundo, ser livre. Mas a vida empurrou-me para um casamento cedo demais, e acabei por voltar à casa onde cresci, agora partilhada com o homem que escolhi e a mãe que nunca me deixou escolher.

Os jantares tornaram-se um ritual estranho: eu sentada à mesa, calada, enquanto a minha mãe e o Miguel trocavam piadas e histórias. Ele elogiava cada prato, ela corava de orgulho. Eu sentia-me cada vez mais pequena.

Uma noite, depois de mais um jantar em que fui apenas espectadora, decidi sair para apanhar ar. Sentei-me no banco do jardim e chorei baixinho. Oiço passos atrás de mim — era o Miguel.

— Estás bem? — perguntou ele, pousando a mão no meu ombro.

Afastei-me. — Não percebes? Não vês como ela te trata? Como se fosses... como se fosses o filho que ela sempre quis ter?

Ele suspirou. — Ela só quer ajudar. Sabe que tens andado cansada...

— Não é isso! — gritei. — Ela nunca me deixou ser eu própria! E agora parece que nem tu és meu!

Ele ficou em silêncio. Voltámos para dentro sem trocar mais palavras.

Os dias seguintes foram iguais: a minha mãe cozinhava, o Miguel elogiava, eu calava-me. Até que uma noite tudo mudou.

Cheguei mais cedo do trabalho porque uma reunião foi cancelada. Entrei em casa sem fazer barulho e ouvi vozes na cozinha.

— Não podes continuar assim, Teresa — dizia o Miguel num tom baixo, quase suplicante.

— Eu só quero o melhor para vocês — respondeu a minha mãe, a voz embargada.

— Mas não é justo para a Ana. Ela sente-se posta de parte.

— Ela nunca quis esta vida! Sempre fugiu de tudo o que era nosso... — a voz dela tremia. — Eu só queria que ela fosse feliz aqui.

— Mas não é assim que se faz... — disse ele suavemente.

Fiquei parada no corredor, sem coragem de entrar. Ouvia os pratos a serem arrumados, os talheres a tilintar. Senti uma raiva surda misturada com pena.

De repente ouvi um soluço. Era a minha mãe.

— Eu perdi o teu pai por causa disto... — confessou ela entre lágrimas. — Ele também queria fugir. E eu fiquei sozinha nesta casa enorme, com uma filha que mal me olhava nos olhos. Quando tu chegaste... pensei que podia fazer diferente. Que podia dar à Ana aquilo que nunca consegui dar ao pai dela: um lar feliz.

Continuação no primeiro comentário 👇👇👇

— Mariana, não podes entrar assim vestida! — A voz da professora Helena ecoou pelo átrio do liceu, cortando o burburinho...
13/12/2025

— Mariana, não podes entrar assim vestida! — A voz da professora Helena ecoou pelo átrio do liceu, cortando o burburinho animado do baile de finalistas. Senti o olhar de todos pousar em mim, como se as flores bordadas no meu vestido fossem manchas de tinta num quadro branco. — O regulamento é claro: vestidos discretos, sem padrões exuberantes. Vai para casa mudar ou não entras.

Fiquei ali, imóvel, com as mãos a tremer. O vestido era da minha mãe, dos anos 80, cheio de rosas vermelhas e folhas verdes. Tinha passado a tarde a ouvir a minha avó contar histórias de bailes antigos enquanto me ajudava a pentear o cabelo. E agora, tudo parecia ridículo. Senti o calor subir-me ao rosto, as lágrimas a ameaçarem cair.

— Professora, por favor… — tentei argumentar, mas ela já se virava para outra aluna. — Mariana, não insistas. Não quero problemas hoje.

Os meus colegas olhavam-me de lado. Alguns riam-se baixinho. A Inês, que eu pensava ser minha amiga, murmurou para a Beatriz: — Já viste o que ela trouxe vestido? Parece saída de uma novela dos anos 90.

Saí dali a correr, tropeçando nos saltos altos que nunca soube usar. O ar frio da noite bateu-me na cara quando cheguei ao parque de estacionamento vazio. Encostei-me ao carro do meu pai e deixei as lágrimas correrem. Senti-me pequena, ridícula, deslocada.

Peguei no telemóvel e liguei à Sofia. A voz dela atendeu ao terceiro toque:

— Mariana? Então? Já estás no baile?

— Fui expulsa — solucei. — Por causa do vestido… disseram que era demasiado chamativo.

Houve um silêncio do outro lado. Depois ouvi a respiração dela, calma:

— Onde estás?

— No parque de estacionamento… Não quero ir para casa já. O meu pai vai g***r comigo, a minha mãe vai chorar…

— Espera aí. Eu já vou ter contigo.

Desliguei e sentei-me no passeio, abraçando os joelhos. O cheiro a gasolina misturava-se com o perfume barato das flores do vestido. Lembrei-me da minha mãe a sorrir quando me viu pronta: "Estás linda, filha. Vais arrasar." Agora só queria desaparecer.

Passaram-se dez minutos até ver a figura da Sofia a correr na minha direção, com o cabelo apanhado à pressa e um casaco por cima do pijama.

— Mariana! — Ela ajoelhou-se ao meu lado e abraçou-me forte. — Que estupidez… Como é que ainda fazem estas coisas?

— Toda a gente olhou para mim como se fosse um bicho raro… — murmurei.

— Porque são todos iguais e têm medo de quem é diferente — disse ela, limpando-me as lágrimas com as mangas do casaco. — Mas eu sempre gostei das tuas diferenças.

Ficámos ali sentadas em silêncio durante uns minutos. Depois a Sofia levantou-se e puxou-me pela mão:

— Anda daí. Vamos dar uma volta até ao miradouro.

Entrámos no carro dela e subimos até ao Miradouro da Senhora do Monte. Lisboa brilhava lá em baixo, indiferente à minha vergonha. Sofia abriu uma garrafa de sumo e brindámos:

— Às miúdas que não têm medo de usar vestidos floridos!

Rimo-nos pela primeira vez naquela noite. Aos poucos fui-me acalmando, ouvindo a Sofia contar histórias disparatadas sobre os professores e os colegas. Senti o peso no peito aliviar-se.

— Achas que devia ter ficado calada? Que devia ter levado um vestido preto como toda a gente? — perguntei.

Sofia olhou para mim com aquele ar sério dela:

— Achas mesmo que eras tu se fizesses isso? Mariana, tu sempre foste diferente. Sempre tiveste coragem de ser quem és. Não deixes que te façam sentir vergonha disso.

O telemóvel vibrou: era uma mensagem da minha mãe.

"Filha, onde estás? Estou preocupada. Liga-me quando puderes."

Senti um aperto no coração. Não queria voltar para casa e enfrentar o olhar triste dela, nem os comentários sarcásticos do meu pai: "Já sabia que ias arranjar confusão com essas tuas ideias esquisitas".

Sofia percebeu o meu silêncio:

— Queres dormir em minha casa hoje?

👀 Algo surpreendente aconteceu depois... veja nos comentários 👇

— Mariana, não percebes que a minha mãe precisa de mim? — A voz do Rui ecoou pela cozinha, dura e fria, enquanto eu segu...
13/12/2025

— Mariana, não percebes que a minha mãe precisa de mim? — A voz do Rui ecoou pela cozinha, dura e fria, enquanto eu segurava uma chávena de chá já morna nas mãos trémulas.

Olhei para ele, tentando encontrar nos olhos castanhos aquele rapaz doce por quem me apaixonei há dez anos, mas só vi cansaço e uma espécie de raiva surda. A minha sogra, Dona Lurdes, estava sentada à mesa, com um ar de mártir, os olhos semicerrados e um lenço branco apertado nas mãos.

— Precisa de ti? Rui, ela está ótima! Só não quer ficar sozinha — arrisquei, sabendo que cada palavra era como acender um fósforo num barril de pólvora.

Dona Lurdes suspirou alto. — Mariana, tu não sabes o que é perder tudo na vida. O meu Rui é o meu único apoio. — E olhou para ele como se eu fosse uma intrusa na própria casa.

A verdade é que nunca fui bem-vinda ali. Desde o início do nosso namoro, Dona Lurdes fazia questão de me lembrar que eu era apenas "aquela rapariga de Lisboa" que queria afastar o filho dela. E Rui... Rui nunca soube dizer-lhe não.

Os primeiros anos foram suportáveis. Eu achava que com o tempo ela se habituaria à minha presença. Mas depois do casamento, tudo piorou. Dona Lurdes ligava-lhe todos os dias — às vezes de madrugada — a pedir ajuda para mudar uma lâmpada, abrir um frasco ou simplesmente porque "se sentia sozinha". Rui largava tudo: jantares, fins de semana, até as férias que planeávamos juntos.

Lembro-me de um Natal em particular. Tínhamos combinado passar a noite em casa dos meus pais, mas Dona Lurdes telefonou a chorar: "Rui, estou tão mal... Não aguento esta solidão." Ele olhou para mim, hesitante, mas já sabia a resposta antes de abrir a boca.

— Desculpa, Mariana. Ela precisa de mim.

Fui sozinha para casa dos meus pais nesse Natal. A minha mãe tentou animar-me com rabanadas e histórias antigas, mas eu só conseguia pensar no vazio do lado direito da mesa.

Com o tempo, comecei a sentir-me invisível. As nossas conversas resumiam-se à rotina: contas para pagar, compras do supermercado, quem ia buscar o carro à oficina. O Rui estava sempre cansado, sempre preocupado com a mãe. E eu? Eu era apenas um detalhe na vida dele.

Uma noite, depois de mais uma discussão sobre Dona Lurdes, fechei-me na casa de banho e chorei até não ter mais lágrimas. Olhei-me ao espelho: olheiras fundas, cabelo despenteado, olhos vermelhos. Onde estava aquela Mariana cheia de sonhos? Onde estava o amor?

Tentei falar com ele. — Rui, precisamos de ajuda. Isto não é normal. Não podemos continuar assim.

Ele encolheu os ombros. — Mariana, tu sabias como era a minha mãe antes de casarmos. Eu não posso deixá-la sozinha.

— E eu? Vais deixar-me sozinha?

Ele não respondeu.

Comecei a sair mais com as minhas amigas. A Ana dizia-me sempre: "Mariana, tu mereces mais!" Mas eu sentia-me presa numa teia de culpa e obrigação. Afinal, Dona Lurdes era viúva e Rui era filho único. Quem era eu para exigir prioridade?

Mas a situação tornou-se insuportável quando descobri que estava grávida. Quis partilhar a notícia com Rui num jantar especial — mas ele cancelou à última hora porque a mãe tinha tido uma "crise de ansiedade".

Quando finalmente lhe contei, ele sorriu, abraçou-me... e depois ligou à mãe para lhe dar a notícia em primeira mão. Senti-me traída e pequena.

Durante a gravidez, Dona Lurdes tornou-se ainda mais presente. Dava palpites sobre tudo: o nome do bebé, as roupas, até o hospital onde devia nascer. Rui concordava com tudo o que ela dizia.

No dia em que a nossa filha nasceu — Matilde — Dona Lurdes foi a primeira a pegá-la ao colo. Eu estava exausta, mas ela entrou no quarto do hospital como se fosse dona do espaço e disse: "A avó está aqui, meu amor!"

Continuação no primeiro comentário 👇👇

Endereço

Lisbon

Notificações

Seja o primeiro a receber as novidades e deixe-nos enviar-lhe um email quando Estilo de vida saudável publica notícias e promoções. O seu endereço de email não será utilizado para qualquer outro propósito, e pode cancelar a subscrição a qualquer momento.

Entre Em Contato Com A Prática

Envie uma mensagem para Estilo de vida saudável:

Compartilhar

Share on Facebook Share on Twitter Share on LinkedIn
Share on Pinterest Share on Reddit Share via Email
Share on WhatsApp Share on Instagram Share on Telegram