01/02/2024
Aqui estou eu num congresso de estética. Paris cidade luz.
Primeiro dia tudo cheio, alheios ao trânsito pesado (heavy traffic) da cidade pululante de vida (e de chuva), e as figuras parecem saídas dum filme de Fellini ou, mais recentemente, do Star Wars.
Faces desfiguradas por preenchimentos desajustados, lábios de osga parecendo que se vão pegar ao casaco do congressista sentado na fila da frente, cabelos enxertados, extensões, tintas, cores variadas, mamas siliconadas de 50 a 250 mililitros, mulheres que parecem trans (serão?) e homens (que são) trans. Sem esquecer os narizes plantados em faces que nada têm a ver com eles mas são “signature” de quem os “criou”!
Hoje salas cheias, pessoas acotovelam-se para entrar à frente, para ouvir comunicações, repetidas com uma veste renovada, slides em que a data foi actualizada, sessões espalhadas por mil e uma salas e cá fora expositores com as devices “update” mais variadas e injectáveis miraculosos com que os mais atrevidos e abonados vão preencher malares, frontes e até papadas a fim de obter a desejada aparência, quanto mais bizarra melhor(pior).
Amanhã esta feira de verdades vai esvaziar-se e encher as lojas de Paris dando lugar aqui no Palais dês Congrés aos interessados em tentar apanhar alguma novidade, ou melhor, alguma inovação para fazer a mesma coisa.
Isto é a Medicina Estética do século XXI.
Uns tantos aprendem e compram materiais para depois se injectarem e mostrarem-se ao mundo como “andar modelo” para os outros que caírem na rede do seu poleiro (consultório) se perfilarem em experiências orgásmicas de faces distorcidas e dignas do melhor kitch futurista de George Lucas.
Pergunto-me porque virei eu a isto?
Sempre na esperança de levar para consumo interno algum “truque” que ainda não saiba na Estética controlada e reconstrutiva que pratico aos meus utentes e um passeio, sempre desopilante, por esta cidade de Luízes (algum decapitado) e Napoleões que ainda respiram nas paredes da rive gauche e da Ille de Saint Louis, ou nos arejados Boulevards de esquinas cortadas desenhados por Haussmann e povoados por turistas orientais e “indígenas”muçulmanos já na 3.ª ou 4.ªgeração, hoje com tractores e fardos de palha dos “agricuteurs” nos arredores da cidade a prepararem-se para invadir o Periférique e chegarem ao miolo do país de De Gaulle, não para se insurgirem contra estas figuras distorcidas pela estética moderna, mas contra o acordo da Europa com a Mercosul.