19/03/2025
Pai. Para algumas, um porto seguro, um olhar que sempre viu além do que éramos. Para outras, um vazio, um espaço em branco na história do coração. Para outras ainda, um nó difícil de desfazer, marcado por desafios e desencontros. De uma forma ou de outra, a figura paterna molda quem somos.
Ser pai vai além do laço de sangue. É presença — constante ou intermitente, real ou apenas imaginada. Há pais que seguram nossas mãos nos primeiros passos e outros que nunca estiveram lá, mas cuja ausência ressoa em nós. Há os que protegem e ensinam a força e a doçura. E há os que, presos às suas próprias feridas, não souberam oferecer amor de forma que nos nutrisse. Ainda assim, são impulso para o crescimento.
O Pai lança-nos ao mundo.
Expande-nos, mostra-nos o que existe para além do colo que nos acolheu. Mas nem todos conseguem cumprir esse papel da mesma forma. Alguns refletem, no seu olhar, a força da nossa potência. Outros empurram-nos antes do tempo. Alguns ensinam-nos a confiar, outros fazem-nos duvidar da nossa própria força.
O tempo passa, crescemos e a relação muda. Surge o desafio de vê-lo por inteiro — um homem que existia antes de nós, com os seus medos. O pai outrora imponente revela-se vulnerável. O tempo, que parecia infinito, tem um limite. Há conversas adiadas que pesam. E também a oportunidade de nos libertamos de dores antigas, escolhendo deixar para trás o que já não faz sentido.
O Pai que tivemos não define, para sempre, a mulher que nos tornámos. Podemos transformar a herança emocional, tentar escolher o que f**a e o que se dissolve.
Porque, no fim, seja pela presença, ausência ou no fluir da relação real, ele ensinou-nos — à sua maneira — sobre quem somos e até onde podemos ir. E há sempre a possibilidade de transformar essa aprendizagem num impulso para a vida.