Estilo de vida saudável

Estilo de vida saudável Cuidamos da nossa saúde física e psicológica

— Não é justo, mãe! Porque é que a Mariana pode faltar ao conservatório e eu não? — gritei, sentindo o nó na garganta ap...
21/07/2025

— Não é justo, mãe! Porque é que a Mariana pode faltar ao conservatório e eu não? — gritei, sentindo o nó na garganta apertar-se ainda mais. A minha mãe olhou-me com aquele olhar cansado, como se já tivesse ouvido esta discussão mil vezes.

— Leonor, cada uma tem as suas responsabilidades. A Mariana tem o ballet, tu tens o piano. Não compares, filha.

Mas era impossível não comparar. Desde que me lembro, tudo em casa girava à volta da minha prima Mariana. Ela era a filha perfeita da tia Teresa: notas excelentes, campeã de ginástica, sempre sorridente e rodeada de amigos. Eu era a irmã mais velha, a que devia dar o exemplo à minha irmã mais nova, Matilde, mas sentia-me sempre aquém. Ouvia os sussurros nas festas de família: "A Mariana já ganhou outro prémio", "A Leonor podia esforçar-se mais".

O pior era que Matilde, dois anos mais nova do que eu, parecia ter herdado o brilho da Mariana. Era extrovertida, fazia amigos com facilidade e tirava boas notas sem grande esforço. Eu lutava por cada ponto nos te**es, por cada sorriso dos professores. Sentia-me invisível.

Foi por isso que, quando o nosso irmão mais novo, o Tomás, nasceu, prometi a mim mesma que ele não ia passar pelo mesmo. Ia ajudá-lo a ser melhor do que eu fui — ou melhor, melhor do que todos nós. Talvez assim a mãe finalmente se orgulhasse de mim.

Tomás era um miúdo doce, mas distraído. Gostava de desenhar monstros e construir cidades de Lego no chão da sala. Não ligava a competições nem a prémios. Mas eu via nele uma oportunidade: se ele brilhasse, talvez eu também brilhasse um pouco através dele.

Comecei devagar. "Tomás, porque não te inscreves no clube de xadrez? Dizem que é bom para o raciocínio." Ele encolheu os ombros, mas lá foi. Depois foi o futebol — "Todos os rapazes jogam! Vais fazer amigos!" — e as aulas de inglês ao sábado de manhã. Cada nova atividade era uma peça no puzzle da minha redenção.

A mãe achava graça ao meu entusiasmo. "Deixa o rapaz respirar, Leonor", dizia entre risos. Mas eu insistia: "É para o bem dele!"

O Tomás começou a ficar cansado. Chegava a casa com olheiras, largava a mochila no chão e desaparecia para o quarto sem dizer nada. Uma noite ouvi-o chorar baixinho. Entrei sem bater.

— O que se passa?

Ele limpou as lágrimas com as costas da mão.

📜 Ainda tem mais… e está imperdível. Veja nos comentários👇

— Outra vez sopa de legumes, Ana? Já não tens imaginação nenhuma para cozinhar? — A voz da minha mãe ecoa pela cozinha, ...
21/07/2025

— Outra vez sopa de legumes, Ana? Já não tens imaginação nenhuma para cozinhar? — A voz da minha mãe ecoa pela cozinha, carregada de impaciência e um certo desdém que me fere mais do que deveria.

Respiro fundo, conto até três. Não respondo. Não vale a pena. Desde que a minha mãe se reformou, há dois anos, parece que o tempo lhe pesa nos ombros e tudo à volta se tornou motivo de queixa. Eu sou o alvo preferido. Sou filha única, trinta e cinco anos, solteira, a viver com ela num apartamento antigo em Benfica. O meu pai morreu cedo, e sempre fomos só nós as duas. Mas nunca foi assim — nunca senti este cansaço, esta exaustão emocional.

— Se não gostas, podes fazer tu — murmuro, tentando manter a voz neutra.

Ela revira os olhos. — Eu já fiz comida toda a vida! Agora é tua vez de cuidar de mim. Para isso trabalhei tanto!

É sempre isto: a dívida invisível da maternidade. Sinto-me presa numa teia de obrigações que nunca pedi.

No trabalho, sou assistente administrativa numa clínica dentária. O dia inteiro a ouvir reclamações de pacientes nervosos, médicos apressados. Quando chego a casa, só queria silêncio. Mas Dona Lurdes está à minha espera com uma lista interminável de lamúrias: as dores nas costas, o preço do pão, o barulho dos vizinhos, a solidão dos dias longos.

Uma noite, depois de mais uma discussão sobre o canal da televisão — ela quer ver novelas, eu preciso de um pouco de música para relaxar — fecho-me no quarto e deixo-me cair na cama. As lágrimas correm sem aviso. Sinto-me egoísta por desejar distância da minha própria mãe. Mas também sinto raiva por ela não perceber o quanto me magoa.

No dia seguinte, ao pequeno-almoço, ela começa:

— Sabes quem encontrei ontem no supermercado? A Maria do 3º andar. O filho dela levou-a ao Algarve no fim-de-semana passado. Diz que foi maravilhoso! Mas tu nunca tens tempo para mim...

A culpa instala-se como uma pedra no estômago. Sei que devia fazer mais por ela. Mas como posso dar-lhe alegria se eu própria me sinto esgotada?

Tento conversar com ela:

— Mãe, porque não vais ao centro de dia? Podias conhecer pessoas novas...

📖 Quer saber como termina? Está tudo nos comentários 👇

— Não mexas aí, Inês! — gritou o meu irmão Rui, com a voz embargada, enquanto eu remexia na gaveta do aparador antigo. O...
21/07/2025

— Não mexas aí, Inês! — gritou o meu irmão Rui, com a voz embargada, enquanto eu remexia na gaveta do aparador antigo. O cheiro a madeira velha e a naftalina enchia o ar da casa da nossa mãe, agora vazia, fria, cheia de ecos e memórias. Mas eu não conseguia parar. Precisava de sentir que ainda havia algo dela ali, algo que me dissesse que tudo isto não era um pesadelo.

— Rui, deixa-me em paz! — respondi, já com lágrimas nos olhos. — Só quero encontrar o álbum das fotografias do verão de 1987…

Foi então que a minha mão tocou num objeto estranho, duro, escondido debaixo de um velho pano de linho. Era uma caixa de bombons Regina, daquelas antigas, com desenhos de flores já desbotados. O coração bateu-me mais forte. Abri-a devagarinho e lá dentro estava um envelope amarelecido, fechado com fita adesiva. Não tinha nome, só uma data: 12 de março de 1978.

— O que é isso? — perguntou Rui, aproximando-se.

— Não sei… — respondi, sentindo um frio na barriga.

Abri o envelope. Dentro estava uma carta escrita à mão, com a caligrafia inconfundível da nossa mãe. As primeiras linhas fizeram-me gelar:

"Meu querido António,

Sei que nunca terei coragem de te dizer isto frente a frente. O segredo que guardo pesa-me todos os dias…"

Continuação no primeiro comentário 👇

— Não quero ouvir mais desculpas, Leonor! — gritou o António, atirando as chaves para cima da mesa da cozinha. O som met...
21/07/2025

— Não quero ouvir mais desculpas, Leonor! — gritou o António, atirando as chaves para cima da mesa da cozinha. O som metálico ecoou pela casa, misturando-se com o cheiro do jantar queimado que eu já nem tinha forças para salvar. Senti o coração apertar-se no peito, como se cada palavra dele fosse um prego a cravar-se na minha pele.

— Eu só queria conversar… — murmurei, tentando controlar as lágrimas. Mas ele já tinha virado costas, deixando-me sozinha com o silêncio pesado e o nó na garganta.

Não era a primeira vez. Nos últimos meses, as discussões tinham-se tornado rotina. Pequenas coisas — o jantar atrasado, a roupa por passar, um olhar trocado a despropósito — tudo servia de faísca para uma explosão. Eu tentava sempre apaziguar, mas sentia-me cada vez mais invisível, como se a minha voz não tivesse peso naquela casa.

Naquela noite, depois de ouvir mais insultos do que conseguia suportar, peguei no casaco e saí. As ruas de Coimbra estavam frias e húmidas, mas caminhei sem hesitar até à casa dos meus pais. O caminho parecia mais longo do que nunca, cada passo carregado de dúvidas e medo.

Quando cheguei, bati à porta com mãos trémulas. A minha mãe abriu-a, mas não sorriu. O meu pai apareceu logo atrás dela, com o rosto fechado.

— Leonor? O que fazes aqui a esta hora? — perguntou ele, sem sequer me convidar a entrar.

— Preciso de falar convosco… — comecei, mas a voz falhou-me. Senti as lágrimas a escorrerem pelo rosto.

A minha mãe cruzou os braços. — Outra vez problemas com o António?

Assenti, incapaz de falar. Ela suspirou alto.

— Leonor, tu complicas tudo — disse ela, balançando a cabeça. — Sempre foste assim, tão sensível…

O meu pai interrompeu-a:

💬 Essa história ainda não acabou. Leia o resto abaixo 👇

— Outra vez, António? — gritei da cozinha, sentindo o frio do frigorífico aberto invadir-me os pés descalços. — São três...
20/07/2025

— Outra vez, António? — gritei da cozinha, sentindo o frio do frigorífico aberto invadir-me os pés descalços. — São três da manhã!

Ele olhou para mim com aquele ar de miúdo apanhado em flagrante, uma fatia de queijo meio mastigada na boca. — Não consegui dormir, Marta. O estômago não me deixa em paz.

Fechei os olhos, tentando controlar a raiva e o cansaço. Já não era a primeira vez. Desde que o António ficou desempregado, há seis meses, que as noites se tornaram um desfile de idas furtivas ao frigorífico. O silêncio da casa era interrompido pelo som do plástico das embalagens, das gavetas a deslizar, do micro-ondas a apitar baixinho.

— Sabes que temos de poupar, não sabes? — sussurrei, tentando não acordar a nossa filha, Leonor, que dormia no quarto ao lado.

Ele encolheu os ombros, olhos baixos. — Eu sei, Marta. Mas não consigo evitar. Sinto-me vazio…

Vazio. Não era só o estômago dele que estava assim. O vazio tinha-se instalado entre nós, silencioso e pesado como uma nuvem de tempestade. Antes, António era o pilar da casa: trabalhador, brincalhão, sempre com uma solução para tudo. Agora, passava os dias no sofá, a ver televisão ou a enviar currículos que nunca eram respondidos.

A comida tornou-se o seu refúgio. E eu… eu sentia-me cada vez mais sozinha nesta luta.

Na manhã seguinte, acordei com o cheiro a torradas queimadas. Entrei na cozinha e vi António a tentar raspar o carvão de uma fatia de pão.

Continuação no primeiro comentário 👇

— Dona Marta? — a voz do outro lado era fria, quase mecânica. — O seu marido, António, teve um acidente. Mas… não é só i...
20/07/2025

— Dona Marta? — a voz do outro lado era fria, quase mecânica. — O seu marido, António, teve um acidente. Mas… não é só isso.

O telefone quase escorregou-me das mãos. O sangue gelou-me nas veias. Senti o chão fugir dos pés. — Como assim, não é só isso? — perguntei, a voz trémula, já a antecipar o pior.

— Precisa de vir ao hospital de Santa Maria imediatamente. Ele está consciente, mas… estava acompanhado no carro.

Não ouvi mais nada. Larguei tudo — a loiça por lavar, o jantar por acabar, a minha filha Inês a perguntar porque é que eu chorava. Saí de casa a correr, tropeçando nos degraus da entrada do nosso prédio em Benfica. O ar da noite parecia mais pesado, como se Lisboa inteira estivesse suspensa naquele momento.

No táxi, as perguntas atropelavam-se na minha cabeça. Quem estava com ele? O que é que aconteceu? Porque é que ninguém me diz nada? O motorista olhou-me pelo retrovisor, talvez assustado com o meu soluçar descontrolado.

Cheguei ao hospital e fui recebida por uma enfermeira de rosto cansado. — Dona Marta? Venha comigo, por favor.

O corredor cheirava a desinfetante e medo. Passámos por uma sala de espera cheia de gente — mães com crianças febris, idosos cabisbaixos, um rapaz com sangue na camisa. A enfermeira parou junto a uma porta e olhou-me nos olhos.

— O seu marido está ali dentro. Está estável. Mas…

Continuação no primeiro comentário 👇👇👇

— Valentina, vais mesmo sair assim? — A voz da minha mãe ecoou pela casa, carregada de incredulidade e um toque de vergo...
20/07/2025

— Valentina, vais mesmo sair assim? — A voz da minha mãe ecoou pela casa, carregada de incredulidade e um toque de vergonha. Olhei para ela, depois para os meus braços nus, onde os pêlos castanhos se destacavam sob a luz do corredor. Senti o coração apertar, mas mantive-me firme.

— Vou, mãe. Estou cansada de me esconder. — A minha voz saiu mais trémula do que queria.

Ela suspirou alto, como se carregasse o peso do mundo nos ombros. — Não percebo esta mania. Sempre foste tão cuidadosa… O que é que as pessoas vão pensar?

O que é que as pessoas vão pensar? Essa frase perseguia-me desde a infância. Cresci em Almada, numa família tradicional portuguesa, onde as mulheres se depilavam religiosamente e os homens faziam piadas sobre "mulheres peludas" à mesa do jantar. Lembro-me de ter 11 anos e de a minha avó me chamar à cozinha para me mostrar uma lâmina nova. "Já está na altura, menina. Não queremos que andes por aí feita selvagem."

Aos 13 já sentia vergonha dos meus próprios braços. Aos 16, depilava-me obsessivamente antes das aulas de Educação Física. Aos 20, já tinha desenvolvido uma relação doentia com o espelho: cada pêlo era um inimigo, cada falha uma vergonha. Mas ninguém sabia que por trás desse ritual havia uma condição: hipertricose. O meu corpo produzia mais pêlos do que o "normal" — fosse lá o que isso significasse.

Aos 30 anos, depois de uma década a tentar encaixar-me num molde impossível, decidi parar. Não foi um momento de coragem súbita; foi cansaço acumulado. Cansaço de dores, de irritações na pele, de gastar dinheiro em cremes e lâminas, de ouvir piadas dos colegas no escritório em Lisboa.

O primeiro dia em que fui trabalhar sem me depilar foi um teste à minha coragem. Sentei-me à secretária e senti os olhares furtivos dos colegas. A Joana, do departamento financeiro, aproximou-se com um sorriso forçado.

— Valentina… Estás bem? — perguntou baixinho.

— Estou ótima. Porquê?

Ela hesitou, olhando para os meus braços. — Nada… Só achei estranho…

Sorri-lhe com toda a força que consegui reunir. — É só pêlo, Joana. Não morde.

No almoço, ouvi risos abafados vindos da mesa dos rapazes do marketing. Um deles murmurou: "Parece o primo Rui depois das férias no Alentejo." Senti o rosto arder, mas continuei a comer como se nada fosse.

À noite, em casa dos meus pais para jantar, o ambiente estava pesado. O meu pai olhou-me de cima a baixo e disse apenas:

👀 Algo surpreendente aconteceu depois... veja nos comentários 👇

— Não podes simplesmente ignorar isto para sempre, Sofia! — gritei da cozinha, a água quente a escorrer pelas minhas mão...
20/07/2025

— Não podes simplesmente ignorar isto para sempre, Sofia! — gritei da cozinha, a água quente a escorrer pelas minhas mãos enquanto esfregava vigorosamente um prato que parecia nunca mais ficar limpo. O barulho da televisão na sala abafava as minhas palavras, mas eu sabia que ela me ouvia. Sempre ouvia.

Ela não respondeu. O som da novela continuava, as vozes dramáticas dos atores misturando-se com o tilintar dos talheres que eu atirava para dentro do escorredor. Senti o peito apertar. Nunca gostei de lavar a loiça — era tarefa dela, pelo menos desde que o Miguel nasceu e eu comecei a fazer mais horas no escritório. Mas hoje, ao vê-la tão distante, perdida no ecrã como se o mundo à volta tivesse deixado de existir, decidi pegar eu na esponja. Talvez fosse só para evitar mais uma discussão. Talvez fosse para sentir que ainda conseguia fazer alguma coisa útil nesta casa.

A porta da rua bateu com força. O Miguel tinha saído há pouco para ir ter com os amigos, mas aquela pancada soou diferente. Um frio percorreu-me a espinha. Lembrei-me de quando era miúdo e ouvia os meus pais discutir na cozinha — sempre à volta da loiça, sempre à volta de pequenas coisas que escondiam problemas maiores.

— Sofia, precisamos mesmo de falar — insisti, tentando controlar o tom da voz. — Isto não pode continuar assim.

Ela levantou-se finalmente do sofá, arrastando os chinelos pelo chão de madeira. Veio até à porta da cozinha e encostou-se ao batente, braços cruzados.

— Falar sobre o quê, João? Sobre como já não nos suportamos? Sobre como fingimos todos os dias que está tudo bem só para o Miguel não perceber?

O prato escorregou-me das mãos e partiu-se no fundo do lava-loiça. O estalido seco ecoou pela casa. Fiquei a olhar para os cacos, sentindo-me tão partido quanto aquela loiça barata do Continente.

Continuação no primeiro comentário 👇👇

— Ela, precisamos de falar — disse o Marek, a voz dele tão fria que me gelou o sangue. O telefone tremia-me na mão, e eu...
20/07/2025

— Ela, precisamos de falar — disse o Marek, a voz dele tão fria que me gelou o sangue. O telefone tremia-me na mão, e eu olhava para a mala junto à porta, como se ela pudesse responder por mim. Trinta anos juntos. Trinta anos de rotinas, de discussões por causa das contas da luz, de beijos apressados antes do trabalho, de silêncios cúmplices ao fim do dia. E agora, tudo parecia desmoronar-se num segundo.

— Diz lá, Marek — respondi, tentando manter a voz firme, mas sentia-a a falhar-me.

— Eu... eu vou sair de casa. Não posso continuar. Estou apaixonado pela Teresa. — O nome dela caiu como uma pedra no poço do meu estômago. Teresa. A Teresa das tardes de praia em Cascais, das conversas intermináveis sobre filhos e sonhos. A Teresa que eu considerava quase uma irmã.

Fiquei sem ar. O silêncio entre nós era tão pesado que quase me sufocava. Lembrei-me do dia em que conheci o Marek, na faculdade em Lisboa, do sorriso tímido dele quando me pediu para dançar num arraial. Lembrei-me do nascimento da nossa filha, Inês, e do nosso filho mais novo, o Tomás. Lembrei-me das noites em claro quando ele perdeu o emprego e eu tive de trabalhar dobrado no hospital para pagar a renda.

— Não acredito... — murmurei, mas ele já tinha desligado.

A mala estava ali há dias. Ele dizia que ia visitar a mãe ao Porto, mas eu sabia que havia algo errado. Agora tudo fazia sentido. Senti-me ridícula por não ter percebido antes.

A Inês ligou-me pouco depois.

— Mãe? Estás bem? O pai acabou de me ligar... — A voz dela tremia.

Continuação no primeiro comentário 👇👇👇

— Não acredito que vais mesmo fazer isto, Sofia! — gritou a minha irmã, Inês, com os olhos marejados de lágrimas e a voz...
20/07/2025

— Não acredito que vais mesmo fazer isto, Sofia! — gritou a minha irmã, Inês, com os olhos marejados de lágrimas e a voz a tremer de raiva. — O pai confiou em ti! Como é que consegues sequer pensar em deixá-lo num sítio daqueles?

As palavras dela ecoaram na minha cabeça como um trovão. Eu estava sentada à mesa da cozinha, as mãos geladas a apertar uma chávena de chá já frio. O cheiro do pão torrado misturava-se com o da ansiedade que pairava no ar. O meu irmão mais novo, Miguel, mantinha-se calado, mas o olhar dele dizia tudo: desilusão, talvez até desprezo.

O meu pai, António, sempre foi um homem forte. Trabalhador da construção civil, criou-nos sozinho depois da morte da nossa mãe. Lembro-me das mãos dele, calejadas mas ternas, a segurar as minhas quando eu tinha medo do escuro. Mas agora era ele quem tinha medo — medo de se perder dentro da própria cabeça.

O diagnóstico de Alzheimer chegou como um terramoto. Primeiro foram os esquecimentos pequenos: as chaves, o nome do vizinho, o dia da semana. Depois vieram as noites em claro, os gritos no corredor, o olhar vazio quando me chamava pelo nome da minha mãe. Eu tentei cuidar dele em casa. Juro que tentei. Passei noites acordada ao lado dele, a acalmá-lo quando se assustava com sombras imaginárias. Faltava ao trabalho para ir às consultas, discutia com os médicos sobre medicação, chorava sozinha na casa de banho para não assustar os meus filhos.

Mas chegou um ponto em que já não conseguia mais. O meu marido começou a reclamar do cansaço, os meus filhos adolescentes evitavam vir a casa para não ouvirem os gritos do avô. Eu própria sentia-me a desmoronar. Foi então que procurei ajuda e encontrei o Lar São Vicente, ali perto de Sintra. Visitei-o três vezes antes de tomar uma decisão. O ambiente era limpo, os funcionários pareciam carinhosos e havia um jardim onde os utentes podiam passear.

No dia em que levei o meu pai ao lar, ele olhou para mim com uma expressão confusa.

— Sofia… vamos aonde? — perguntou ele, segurando-me na mão como uma criança perdida.

— Vamos ver um sítio bonito onde podes descansar e fazer amigos — menti-lhe, sentindo o coração a partir-se em mil pedaços.

Continuação no primeiro comentário 👇👇👇

— Ana, desculpa, mas podias ajudar-me a encontrar os óculos? — perguntei, com a voz trémula, enquanto ela passava apress...
20/07/2025

— Ana, desculpa, mas podias ajudar-me a encontrar os óculos? — perguntei, com a voz trémula, enquanto ela passava apressada pelo corredor.

Ela suspirou, sem sequer me olhar nos olhos. — Mãe, estão sempre a desaparecer. Já viste na sala?

O som dos seus passos afastando-se ecoou mais alto do que as palavras. Fiquei ali, sentada na ponta da cama, com as mãos a tremer. Senti-me pequena, invisível. O relógio da parede marcava 18h12. Lá fora, o céu de Lisboa tingia-se de laranja, mas dentro de mim tudo era cinzento.

Quando o meu António morreu, há três anos, pensei que a dor nunca passaria. Mas passou. Ou melhor, transformou-se noutra coisa: uma ausência constante, um silêncio pesado que se instalou nesta casa onde agora vivo com a Ana e o Rui, o meu genro. Eles acolheram-me porque "não fazia sentido uma mulher da minha idade ficar sozinha", disseram. Mas será que faz sentido viver assim?

A Ana mudou muito desde que casei com o Rui. Sempre foi uma filha dedicada, mas agora parece que tudo o que faço a irrita. Sinto-me um estorvo. Tento não pedir nada, mas há dias em que até levantar-me custa. O corpo já não responde como antes. As mãos doem-me, as pernas fraquejam. E quando preciso de ajuda, vejo nos olhos dela um cansaço que me corta a alma.

— Mãe, tens de ser mais independente — disse-me ela há uns meses, depois de uma discussão porque deixei cair um copo no chão da cozinha.

— Eu tento, filha... — respondi, com lágrimas nos olhos.

Ela virou costas. Fiquei ali a olhar para os cacos espalhados no chão frio. Lembrei-me dos tempos em que era eu quem limpava tudo, quem cuidava dela quando tinha febre ou pesadelos. Agora sou eu quem precisa de colo.

O Rui é mais distante. Cumprimenta-me de manhã e à noite, mas raramente me dirige a palavra. Sei que não gosta de ter uma sogra em casa. Ouço-o às vezes a falar com a Ana na cozinha:

— Isto não pode continuar assim. A tua mãe precisa de cuidados que nós não conseguimos dar.

— Eu sei, Rui... mas não consigo deixá-la sozinha — responde ela, num sussurro.

📜 Ainda tem mais… e está imperdível. Veja nos comentários👇

— Não percebo, Inês. Achas mesmo que é justo estares sempre a reclamar? — A voz do Miguel ecoava pela cozinha, misturada...
20/07/2025

— Não percebo, Inês. Achas mesmo que é justo estares sempre a reclamar? — A voz do Miguel ecoava pela cozinha, misturada com o cheiro do café frio e o choro abafado do nosso filho, o Tomás, no quarto ao lado.

A minha mão tremia enquanto segurava a chávena. O relógio marcava 6h12 da manhã. Mais uma noite sem dormir, mais uma madrugada em que fui só eu a levantar-me para acalmar o Tomás. Olhei para o Miguel, sentado à mesa, olhos colados ao telemóvel.

— Não estou a reclamar, Miguel. Só queria que me ajudasses um pouco mais… — tentei não chorar, mas a voz saiu-me trémula.

Ele suspirou, impaciente. — Inês, eu trabalho o dia todo. Preciso de descansar. A minha mãe pode vir cá ajudar-te, já te disse.

A palavra "ajudar" soou como uma sentença. A mãe dele. Sempre ela. Desde que o Tomás nasceu, era ela quem vinha cá quase todos os dias. No início agradeci, mas agora sentia-me uma intrusa na minha própria casa. Ela criticava tudo: como dava banho ao bebé, como arrumava as roupas, até como cozinhava.

Lembro-me da primeira vez que ela entrou no quarto do Tomás sem bater à porta:

— Inês, não é assim que se segura um bebé! — disse ela, tirando-me o meu próprio filho dos braços.

Fiquei paralisada. Senti-me pequena, inútil. Olhei para o Miguel à espera de apoio, mas ele só encolheu os ombros e saiu do quarto.

Os dias passaram e a sensação de solidão crescia dentro de mim. A casa enchia-se de vozes, mas nenhuma era para mim. O Tomás chorava muito e eu sentia-me cada vez mais incapaz. Tentei falar com a minha mãe ao telefone:

— Filha, tens de ter paciência. Os homens são assim… — dizia ela, com aquele tom resignado que sempre me irritou.

Mas eu já não queria paciência. Queria ser ouvida.

Uma tarde, depois de mais uma discussão com o Miguel sobre quem devia mudar a fralda ao Tomás, liguei à minha melhor amiga, a Marta. Ela ouviu-me em silêncio e depois disse:

📖 Quer saber como termina? Está tudo nos comentários 👇

Endereço

Lisbon

Notificações

Seja o primeiro a receber as novidades e deixe-nos enviar-lhe um email quando Estilo de vida saudável publica notícias e promoções. O seu endereço de email não será utilizado para qualquer outro propósito, e pode cancelar a subscrição a qualquer momento.

Entre Em Contato Com A Prática

Envie uma mensagem para Estilo de vida saudável:

Compartilhar