
01/07/2025
Dizia coisas que ninguém tinha dito. Sabia onde tocar, quando sorrir, o que dizer para que tudo em mim se abrisse. E eu abri. Dei. Acreditei. Entreguei-me sem rede.
Depois, aos poucos, fui notando que só existia quando o agradava. Quando o confirmava. Quando não o contrariava.
Se discordava, era “sensível demais”. Se me afastava, era “fria”. Se pedia algo, era “exigente”.
Comecei a duvidar de mim. Das minhas palavras. Da minha memória. Da minha intuição.
Quando chorava, ele ficava calado. Quando falava, era sempre sobre ele. O mundo girava à volta do que ele sentia, do que ele queria, do que ele merecia.
E eu? Eu fui ficando para trás. Fui diminuindo até caber nos cantos da relação. Fui moldando a voz, o corpo, o riso.
Hoje olho para trás e percebo: não fui amada. Fui usada como espelho. E aprendi a não confundir intensidade com vínculo. Encanto com presença. Adoração com amor.
Agora, estou a reaprender a ocupar espaço. A existir sem medo de apagar ninguém. A ser, mesmo que isso incomode.