11/07/2025
Há limites para ter mas não há limites para Ser.
Um excerto da entrevista a Marina Silva, historiadora, professora, psicopedagoga, ambientalista e política, realizada em Brasília, no Parque Olhos D'Água, no dia 2 de outubro de 2015.
Tudo para existir precisa de energia
(…)
Nós sabemos que é impraticável que 1% dos mais ricos fique com 40% da riqueza, enquanto que metade da população fique com 1%. O modelo de produção e consumo que temos hoje não tem forma de ser universal.
Universalizar este modelo seria extravazar todos os limites de suporte de regeneração do planeta. E se não pode ser universal, não pode ser defendido.
A sustentabilidade é uma visão de mundo, é um ideal de vida.
A humanidade caminhou a maior parte da sua trajetória baseada no ideal do ser. Apesar de ter cometido uma série de atrocidades, o referencial era o ser: os gregos queriam ser sábios e livres e por isso criaram a democracia; os romanos queriam ser grandes e fortes, por isso criaram o direito; os egípcios queriam ser imortais, por isso gastaram mais tempo a construir o túmulo do que a casa, dando, assim, um grande contributo à medicina; na Idade Média as pessoas queriam ser santas, mesmo cometendo muitos pecados e atrocidades em nome da Santidade. Chegados ao mercantilismo, há 450 anos, mudámos milhares de anos de trajectória civilizacional e o ideal do Ser é capturado pelo ideal do Ter.
O ser cientista ou filósofo transformou-se em fazer ciência e filosofia; o ser santo transformou-se em fazer igrejas, criar o dízimo e conquistar crentes; na década 60, aquando da revolução cultural, a relação amorosa entre duas pessoas transformou-se em fazer amor.
Numa cosmovisão em que a base de orientação é fazer e ter, há-que se criar um buraco negro para deitar tanta coisa que se faz. E nós criámos esse buraco negro, que se chama consumo. Fazemos e consumimos, fazemos e consumimos.
Agora chegámos a um ponto que tentando suprimir aquilo a que a natureza nos limitava, chegamos ao limite da própria natureza. E esses limites dizem-nos que há limites para ter. O planeta limita-nos. Somos 7 biliões de pessoas (em 2015) desejando infinitamente ter coisas.
Para vivermos num mundo que nos limite teremos de mudar do ideal do ter para o ideal do ser.
Há limites para ter mas não há limites para Ser.
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A entrevista está dividida em 4 partes disponíveis em:
parte 1: https://www.youtube.com/watch?v=-jfrFmdN5mc
parte 2: https://www.youtube.com/watch?v=r-0HJCJjTPc
parte 3: https://www.youtube.com/watch?v=U1NAM6Tbzsc
parte 4: https://www.youtube.com/watch?v=Hl0eytNTx7s
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