Estilo de vida saudável

Estilo de vida saudável Cuidamos da nossa saúde física e psicológica

— Não acredito que estás aqui, Inês. — A minha voz saiu mais fria do que eu queria, mas não consegui evitar. O som da ch...
06/09/2025

— Não acredito que estás aqui, Inês. — A minha voz saiu mais fria do que eu queria, mas não consegui evitar. O som da chuva a bater nas janelas misturava-se com o choro contido das crianças, agarradas às pernas da mãe. Inês olhou-me nos olhos, cansada, os cabelos colados à testa, e disse apenas:

— Preciso de ficar aqui uns dias, Leonor. Não tenho para onde ir.

Fiquei parada à porta, sentindo o peso de anos de silêncios e pequenas discussões. Inês nunca me aceitou verdadeiramente como mulher do pai dela. Sempre fui "a outra", mesmo depois de tantos anos. E agora estava ali, com duas crianças assustadas e duas malas velhas, a pedir abrigo.

O meu marido, António, estava a trabalhar no turno da noite no hospital. Não fazia ideia do que se passava. Senti um nó no estômago: o que diria ele? E os vizinhos, sempre tão atentos a tudo?

— Entrem — disse finalmente, afastando-me para lhes dar passagem. As crianças passaram primeiro, tímidas, olhando para mim como se eu fosse uma estranha. Inês entrou por último, arrastando as malas pelo chão de madeira.

Fechei a porta devagar. O cheiro a terra molhada invadiu o corredor. Levei-os até à sala e tentei sorrir para os miúdos.

— Podem sentar-se ali no sofá. Vou buscar umas toalhas secas.

Enquanto subia as escadas para ir ao armário dos lençóis, o meu coração batia descompassado. Lembrei-me da primeira vez que conheci Inês: tinha 14 anos e um olhar desconfiado. Nunca me perdoou por ter casado com o pai dela depois da morte da mãe. Durante anos tentei aproximar-me, mas cada tentativa era recebida com frieza ou ironia.

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— Não acredito que ele fez isto comigo, mãe! — gritou Inês, atirando o telemóvel contra a almofada. O som seco do aparel...
06/09/2025

— Não acredito que ele fez isto comigo, mãe! — gritou Inês, atirando o telemóvel contra a almofada. O som seco do aparelho a bater no tecido ecoou pela sala, misturando-se com o meu próprio soluço, que tentei esconder. Mas não consegui. As lágrimas já me escorriam pelo rosto há horas, desde que li a mensagem do António: “Preciso de tempo. Não sei se ainda te amo.”

Olhei para Inês, os olhos dela vermelhos, a maquilhagem borrada. Tinha vinte e dois anos, mas naquele momento parecia-me tão pequena, tão indefesa. Senti uma dor aguda no peito — não só pela minha perda, mas pela dela também. Como se o universo tivesse decidido brincar connosco, mãe e filha, abandonadas na mesma semana, quase no mesmo dia.

— Ele nem sequer teve coragem de me dizer na cara — continuou ela, a voz embargada. — Mandou uma mensagem! Depois de três anos juntos…

Suspirei fundo. O António também não teve coragem. Vinte anos de casamento e tudo acabou numa frase fria, sem emoção. Olhei para as nossas mãos entrelaçadas no sofá. Era estranho: sempre fui eu a consolar a Inês, a resolver os seus problemas. Agora, éramos duas crianças perdidas num mundo que parecia não querer saber de nós.

O relógio da sala marcava quase meia-noite. Lá fora, Lisboa estava silenciosa, apenas o som distante dos elétricos a passar pela Avenida Almirante Reis. O cheiro do chá de camomila que preparei para acalmar os nervos pairava no ar, mas nenhuma de nós tocou nas chávenas.

— Mãe… achas que há algo de errado connosco? — perguntou Inês de repente, a voz quase um sussurro.

O coração apertou-se-me ainda mais. Quantas vezes fizera eu essa pergunta a mim mesma nos últimos dias? Será que falhei como mulher? Como mãe? Como esposa?

— Não sei, filha… — respondi honestamente. — Mas se houver, pelo menos estamos juntas nisto.

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— Mãe, precisamos falar sobre a casa.A voz da Inês ecoou pela sala, cortando o silêncio como uma navalha. Eu estava sent...
06/09/2025

— Mãe, precisamos falar sobre a casa.

A voz da Inês ecoou pela sala, cortando o silêncio como uma navalha. Eu estava sentada na poltrona de sempre, aquela junto à janela, onde o sol da tarde desenha sombras no chão de madeira. O cheiro do café acabado de fazer ainda pairava no ar, misturado com o perfume das flores que o meu marido plantou há décadas no jardim. Olhei para ela, tentando decifrar-lhe o rosto. Havia ali uma urgência que me assustava.

— O que se passa, filha? — perguntei, tentando manter a voz firme.

Ela hesitou, mordendo o lábio inferior, como fazia em criança quando tinha medo de me magoar com alguma verdade. — Eu… Eu estive a pensar. Esta casa é grande demais para ti. E eu… eu precisava de algum dinheiro para investir no meu negócio. Se vendêssemos a casa, podíamos dividir o valor. Tu podias ir para um apartamento mais pequeno, mais fácil de cuidar…

Senti o peito apertar. Oiço o relógio de parede marcar cada segundo como se fosse um martelo a bater no meu coração. A casa? Vender a casa? Esta casa não é só paredes e telhado. É onde o teu pai morreu, onde tu deste os primeiros passos, onde o teu irmão partiu a cabeça e eu passei noites em claro ao teu lado quando tinhas febre. Como podes falar assim?

— Inês… — comecei, mas a voz falhou-me. — Isto não é só uma casa. É a nossa história.

Ela suspirou, impaciente. — Mãe, eu sei. Mas tu vives aqui sozinha há anos. O jardim está ao abandono, as infiltrações na cozinha nunca foram arranjadas… Não achas que já chega de te prenderes ao passado?

O passado… Como se fosse possível deixá-lo para trás assim tão facilmente. Lembro-me do António, do sorriso dele quando chegava do trabalho e me abraçava na cozinha. Lembro-me dos natais com a casa cheia de vozes e risos, das discussões à mesa sobre política e futebol, das lágrimas escondidas no quarto quando o meu filho mais velho foi para Inglaterra à procura de trabalho.

— E se eu não quiser vender? — perguntei, sentindo as lágrimas ameaçarem cair.

Inês olhou para mim com uma expressão dura, quase fria. — Então vais continuar aqui sozinha até quando? Até não conseguires subir as escadas? Até te esqueceres de quem és?

A raiva subiu-me à garganta. — Não fales assim comigo! Eu dei-te tudo! Trabalhei uma vida inteira para que tivesses um lar! Agora queres deitar tudo fora por dinheiro?

Ela levantou-se abruptamente, os olhos brilhando de lágrimas contidas. — Não é por dinheiro! É por mim! Por uma vez na vida queria fazer algo por mim! Sempre fui a filha perfeita, sempre pus os outros à frente… Agora preciso disto!

O silêncio caiu pesado entre nós. Senti-me velha, cansada, derrotada. Olhei em volta: as fotografias nas paredes, os móveis gastos pelo tempo, as marcas dos anos em cada canto da casa. Tudo aquilo era parte de mim. Mas será que ainda fazia sentido agarrar-me ao passado quando o presente me escorria por entre os dedos?

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— Vais mesmo deixar a tua mãe sozinha na sala outra vez? — A voz do António, o meu marido, ecoou pela cozinha, carregada...
06/09/2025

— Vais mesmo deixar a tua mãe sozinha na sala outra vez? — A voz do António, o meu marido, ecoou pela cozinha, carregada de impaciência. Eu estava de costas, a lavar a loiça, mas senti o peso do olhar dele nas minhas costas. O som da água a correr era o único refúgio que me restava.

“Se ao menos ele soubesse como me sinto presa”, pensei. Desde que a minha mãe veio viver connosco, há quase um ano, sinto que perdi o controlo da minha própria casa. Não foi uma decisão fácil. O meu irmão, o Carlos, vive no Porto e disse logo que não podia recebê-la. “A mãe sempre gostou mais de ti”, atirou ele ao telefone, como se isso justificasse tudo.

A minha mãe, a Dona Lurdes, sempre foi uma mulher forte. Mas desde que o meu pai morreu, tornou-se mais amarga, mais exigente. No início, achei que era só tristeza. Agora já não sei. Ela critica tudo: a maneira como cozinho, como educo os meus filhos, até a forma como arrumo os pratos.

— A tua filha não sabe fazer arroz — ouvi-a dizer à minha filha mais velha, a Sofia, há dias atrás. — No meu tempo, as raparigas aprendiam cedo.

Senti o rosto da Sofia endurecer. Ela tem 23 anos, acabou o curso de Psicologia e está à procura do primeiro emprego. Já não é uma criança. Mas diante da avó, parece sempre pequena e insegura.

O meu filho mais novo, o Miguel, tem 19 anos e passa os dias fechado no quarto. Diz que está a estudar para os exames da faculdade, mas sei que se refugia nos auscultadores para não ouvir as discussões.

A tensão entre o António e a minha mãe é palpável. Ele tenta ser educado, mas já não tem paciência para as indiretas dela.

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— Não posso acreditar, António! Eles fizeram mesmo isto? — gritei, com a voz embargada e as mãos a tremerem enquanto seg...
06/09/2025

— Não posso acreditar, António! Eles fizeram mesmo isto? — gritei, com a voz embargada e as mãos a tremerem enquanto segurava a carta. O meu marido olhava para mim, olhos baixos, como se carregasse o peso do mundo nos ombros.

— Maria, eu… Eles são meus pais. Não sei o que dizer — murmurou ele, quase sem voz.

Aquela manhã de março ficou gravada na minha memória como uma ferida aberta. O cheiro do café ainda pairava na cozinha da casa dos meus sogros, onde vivíamos há quase sete anos, desde que o António perdeu o emprego na fábrica de cortiça. Eu sempre fui poupada, sempre fiz questão de não depender de ninguém. Mas quando a crise bateu à porta, não tivemos escolha senão aceitar o convite dos pais dele para ficarmos com eles "até as coisas melhorarem".

No início, parecia temporário. Eu trabalhava como costureira em casa, António fazia biscates. A nossa filha, Leonor, crescia entre os avós e os primos. Mas os meses passaram, transformaram-se em anos, e aquela casa grande em Vila Nova de Gaia tornou-se um campo minado de ressentimentos e silêncios.

A minha sogra, Dona Rosa, era uma mulher dura, daquelas que nunca sorriem sem motivo. O sogro, Senhor Joaquim, pouco falava — só se ouvia o ranger da cadeira dele na sala e o tilintar do copo de vinho ao jantar. A irmã mais nova do António, a Inês, sempre foi a menina dos olhos deles: estudou fora, arranjou emprego num banco e vinha a casa aos fins de semana com presentes caros e histórias de Lisboa.

Eu sentia-me uma intrusa. Tudo o que fazia parecia errado: o arroz nunca estava no ponto certo, as camisas do António nunca estavam suficientemente engomadas. E Dona Rosa não perdia uma oportunidade para me lembrar que "a casa é nossa, Maria".

Mas eu aguentava. Por amor ao António e à Leonor. Por acreditar que um dia teríamos o nosso canto.

Naquela manhã fatídica, tudo mudou. A carta era clara: os meus sogros tinham decidido passar a casa para a Inês. "É ela quem tem futuro", diziam. "Vocês já cá vivem, não precisam de papéis." Senti-me pequena, humilhada. O António ficou calado durante horas, olhando pela janela como se esperasse ver uma solução cair do céu.

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— Maria, onde estão as minhas camisas passadas? — gritou o António da sala, enquanto eu tentava, pela terceira vez naque...
06/09/2025

— Maria, onde estão as minhas camisas passadas? — gritou o António da sala, enquanto eu tentava, pela terceira vez naquela manhã, acalmar o choro do nosso filho mais novo. O ferro de engomar ainda estava quente, mas as camisas, essas, estavam esquecidas no cesto da roupa por passar. Senti o coração apertar-se no peito, uma mistura de culpa e raiva.

“Será que ninguém vê que estou a rebentar pelas costuras?”, pensei, mas não disse nada. Engoli em seco, como tantas vezes antes. O António continuou a resmungar, sem se levantar do sofá, olhos colados à televisão. O cheiro do café queimado invadia a cozinha — mais uma coisa que deixei passar.

A casa era pequena, mas parecia um labirinto de tarefas intermináveis. Entre preparar os pequenos-almoços, arrumar brinquedos espalhados pelo chão e tentar manter alguma ordem, sentia-me cada vez mais invisível. As paredes outrora brancas estavam agora manchadas de dedos pequeninos e promessas esquecidas.

A minha mãe costumava dizer: “Maria, uma mulher tem de saber cuidar da casa para manter a família unida.” Cresci a acreditar nisso. Mas ninguém me avisou que, ao cuidar tanto dos outros, podia esquecer-me de mim própria.

O António não era mau homem. Trabalhava muito, é verdade. Mas quando chegava a casa, esperava que tudo estivesse perfeito — a comida pronta, os filhos limpos e calmos, eu sorridente. E eu tentava. Tentava tanto que já não sabia quem era para além da mulher dele e da mãe dos nossos filhos.

Uma noite, depois de todos adormecerem, sentei-me à mesa da cozinha com uma chávena de chá frio. Olhei para as minhas mãos — ásperas, com pequenas queimaduras do forno e unhas roídas até ao sabugo. “Quando foi a última vez que fiz algo só para mim?”, perguntei-me em silêncio.

Lembrei-me dos meus sonhos antigos: queria ser professora de História. Adorava livros, perder-me em histórias de outros tempos. Mas a vida foi acontecendo — casei cedo, vieram os filhos, o trabalho ficou para depois. “Depois” nunca chegou.

Certa manhã, enquanto levava os miúdos à escola, cruzei-me com a Ana, uma amiga de infância. Estava elegante, sorridente, falava de um curso novo que estava a tirar à noite. Senti inveja — não da roupa ou do cabelo arranjado, mas da luz nos olhos dela. Uma luz que eu já não via nos meus há muito tempo.

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— Vamos só dividir a conta, pode ser? — disse ele, com um sorriso que parecia pedir desculpa antes mesmo de eu ter tempo...
06/09/2025

— Vamos só dividir a conta, pode ser? — disse ele, com um sorriso que parecia pedir desculpa antes mesmo de eu ter tempo de reagir.

O garçom aguardava, bloco na mão, enquanto eu olhava para o copo de vinho meio vazio e sentia o rubor subir-me ao rosto. Não era pelo dinheiro. Era pelo gesto. Pela forma como aquela frase, dita com tanta naturalidade, desmontava tudo o que eu tinha imaginado sobre aquele encontro. O restaurante em Alfama estava cheio, as luzes baixas e as conversas misturavam-se com o fado ao fundo, mas naquele instante só existíamos nós e aquela conta.

Chamo-me Mariana. Tenho 32 anos, sou professora de História numa escola secundária em Lisboa e, como tantos outros, decidi experimentar o mundo dos encontros online depois de um divórcio difícil. O meu ex-marido, Rui, era daqueles homens que nunca esquecia uma data importante, mas esquecia-se de mim todos os dias. Quando finalmente me vi sozinha, prometi a mim mesma que não voltaria a ignorar os sinais. Mas ali estava eu, sentada à frente do João — engenheiro informático, solteirão assumido, sorriso fácil — e a sentir-me ingénua outra vez.

— Claro — respondi, tentando sorrir também. — Faz sentido.

Ele relaxou os ombros e começou a dividir mentalmente os pratos. Eu olhava para as mãos dele: unhas impecáveis, dedos longos, mas sempre inquietos. Perguntei-me se ele estaria nervoso ou apenas habituado a controlar tudo à sua volta.

— Sabes — disse ele, enquanto fazia contas no telemóvel — acho que é mais justo assim. Cada um paga o seu. Já tive experiências más…

A frase ficou no ar. Experiências más? Com mulheres interesseiras? Ou seria apenas uma defesa? Lembrei-me das conversas com a minha mãe, Dona Lurdes, sempre pronta a dar conselhos:

— Mariana, não aceites menos do que mereces. Mas também não julgues antes de conheceres.

A verdade é que eu queria conhecer o João. Trocámos mensagens durante semanas. Falámos de livros, de viagens, de sonhos adiados pela pandemia. Ele parecia diferente dos outros: atento, culto, até sensível. Mas ali, naquela mesa, sentia-me como uma adolescente a tentar decifrar sinais contraditórios.

O jantar continuou entre silêncios e sorrisos forçados. Ele contou-me sobre a infância em Setúbal, os pais divorciados e o medo de se comprometer. Eu partilhei histórias da escola, dos alunos difíceis e das saudades do meu pai, que morreu há dois anos. Quando falava do meu pai, sentia sempre um nó na garganta. Ele era o oposto do Rui: generoso até ao exagero, capaz de dar o cas**o a um estranho numa noite fria.

— O meu pai dizia que gentileza não se mede em gestos grandes, mas nos pequenos detalhes — murmurei.

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— Não me venhas com desculpas, mãe! — gritei, sentindo o peito apertado, as mãos a tremer. O cheiro do arroz de forno ai...
06/09/2025

— Não me venhas com desculpas, mãe! — gritei, sentindo o peito apertado, as mãos a tremer. O cheiro do arroz de forno ainda pairava na cozinha, mas ninguém tinha fome naquela noite. O meu pai, sentado à cabeceira da mesa, olhava para o prato vazio como se ali estivesse toda a sua vida. A minha mãe, com os olhos vermelhos de tanto chorar, tentava justificar-se, mas as palavras perdiam-se no ar pesado da nossa casa em Vila Nova de Gaia.

Sempre achei que as famílias portuguesas eram unidas, que os almoços de domingo e as festas de Natal eram sagrados. Mas a verdade é que, por detrás das cortinas rendadas e dos sorrisos para os vizinhos, escondíamos mágoas antigas. O meu irmão, Tiago, já não vinha cá há meses. Diziam que era por causa do trabalho em Lisboa, mas eu sabia que era mais do que isso. Desde que o nosso avô morreu sozinho no lar, sem uma visita nossa nos últimos meses, algo se partiu entre nós.

Lembro-me do dia em que recebemos o telefonema do lar. A enfermeira falou com uma voz doce, mas firme:

— Dona Isabel, o seu pai partiu esta manhã. Estava sereno… mas sentiu muito a vossa falta.

A minha mãe desabou em lágrimas. Eu fiquei paralisada. Tínhamos prometido visitá-lo todas as semanas, mas a vida — ou talvez a nossa cobardia — foi sempre adiando o inevitável. O Tiago não disse nada. Pegou nas chaves do carro e desapareceu.

Desde então, a nossa casa tornou-se um campo de batalha silencioso. O meu pai refugiava-se no trabalho na oficina, voltava tarde e cansado. A minha mãe passava horas a olhar para fotografias antigas, como se procurasse respostas no passado. E eu… eu tentava ser a ponte entre eles, mas sentia-me cada vez mais sozinha.

Uma noite, ouvi-os discutir no quarto. As paredes eram finas e as palavras cortavam como facas:

— Tu nunca estiveste presente! — acusava o meu pai.

— E tu? Sempre a fugir dos problemas! — respondia ela.

Tapei os ouvidos com a almofada, mas as vozes ecoavam dentro de mim. No dia seguinte, ao pequeno-almoço, ninguém falou. O silêncio era ensurdecedor.

Foi nessa altura que comecei a escrever cartas ao Tiago. Cartas que nunca enviei. Contava-lhe tudo: o vazio da casa, o cheiro do café pela manhã sem risos, o olhar perdido da mãe. Perguntava-lhe porque nos tinha deixado assim, se algum dia voltaria.

Um domingo de chuva forte, decidi ir ter com ele a Lisboa. Apanhei o comboio das seis da manhã, com o coração aos pulos e uma mala cheia de saudade. Quando cheguei ao apartamento dele em Alvalade, hesitei antes de tocar à campainha. Ele abriu a porta com ar surpreendido:

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— Inês, onde está o recibo do supermercado? — A voz do António ecoou pela cozinha, cortando o silêncio da noite como uma...
06/09/2025

— Inês, onde está o recibo do supermercado? — A voz do António ecoou pela cozinha, cortando o silêncio da noite como uma faca afiada. Eu estava a lavar a loiça, as mãos já doridas da água quente, e senti o estômago apertar-se. O recibo. Tinha-o guardado no bolso do cas**o, esquecido entre as chaves e um rebuçado velho.

— Está… está no meu cas**o, acho eu — respondi, tentando soar casual. Mas ele já se dirigia ao bengaleiro, determinado. Ouvi o barulho dos bolsos a serem remexidos e, em segundos, voltou com o papel amachucado na mão.

— Três euros em bolachas? — perguntou, erguendo uma sobrancelha. — Não combinámos que só compravas o essencial?

Senti-me pequena. Tão pequena como quando era criança e a minha mãe me apanhava a roubar um quadradinho de chocolate antes do jantar. Mas agora era diferente. Agora era adulta, mãe de dois filhos, e não tinha sequer direito a um pacote de bolachas sem justificações.

António sempre foi assim. Meticuloso, organizado, um homem de contas certas. Quando nos conhecemos, achei encantador o modo como planeava tudo ao detalhe: as férias, os jantares, até os presentes de aniversário. Só mais tarde percebi que aquele controlo não era só sobre as finanças — era sobre mim.

No início do casamento, entregava-lhe o meu ordenado porque ele dizia que era mais fácil assim. "Eu trato das contas, tu não tens de te preocupar com nada." E eu, ingénua e apaixonada, aceitei. O tempo foi passando e as pequenas decisões — como comprar um café na rua ou um livro para mim — tornaram-se grandes discussões.

Lembro-me de uma noite em particular, há uns anos. Estava sentada na cama, com o extrato bancário nas mãos. O António entrou no quarto sem bater.

— O que estás a fazer?

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— Ivan, por favor, não voltes a sair da mesa sem pedir licença! — gritei, já sem conseguir controlar o tremor na voz. O ...
06/09/2025

— Ivan, por favor, não voltes a sair da mesa sem pedir licença! — gritei, já sem conseguir controlar o tremor na voz. O barulho dos talheres a bater no prato ecoou pela sala, misturando-se com o silêncio pesado que se seguiu. O meu marido, Rui, olhou-me de soslaio, como quem pede calma, mas eu já não conseguia esconder o cansaço.

Ivan, com os seus quinze anos recém-feitos, olhou-me de cima, os olhos semicerrados de desafio. — Mãe, não é assim tão grave! Só fui buscar o telemóvel…

— Não é o telemóvel, Ivan! — interrompi, sentindo as lágrimas a ameaçarem-me os olhos. — É o respeito! É saberes ouvir quando te falamos!

Ele encolheu os ombros e saiu da sala sem dizer mais nada. Fiquei ali, paralisada, a olhar para o prato frio. O Rui suspirou e tentou aliviar a tensão:

— Deixa-o ir. Está numa fase complicada…

Mas eu não queria ouvir desculpas. Não era só uma fase. Era uma sucessão de pequenas faltas de respeito, de respostas atravessadas, de portas batidas e silêncios ensurdecedores. Era o meu filho a afastar-se de mim e eu sem saber como trazê-lo de volta.

Lembro-me de quando ele era pequeno e me pedia colo sempre que caía. Agora, parecia que cada palavra minha era uma pedra no caminho dele. Senti-me perdida.

Naquela noite, depois do jantar, fui até ao quarto dele. Bati à porta com suavidade.

— Ivan? Posso entrar?

Do outro lado ouvi um resmungo. Entrei mesmo assim. Ele estava deitado na cama, auscultadores nos ouvidos, olhos fixos no telemóvel.

— Podemos falar?

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— Mãe, por favor, não faças isto outra vez. — A voz do Miguel, o meu filho, ecoou pelo corredor antes mesmo de eu conseg...
06/09/2025

— Mãe, por favor, não faças isto outra vez. — A voz do Miguel, o meu filho, ecoou pelo corredor antes mesmo de eu conseguir pousar o s**o com o pão fresco e os bolos que tinha acabado de comprar na padaria da Dona Amélia. Eram sete da manhã, e eu já estava de pé desde as cinco, a preparar tudo para que ele, a Ana e os meus netos tivessem um pequeno-almoço digno de domingo.

Senti o peito apertar-se. O Miguel nunca me falava assim. Ou melhor, nunca me falava assim antes de casar com a Ana. Desde que ela entrou para a família, tudo mudou. Antes, ele ligava-me todos os dias, pedia conselhos sobre tudo, até sobre como lavar uma camisa branca. Agora, mal me atende o telefone.

— Só queria deixar-vos o pequeno-almoço. — Tentei sorrir, mas a voz saiu-me trémula. — Trouxe pão quente e os bolos que o Tomás gosta...

O Miguel olhou para trás, como se tivesse medo que a Ana aparecesse e o visse a falar comigo. — Mãe, não podes aparecer aqui assim, sem avisar. A Ana não gosta...

A Ana não gosta. Era sempre isso. A Ana não gosta disto, a Ana não gosta daquilo. Mas quem era eu? A mãe dele! Fui eu que o criei sozinha durante anos, depois do pai dele ter morrido naquele acidente na estrada nacional. Fui eu que abdiquei de tudo — férias, saídas com amigas, até de comprar roupa nova — para que ele tivesse tudo o que precisava.

Lembro-me de quando ele era pequeno e tinha medo do escuro. Dormia agarrado à minha camisola, porque dizia que cheirava a casa. E agora? Agora nem sequer me deixa entrar em casa dele.

— Miguel, por favor... — Senti as lágrimas a quererem saltar-me dos olhos. — Só queria ver os meninos.

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— Mãe, não encontro as minhas chaves! — gritou o Rui da sala, enquanto eu tentava, pela terceira vez naquela manhã, arru...
05/09/2025

— Mãe, não encontro as minhas chaves! — gritou o Rui da sala, enquanto eu tentava, pela terceira vez naquela manhã, arrumar a pilha de roupa que ele largara no corredor.

Olhei para o relógio. Já passava das oito e meia. O cheiro a café queimado misturava-se com o odor persistente dos ténis dele, abandonados junto à porta. Respirei fundo, tentando não perder a paciência. Desde que o Rui voltou para casa, depois do divórcio, a minha vida virou do avesso.

Nunca pensei que aos 62 anos teria de voltar a partilhar o meu espaço, os meus silêncios e até as minhas rotinas com um filho adulto. Mas quando ele apareceu à porta, de malas feitas e olhos vermelhos de tanto chorar, não consegui dizer que não. Afinal, sou mãe. E mães portuguesas não deixam os filhos à porta.

— Rui, já te disse para deixares as chaves sempre no mesmo sítio! — respondi, tentando manter a voz calma.

Ele bufou, revirando os olhos como fazia quando era adolescente. — Desculpa, mãe. Não estou habituado…

Pois não estava. Nem ele, nem eu. O Rui sempre foi independente, desde pequeno. Casou cedo com a Marta, compraram casa em Odivelas, tinham planos para filhos e viagens. Mas tudo isso desmoronou quando ela lhe disse que já não o amava. Agora, ele estava ali, de novo no quarto onde cresceu, rodeado de posters antigos do Benfica e caixas de sapatos cheias de recordações.

No início tentei ser compreensiva. Preparei-lhe o prato preferido — bacalhau à Brás — e ouvi as suas mágoas noite após noite. Mas com o passar das semanas, a casa foi-se enchendo de coisas dele: papéis espalhados pela mesa da cozinha, sapatos no corredor, roupa suja na casa de banho. O meu refúgio tornou-se um campo de batalha.

Uma noite, depois de tropeçar numa mochila dele no escuro e quase partir um dedo do pé, explodi:

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