28/04/2021
Temos doentes e famílias que são a nossa história de vida.
Esta menina tem 42 anos, é minha doente há quase 30 anos.
Acabei o curso em 1993, mas em 1992 comecei a ir a uma clínica propriedade de um senhor Odontologista com qual aprendi muito, o Dr. Diamantino Represas Monteiro.
Na altura, os médicos dentistas ainda não eram 1000, e trabalhar no último ano do curso embora proibido era normal.
O Dr. Diamantino tinha sofrido um enfarte nesse ano, com 62 anos e precisava de alguém para o ajudar, através do pai da minha namorada que também era Odontologista cheguei a ele.
O horário da clínica era o seguinte:
9.30 - 12.30
15.00 19.00
Folga à 3.a feira da parte da tarde.
Comecei a fazer as tardes sempre com a supervisão do Dr. Diamantino.
Mesmo comigo já licenciado o Dr. sempre foi todas as tardes para a clínica, pois nunca consegui largar o bicho dos dentes, e assim foi até 99/2000.
A Clínica situava-se em Lisboa ao fim da Rua da Madalena e chamava-se Clinica Dentária de Santa Madalena; nada a ver com as outras Madalenas que apareceram depois; era modesta mas com bons materiais, tinha apenas um gabinete.
Em 1999/2000 o Presidente da Câmara de Lisboa João Soares achou que seria melhor despejar o prédio para fazer um elevador para o Castelo de São Jorge; de um dia para o outro fechou a clínica com o alvará mais antigo de Lisboa, que já vinha do século XIX.
O dito elevador (felizmente) nunca foi feito, o prédio foi reabilitado, os antigos inquilinos não foram chamados e para o nosso piso foi uma associação prima da ILGA.
Valor mínimo de consulta era sete contos, actuais 35 euros (há 30 anos), no fim dos anos 90 começou a distribuição de folhetos no metro da Praça da Figueira que anunciavam 4 contos (20 euros) todos os tratamentos; recordo perfeitamente o Dr. sair do metro e chegar à clínica possuído em como era possível praticar aqueles preços.
Seguros ninguém sabia o que era.
O Dr. Diamantino abriu outra clínica e circunstâncias pessoais levaram-me a tomar outro caminho e vim para as Amoreiras, mas mantivemos a nossa relação de amizade e enorme respeito mútuo.
Foi o meu primeiro doente com reabilitação superior com 8 implantes Straumann.
Na fase intermédia de fecho da clínica tive a infeliz experiência de uma Vitaldente da 1.a geração.
Voltando à menina, faz parte da família mais antiga que atendo e vão 4 gerações.
O avó e pai farmacêuticos na rua da clínica, a mãe, o irmão e actualmente os filhos.
O pai foi o segundo doente ao qual coloquei implantes em 1997; dois Straumann em 15 e 17 que estão la como se tivessem sido colocados agora.
Quanto a ela, com 12 anos teve fractura metade do 1.1 restaurei na altura com o compósito Herculite XRV da KERR que tinha cores para dentina, esmalte, um opaco e dois translúcidos para incisal.
Adesivo 3 passos da 3M.
Para outras restaurações também tinha o velho Z100 da 3M que tinha acabado de sair.
De todas as restaurações, o 16, 17 e 47 são anteriores a 1999 (mais de 23 anos); os dentes 27, 36 e 37 foram restaurados entre 2002/2003, o 46 teve uma reparação oclusal em 2010 sendo a radiotrasparência distal de um compósito mais antigo, está bem e recomendado-se.
Em 2002 fez uma faceta de 11 que durou até 2015, por essa altura o dente escureceu.
Fiz nova faceta, as fotografias são de hoje, apresenta ligeira recessão gengival que não é visível por o sorriso ser baixo.
Em 2017 e 2018 teve pulpite reversível; há cerca de 3 semanas teve episódio de dor e apresenta-se necrosado.
Pelo meio desta longa história já nas Amoreiras fiz exo do 28, não com o boticão da fotografia, que também tem uma história.
Foi-me dado pelo Dr. Diamantino antes da clínica fechar e trabalho com ele desde 1992.
Estava nas mãos do Dr. desde 1976 quando fez a legalização como Odontologia e tinha-lhe sido dado por um Médico Estomatologia que já trabalhava com ele há quase 50 anos nos HCL.
Pensa-se que será dos anos 30, tem as letras HCl, ou seja Hospitais Civis de Lisboa, estando ao serviço das exodontias há 90 anos.
Sempre gostei dele, pois tem o encaixe perfeito na minha mão.
Por estas histórias, sendo especialista em cirugia oral, nunca abandonei outros tratamentos, pelos doentes, pela visão abrangente que quero continuar a ter da medicina dentária.