
02/09/2025
CARREGANDO O MATERIAL ESCOLAR - AS "COSTAS" DOS NOSSOS FILHOS E DOS NOSSOS NETOS
É comum vermos crianças com mochilas às costas "maiores" que o seu tamanho. Quais as consequências que daí advêm?
O uso de mochilas de forma inadequada ou com peso excessivo é uma das causas principais de dores na coluna em crianças e adolescentes podendo levar a posições viciosas da coluna vertebral, as quais poderão ter consequências para a saúde óssea e articular.
Não nos podemos esquecer que o esqueleto das crianças e adolescentes está em crescimento, por vezes de forma rápida, como é o caso da altura da puberdade. Qualquer força deformante exercida numa coluna vertebral mais susceptível, devido a esse processo natural de crescimento, poderá ter consequências mais graves, do que se passaria num esqueleto já adulto.
- Qual o peso máximo recomendado?
Apesar de não haver total evidência sobre esta questão, alguns especialistas e investigadores desta temática, apontam para um peso que não deve ultrapassar o valor de 10% do peso da criança. Este valor deve também levar em conta outras condicionantes, como seja o grau de maturidade e de desenvolvimento muscular da criança. Por exemplo, os rapazes com mais frequência têm um desenvolvimento muscular superior, pelo que poderão suportar um peso maior, comparando com uma rapariga do mesmo peso.
Uma forma de avaliar se existe um peso excessivo é analisar a postura da criança enquanto carrega a mochila. Se o peso for excessivo, existe uma inclinação dos ombros, com o tronco projetado para a frente.
- Quais os critérios a ter em conta na escolha do tipo de mochila?
As mochilas de rodas são preferíveis, mas estas devem ser transportadas e levantadas sempre com posturas equilibradas.
No entanto, no caso de uso das mochilas de “trazer às costas” deve ter-se em conta várias particularidades. Estas não devem ultrapassar a cintura da criança e devem adaptar-se bem às costas da mesma. As alças (largas e com material amortecedor) devem ajustar-se a o corpo, passando a nível dos ombros. De preferência, e de forma a permitir uma estabilidade maior, deve também existir um cinto a passar pela altura da barriga da criança. Nunca deve ser usada apenas uma alça para transportar a mochila, pois tal vai provocar um desvio lateral da coluna.
- Que problemas podem ter as crianças ao transportarem mais carga nas mochilas? Quais os sintomas e patologias que podem surgir?
Vários estudos apontam os desequilíbrios no transporte de material pelas crianças como uma das principais causas de dores na coluna para este escalão etário.
Como problemas principais e mais frequentes podem surgir:
- Escoliose: desvio lateral da coluna, em parte uma parte dos seus segmentos deixa de estar centrada com o eixo do corpo. Pode ser só funcional e, neste caso, redutível. No entanto, pode posteriormente evoluir para alterações da estrutura da coluna, tornando-se persistente e eventualmente progressiva.
- Hiperlordose: a curvatura normal da coluna lombar torna-se mais pronunciada, levando também a alterações da estabilidade da bacia.
- Hipercifose: a criança parece “amarrecada”, com a sua coluna dorsal inclinando-se para a frente.
- Contracturas Musculares: o conjunto de músculos que envolve a coluna vertebral começa a sofrer se existir uma postura anormal. Os músculos podem contrair-se com facilidade e originarem dores locais, por vezes bastante incapacitantes.
- Hérnias discais e eventual compromisso neurológico: posições viciosas mantidas ou movimentos não equilibrados bruscos, podem levar ao aparecimento de hérnias discais (bombeamento dos discos que estão entre as vértebras da coluna). Em casos mais graves, pode haver compressão de um nervo ou da própria medula.
- Como prevenir estas situações?
A vigilância (regular) por parte dos pais em relação ao material que os filhos levam nas mochilas, ao peso total das mesmas, à sua colocação no corpo da criança, é essencial. Por vezes, as crianças tendem a levar mais do que o necessário para um dia específico.
A escolha de uma boa mochila, adequada à altura e maturidade do esqueleto da criança é importante.
A utilização de depósitos de material na escola (cacifos), onde a criança possa colocar o material escolar, para não ter necessidade de o deslocar entre a casa e o centro educativo.
Não esquecer também a observação da coluna da criança em pé, nas várias posições, para detetar precocemente desvios do eixo da coluna, ou eventuais assimetrias do comprimento dos membros, as quais devem ser avaliadas com atenção, dado o risco de poderem evoluir num esqueleto em rápido crescimento.
Outro aspeto importante seria a existência de programas práticos de educação, na própria escola, por exemplo, ou de folhetos exemplificativos das melhores maneiras de abordar esta problemática.
Esperamos que tenha gostado deste artigo e que o mesmo tenha contribuído para a sua compreensão da necessidade de prevenção das possíveis deformações ou más posturas dos jovens.
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Agradecemos a atenção dispensada.
Paulo Clemente Coelho
Reumatologista
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