19/10/2025
🧠 Tramadol e o estudo do British Medical Journal: o que realmente devemos saber?
Nos últimos dias, o British Medical Journal publicou um novo estudo que avalia a eficácia e os efeitos secundários do Tramadol no tratamento da dor crónica.
O estudo conclui que os benefícios do medicamento são limitados e que há um risco aumentado de efeitos adversos.
Mas será assim tão simples? 🤔
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⚖️ Antes de tirar conclusões
Todos os estudos têm limitações — e este não é exceção.
O BMJ analisou o uso de Tramadol em quatro grupos de doenças:
➡️ Dor neuropática
➡️ Fibromialgia
➡️ Artroses
➡️ Lombalgias (dor nas costas)
Ora, o primeiro problema está logo na seleção:
👉 O Tramadol nunca é um fármaco de primeira linha para dor neuropática ou fibromialgia.
Nestes casos, é natural que a sua eficácia seja limitada, porque não é o medicamento certo para essas patologias.
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🦴 E nas artroses e lombalgias?
Também aqui há nuances importantes.
“Artrose” é um termo muito amplo — há formas leves e há outras avançadas, em que o problema é mecânico.
Nessas, nenhum medicamento consegue eliminar totalmente a dor.
Já as “lombalgias” incluem vários tipos de dor (muscular, articular, neuropática).
Em alguns casos o Tramadol ajuda; noutros, não. É por isso que a indicação correta é fundamental.
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🧬 A genética também conta!
Nem todos metabolizamos o Tramadol da mesma forma.
O nosso corpo transforma-o numa substância ativa através de enzimas (CYP2D6).
Alguns metabolizam demasiado rápido → maior risco de náuseas, tonturas, confusão.
Outros, demasiado devagar → menos efeito analgésico e mais efeitos cardiovasculares.
Isto explica porque o Tramadol funciona bem em cerca de 90% dos doentes, mas pode causar reações fortes nos restantes 10%.
Existem te**es genéticos que ajudam a prever estas reações — mas infelizmente são caros e pouco acessíveis.
💬 A mensagem essencial
O Tramadol é um medicamento útil — tanto na dor aguda (como no pós-operatório ou urgências) como em casos selecionados de dor crónica.
Como qualquer outro fármaco, deve ser usado com bom senso e sob vigilância médica.
Demonizá-lo seria um erro, tal como seria um erro ignorar os seus riscos.
Lembremo-nos:
🔹 Os anti-inflamatórios também têm efeitos cardíacos e renais graves.
🔹 Os anticonvulsivantes podem alterar o humor ou a cognição.
🔹 Até o paracetamol, em excesso, é tóxico para o fígado.
💡 Em resumo:
👉 O estudo do BMJ é importante e ajuda-nos a refletir.
Mas não deve ser interpretado de forma alarmista.
O Tramadol continua a ter o seu lugar — desde que bem indicado, na dose certa, pelo tempo certo e para o doente certo.