Arquivo Genealógico da Lourinhã

Arquivo Genealógico da Lourinhã Aqui encontrará ajuda se quiser construir a sua árvore de família e conhecer a história da Lourinhã.

O Arquivo Genealógico da Lourinhã é um projeto criado por Sharon Tomás em 2022. O objetivo será criar uma base de dados disponível para ajudar todos que queriam construir a sua árvore genealógica. Aqui descobriremos quem somos e quem fomos como lourinhanenses: de onde vieram, o que fizeram, para onde foram, como viveram, entre tantas outras informações. Cada Pessoa tem a sua história e a História é feitas de pessoas. Quem quiser ajudar neste projeto, basta entrar em contacto pelo messenger.

Hoje foi a primeira sessão do workshop "Como construir a Sua a Árvore Genealógica"!!!Foi uma sala cheia, como histórias,...
25/10/2025

Hoje foi a primeira sessão do workshop "Como construir a Sua a Árvore Genealógica"!!!

Foi uma sala cheia, como histórias, umas mais antigas e outras mais recentes, dicas, um pouco de religião... E no fim, levou-se "TPC's" para casa ☺️

Se alguém tiver alguma dúvida sobre o próximo passo a dar ou assim, basta mandar uma mensagem que eu ajudo no que puder 😉

Até à próxima sessão de 15 de novembro 😉

Bom fim de semana e boas pesquisas a todos 📚

Sharon Tomás Caldas

O workshop encontra-se esgotado ☺️Um grande obrigada a quem se inscreveu e a quem tentou se inscrever 👍🏻Mas fiquem atent...
21/10/2025

O workshop encontra-se esgotado ☺️
Um grande obrigada a quem se inscreveu e a quem tentou se inscrever 👍🏻

Mas fiquem atentos pois estão outras ideias e iniciativas a serem planeadas 😉

Sabemos que a mortalidade infantil era elevada antigamente: sem vacinas, sem medicamentos, sem condições, sem dinheiro.....
18/10/2025

Sabemos que a mortalidade infantil era elevada antigamente: sem vacinas, sem medicamentos, sem condições, sem dinheiro...

Mas é muito triste quando os pais sentem necessidade de não dar um nome a um filho, para lhes poupar, talvez, da dor ou para não terem tanta esperança quando lhes nasce um bebé que não parece que vá sobreviver.

Agora imaginem sentirem essa dor, essa falta de esperança por 3 meses....

Pois perder um filho é tão doloroso hoje como era antigamente. Tenhamos 1, 2 ou 5 filhos.

Deixo-vos aqui uma menina, sem nome e por alguma razão que não consigo entender, também sem o sacramento do batismo.

"Nº 64 - Anónimo - Aos 3 dias do mês de setembro do ano de 1894, pela 1 hora da manhã, no lugar da Zambujeira desta freguesia de Nossa Senhora da Anunciação da vila e concelho da Lourinhã, diocese de Lisboa, faleceu, sem ter recebido o sacramento do Batismo, um indivíduo do s**o feminino, de três meses de idade, filha legítima de Manuel Henriques Delgado, fazendeiro, ede Clementina de Jesus, doméstica, todos naturais desta freguesia, a qual foi sepultada no lugar reservado do cemitério público. e para constar lavrei em duplicado este assento, que assino. Era ut Supra. O Coadjutor = José Quintino de Carvalho."

Partilho convosco uma publicação que explica quantos os primeiros passos a dar, quando se quer começar a construir a pró...
14/10/2025

Partilho convosco uma publicação que explica quantos os primeiros passos a dar, quando se quer começar a construir a própria árvore genealógica ☺️

Boas pesquisas 📚

🌳 𝐂𝐨𝐦𝐨 𝐬𝐞 𝐜𝐨𝐦𝐞𝐜𝐚 𝐚 𝐀𝐫𝐯𝐨𝐫𝐞 𝐆𝐞𝐧𝐞𝐚𝐥𝐨𝐠𝐢𝐜𝐚.

A Genealogia faz-se com base em provas.
Assim, deve-se começar por pesquisar nas conservatórias os seguintes registos:
- o seu nascimento;
- nascimentos e casamento dos seus pais;
- nascimentos e casamento dos seus avós,
- se alguém já tiver falecido, o seu registo de óbito também.

Cada registo tem cerca de 1 ou 2 páginas e têm o custo por página na Conservatória é de 1€.

Os registos que existem na Conservatória do Registo Civil da Lourinhã são apartir de 1906 até hoje. Todos os anos antes existem na Torre do Tombo (Arquivo Distrital de Lisboa), onde podemos procurar online, pelas paróquias, aqui:
https://digitarq.arquivos.pt/

Mas o mais fácil para encontrar o livro que se precisa pesquisar, tendo em conta distrito/concelho/freguesia e se quer batismo/casamento/óbito, será utilizar o seguinte site:
https://tombo.pt/m/lnh

Boas pesquisas 📚

🌳 Vamos à primeira atividade de genealogia dinamizada por mim, Sharon Tomás Caldas!!!𝐖𝐎𝐑𝐊𝐒𝐇𝐎𝐏 - 𝐂𝐨𝐦𝐨 𝐜𝐨𝐧𝐬𝐭𝐫𝐮𝐢𝐫 𝐚 𝐬𝐮𝐚 𝐀𝐫𝐯...
27/09/2025

🌳 Vamos à primeira atividade de genealogia dinamizada por mim, Sharon Tomás Caldas!!!

𝐖𝐎𝐑𝐊𝐒𝐇𝐎𝐏 - 𝐂𝐨𝐦𝐨 𝐜𝐨𝐧𝐬𝐭𝐫𝐮𝐢𝐫 𝐚 𝐬𝐮𝐚 𝐀𝐫𝐯𝐨𝐫𝐞 𝐆𝐞𝐧𝐞𝐚𝐥𝐨𝐠𝐢𝐜𝐚

Um workshop de 3 manhãs, onde vou falar sobre como começar a árvore genealógica, onde pesquisar, quais as informações que podem complementar a árvores e, principalmente, começar a construir a sua própria árvore.

Aproveitem!!! E espero que gostem ☺️

Festa da Atalaia      Começaram os festejos da Festa em Honra de Nossa Senhora da Guia da aldeia da Atalaia.     Vamos a...
05/09/2025

Festa da Atalaia

Começaram os festejos da Festa em Honra de Nossa Senhora da Guia da aldeia da Atalaia.
Vamos aprender um pouco sobre como foi a festa em 1908:

"𝐀𝐓𝐀𝐋𝐀𝐈𝐀 𝐃𝐄 𝐂𝐈𝐌𝐀 - 𝟏𝟕-𝟗-𝟗𝟎𝟖

Teve lugar no domingo 6 do corrente a festividade de Nossa Senhora da Guia, padroeira do lugar de Atalaia de Cima, a qual foi anunciada no sábado por uma salva de 21 tiros, tocando a filarmónica da Lourinhã.
No mesmo dia às 7 horas realizou-se a ladainha que foi cantada pelo capelão Reverendo Padre Quintino de Carvalho e por música vocal e instrumental.
Domingo, alvorada com música e fogo, e pelo meio dia e meia hora missa por música coval e instrumental, pelo reverendo capelão, acolitado pelos reverendo Dr. Augusto Nazareth e Marceliano Notário, subindo ao púlpito o Reverendo Padre Domingos, do Convento de São Bernardino, que fez um discurso (aliás muito fora do costume) digno de ser ouvido.
À tarde saiu a procissão que percorreu as ruas do lugar e depois venda de fogaças, sendo o arraial abrilhantado pela mesma filarmónica, que tocou lindamente várias peças do seu grande reportório.
Segunda-feira, alvorada com música e fogo. Às oito e meia missa rezada e depois arraial que terminou às seis horas da tarde.
As casas de pasto e tabernas fizeram bom negócio, principalmente a do nosso amigo Alfredo José Lousada que este ano estava disposto com bom gosto, sendo o seu vinho o melhor que se apresentou, pelo que fez enganar muitos que com ele regaram o calor que se fez sentir.
O serviço de polícia a cargo do regedor senhor Francisco Pedro de Carvalho e o cabo chefe senhor Manuel Caixarias, auxiliado por vários cabos, foi excelente.
[...]
C."

Fonte: Jornal "O Imparcial" Nº 98 de 20-09-1908 (Lourinhã)

𝐍𝐎 𝐂𝐎𝐍𝐕𝐄𝐍𝐓𝐎 𝐃𝐀 𝐋𝐎𝐔𝐑𝐈𝐍𝐇𝐀̃     Eram cinco horas da tarde …     As coronhadas deitavam abaixo a portada do velho convento o...
22/08/2025

𝐍𝐎 𝐂𝐎𝐍𝐕𝐄𝐍𝐓𝐎 𝐃𝐀 𝐋𝐎𝐔𝐑𝐈𝐍𝐇𝐀̃

Eram cinco horas da tarde …
As coronhadas deitavam abaixo a portada do velho convento onde, pálidos e convulsos, os recolêtos franciscanos, reunidos nos claustros, oravam ajoelhados sobre as campas dos velhos frades.
- Os franceses !... os franceses !… tinha vindo anunciar o irmão porteiro.
A gritaria dos imperiais chegava até os claustros. A soldadesca havia chegado pela meia tarde, à Lourinhã sem hostilidades. Percorrera as casas da vila pedindo de comer, depois do que se espalhara pelas adegas onde não fizera distúrbios. O vinho não estava cosido nem a agua-pé devidamente clarif**ada.
Eram mais de cem soldados, quase todos jovens.
- A tropa não vinha insubordinada mas talvez um pouco desmoralizada pelos cheques sofridos na campanha.
Assim rezavam os apontamentos que tenho ante mim neste momento e que se devem ao respeitável lourinhanense, Sr. Henriques, a quem se tem feito referência nas cronicas anteriores.
Masséna estava vencido …
Era-lhe necessária a retirada enquanto o país, animado com os sucessos da guerra, não se levantasse, ardido de maior entusiasmo e decisão. Começou, então, o recuo que ficou marcado como movimento hábil desse israelita que foi um grande chefe de tropas !
E a soldadesca continuava a bater à porta do convento acompanhando as coronhadas com grandes risos e cantigas na sua língua natal.
- Franqueiem-lhes a entrada ! ordenou o superior com decisão.
-Chegou a nossa hora! Gemeram os frades mais novos, talvez aqueles que ainda tinham apego a vida …
Os velhos, desiludidos das coisas deste pobre mundo de misérias, de provações e angústias, esperavam serenamente os acontecimentos.
- Eram doze os frades que estavam nessa ocasião no convento. Cinco eram já de idade avançada. O superior chamava-se Fr. António e substituía o titular, então ausente.
Informa ainda o sr. Henriques, nos seus preciosos quanto interessantes apontamentos.
Os franceses entraram de roldão ap***s a porta lhes foi franqueada pelo frade que, de atarantado, não atinava com as chaves nem com o manejo dos ferrolhos. Os soldados invadiram o convento e foram topar com os religiosos,
-... ajoelhados nos claustros e o superior lançando para o monte a absolvição que lhe havia sido pedida em caso de perigo de vida.
Quedaram-se os soldados imperiais ao ver a atitude daqueles homens que não contavam já com a existência. Os franceses sossegaram-os com frases amistosas e trataram de afastar os camaradas que estavam um pouco turvados de bebida.
Informaram que não perpetrariam violência contra homens indefesos e somente pediam alguma comida, se a houvesse, uns caldeirões com água quente, se também. fosse possível arranja-los para as suas lavagens, e guarida por poucas horas.
- Parece que esta tropa ia com destino a Peniche onde havia uma espécie de deposito.
Aquietaram-se os frades mas tiveram de puxar para os rostos os capuzes ... Alguns dos soldados vinbam ternamente abraçados a mulheres que, como e de doloroso costume, soem de seguir as tropas em campanha, pobres desgraçadas mais dignas de comiseração que de ultrajes e cuja estadia perto dos. acampamentos- é consentida pelos altos comandos, como necessidade humana aconselhada pelos higienitas e previdência sugerida pelos tratadistas de psicologia.
- Il faut que la chair soit satisfaite chez les homme de guerre… (A carne deve ser satisfeita em homens de guerra.)
O convento da Lourinhã, antigo sufraneo do de Xabrégas, de Lisboa, fundado no ano de 1598, não era, nem jamais foi medrado da importância de outros seus contemporâneos.
Os frades viviam pobremente e sem conforto, conforme a sua regra austera e de sacrifício das mundanidades. O bem estar era apanágio dos da regra cisterciense que somente jejuam depois de fartos …
Os religiosos do convento da Lourinhã ap***s tinham para o passadio modesto e frugal de todos os dias e para socorrer a pobreza que procurava os seus sobejos na portaria. Os franceses deviam ter visto logo que não haviam caído num mosteiro bernardo fornecido de boa dispensa e melhor frasqueira …
O superior da comunidade mandou acender as fornalhas ainda quentes e preparar uma refeição. Enquanto se preparava o magro cozinhado, porque realmente era dia de magro, segundo registou o benemérito Sr. Henriques, os franceses mais as raparigas (espanholas na sua maior parte,/ cantavam e bailavam nos claustros a luz mortiça das lanternas, com grande escândalo dos frades que nunca tinham visto semelhante bregeirice de portas a dentro …
Após a refeição de
-... peixe seco com batatas, avultada por grandes pratadas de figos de inverno, chamados do Paraíso, e de bastantes canadas de agua-pé ainda não bem cosida, comida da qual compartilharam as raparigas, armou se outro ba ilarico nos claustros, a despeito dos protestos dos frades.
Os franceses não eram maus, é certo ; todavia desrespeitaram a hospitalidade, e, sobretudo, o local onde dormiam o sono eterno alguns dos antigos donos daquela casa que os tinha acolhido.
O triste mulheredo que, sem conta nem medida, havia emborcado bastos cangeirőes de agua-pé, empiteirou-se de tal
forma que os pobres frades viram-se perdidos …
-... dois religiosos, velhos, respeitáveis, estiveram nos braços delas e ouvirem tremendas tolices.
Foi preciso fecha-las numa casa, no claustro
-... ao lado daquela onde em tempos se guardava o tragalho dos frades; disseram tanto palavrão indecente que se tornou necessário largarem-lhes socos com liberalidade.
Uma delas quis lançar-se na cisterna da claustra gritando que lhe apetecia muito tomar banho …
Depois de grande gritaria e protestos é que adormeceram tendo ainda dirigido aos frades escandalizados amáveis convites que, a serem aceites, dariam com as suas almas em pantanas, álem da falta ao juramento de castidade, essa adorável blague que nem os próprios santos podem cumprir ...

Os soldados imperiais pernoitaram no convento onde se instalaram conforme puderam; colocaram sentinelas à roda do edifício, patrulharam a vila da Lourinhã, durante a noite
- ...e atalaiaram-se no monte que f**a a cavaleiro da vila, e onde se ergue a velha igreja do Castelo.

Apesar-de carregados com trabalhos e misérias profundas os soldados que passaram nessa ocasião pela antiquíssima vila da Lourinhã, não eram maus.
Assim o compreenderam os frades que os trataram com muita caridade e paciência, curando alguns que vinham feridos e desculpando as inconveniências da companhia miseranda que traziam.
Dealbava quando se ouviu um clangor de trombeta. Os soldados acorreram prontamente a portaria com as armas na mão. Dois militares a cavalo davam ordens. Um deles apeou-se e foi entender com a comunidade.
Sabendo da permanência, dentro do convento, do enxame pouco decente da raparigada, mandou expulsa-las do edifício, e, segundo parece, verberou o procedimento pouco enérgico de quem comandava a tropa.
-Os franceses saíram e foram entao formar na Rua Grande, em frente da casa do Dias peixeiro.
Esta casa foi mais tarde pertença do sr. Vitorino José Caixaria, desta vila de Lourinhã.
A tropa marchou depois em direção a Peniche, seguida a pouca distância pelo bando das desgraçadas raparigas, misero rebanho de carne vilipendiada, acorrentada à degradação desse calvario pungente da vida, eterno quadro doloroso da guerra, esse monstro que não somente se nutre do sangue e das vidas como também da honra alheia …
Diz ainda o venerável Sr. Henriques:
- Algumas eram lindíssimas e gentis, na sua maior parte espanholas; vinham mal vestidas e descalças, contando-se nesse grupo mocinhas de quinze e dezasseis anos!…

Vinte dias depois
-... por sinal tempestuoso e agreste, pelas quatro horas da tarde, chegou à Lourinhã uma patrulha de cavalaria inglesa vinda do sul …
Começava o avanço cauteloso e prudente do exercito luso-britânico, na peugada de Massena, Príncipe de Essling, o filho querido da Vitoria, que recuava vencido …
Ia desiludido e triste; nem sequer o animava a presença, a graça, a gentileza, a infinda ternura e o encanto da gentil senhora, sua linda amante, que o acompanhava nessa dolorosa campanha de Portugal onde se apagou o seu grande prestigio de soldado do Império !...

Lourinhã

Júlio de Sousa e Costa”

Fonte do texto: Gazeta de Torres Nº 211 de 27 de setembro de 1930, da Biblioteca Municipal de Torres Vedras
Fonte da imagem: Francisco Fernandes Photography

Município da Lourinhã
CIBV - Centro de Interpretação da Batalha do Vimeiro

"𝐎𝐒 𝐈𝐍𝐆𝐋𝐄𝐒𝐄𝐒 𝐍𝐀𝐒 𝐀𝐓𝐀𝐋𝐀𝐈𝐀𝐒 𝐃𝐀 𝐋𝐎𝐔𝐑𝐈𝐍𝐇𝐀̃ (𝟏𝟖𝟎𝟖)     - «Os ingleses pareciam inquietos e mandavam a todo o momento ordenanç...
21/08/2025

"𝐎𝐒 𝐈𝐍𝐆𝐋𝐄𝐒𝐄𝐒 𝐍𝐀𝐒 𝐀𝐓𝐀𝐋𝐀𝐈𝐀𝐒 𝐃𝐀 𝐋𝐎𝐔𝐑𝐈𝐍𝐇𝐀̃ (𝟏𝟖𝟎𝟖)

- «Os ingleses pareciam inquietos e mandavam a todo o momento ordenanças para as margens do Oceano.»
« Na Atalaia de Cima estiveram eles em casa do José Antunes (?) e lá dormiram duas noites. Essa casa que f**a em frente do largo maior onde há prédios velhos, é baixa; por de trás dela f**a um poço e junto a este uma nogueira frondosa .- »

Constava isso dos preciosíssimos apontamentos do Sr. Henriques a quem já fiz referencias anteriores.
Há poucas semanas, estando eu em comissão de serviço na vila de Lourinhã empreendi pôr a limpo este assunto da estada dos ingleses na Atalaia de Cima, e num domingo, fui-me de longada com outro amigo àquela localidade levando os apontamentos que haviam de guiar-me e bem assim a nota de dois velhinhos que conservavam a tradição oral do sucedido nos anos da Inquietação e que era conveniente ouvir.
O sr. André da Fonseca, vergado ao peso dos seus noventa e oito anos gemidos sob a implacável caquexia senil, forneceu alguma coisa de interessante e confirmou as ementas que eu levava. No adro da velha capela da Atalaia de
Cima conversei largamente com o Sr. Francisco Félix Fernandes, antigo almocreve a quem os seus oitenta e seis anos de vida trabalhosa não tiraram a memoria nem a disposição alegre. Este ultimo disse :
- Não vi os ingleses, porque ainda não era gente; ouvi, porem, muita vez referir a meu pai, Félix Fernandes e a meu tio Cláudio, que eles estiveram aqui nas Atalaias e desembarcaram nestas costas até Maceira, ou Porto Novo, tendo f**ado empancados (parados) nas alturas do Vimeiro.
Com os seus informes e as notas que possuo, compus então esta crónica de factos passados há cento vinte e dois anos, cumprindo-me aqui agradecer aos dois anciãos a boa vontade de me auxiliarem o melhor possível.
Consegui identif**ar a casa onde durante duas noites, talvez as de 18 para 10 e de 19 para 20 do mês de agosto de :808, pousaram os vigias britânicos, os quais, em ansiedade justif**ada, esperavam ver surgir no horizonte a esquadra dos transportes de guerra que conduziam as tropas de reforço comandadas pelos brigadeiros-generais Bowes e Ackland.
Essa morada pertence atualmente ao sr. António Rodrigo, negociante de fruta e pertenceu, em tempos longínquos, a José António, da referida Atalaia de Cima. Na retaguarda desse prédio lá está ainda o poço a que se referiu o Sr. Henriques; ha, porém, pequena divergência - não existia lá qualquer nogueira mas sim uma tramagueira, que os velhos da terra ainda viram frondosa e linda.
Era continuo o movimento de soldados, principalmente de cavalaria, entre a vila de Lourinhã e as Atalaias de Baixo e de Cima. Evidentemente patrulhas de vigilância que tinham a seu cargo estabelecer comunicações ap***s dessem conta da aproximação da esquadra com tropas de desembarque.
«Quase todos usavam farda vermelha e um deles usava alamares grandes nos ombros e estava sempre no ponto mais alto da terra olhando o mar com um oculo.»
Os alamares deviam ser as dragonas, e, por esse detalhe, presumo que era oficial destacado para o efeito de vigiar nas Atalaias a chegada das tropas que no dia 21 de agosto, muito cedo, teriam de desembarcar em Porto Novo e entrar logo na sanguinolenta batalha do Vimeiro onde pelejaram gentilmente ao lado dos nossos soldados que combateram heroicamente nas alturas da esquerda do exercito luso-britânico.

Na tarde em que os ingleses retiraram da Lourinhã vieram muitos militares a cavalo observar o oceano. Não pude averiguar a categoria deles; pouco tempo se demoraram ; o tal oficial britânico, encarregado da vigilância, ficou com os seus soldados e encomendou uma caldeirada de peixe que alguém foi, talvez, buscar ao mar que se avistava lindíssimo e azul naqueles belos dias de agosto cujo sol foi de torresmar …
E o mar não trazia a frota inglesa com os reforços; tinha que haver paciencia; ela viria !…
- «Foi o pescador de nome Joaquim da Nazaré quem amanhou a caldeirada apara os ingleses; entre estes havia um muito alto, de bigode loiraço que comia qual frieira !»
Foram depois buscar uvas e peras ao Montoito, a casa do Joaquim da Custódia, dois garotos da Atalaia a quem os soldados deram os sobejos da comida que foi a fartar, segundo parece.
Já desesperavam, quem sabe, de dar superiormente a boa nova da avistada da esquadra, quando dois dias depois no alto da Atalaia, pela tarde, retiniu um clarim ... Saíram logo os ingleses da casa onde estavam alojados e correram ao sitio onde se avistava melhor o oceano.
Longo tempo estiveram oculando a linha do horizonte até que de repente o oficial soltou um grito e deu ordens em voz rápida …
- «Selar os cavalos, saltar sobre eles num pulo e partir a desfilada na direção da Lourinhã não demorou dez minutos!»
O que seria?
A esquadra sem duvida alguma. as brigadas de Bowes e Ackland que iam desembarcar reforçando, assim, a expedição de Arthur Wellesley o inglês prudente e metódico …

É mais interessante do que muita gente julga a passagem das tropas luso-britânicas pela vila de Lourinhã, no ano de 1808.
- Tenho que voltar ainda a falar deste assunto que reputo interessantíssimo; quando há semanas estive no alto do Vimeiro e onde se levantou o padrão comemorativo do 1.º centenário da batalha, senti funda comoção ... Foi em terras do concelho de Lourinhã onde o francês cruel e miserável sofreu a primeira derrota em batalha campal e em forma.
- Isto é o que não convém esquecer e que me encarrego de estar sempre lembrando àqueles que têm uma palavra irónica e imbecil ao falar-se-lhe na velha terra lourinhanense …
Barquinha.
Júlio de Sousa e Costa."

Fonte do texto: Gazeta de Torres Nº 147 de 22 de junho de 1930, da Biblioteca Municipal de Torres Vedras
Fonte da imagem: https://www.batalhadovimeiro.pt/menu/83/a-historia

Município da Lourinhã
CIBV - Centro de Interpretação da Batalha do Vimeiro

"𝐀 𝐂𝐀𝐌𝐈𝐍𝐇𝐎 𝐃𝐎 𝐕𝐈𝐌𝐄𝐈𝐑𝐎 (𝟏𝟖𝟎𝟖)     À memoria dos soldados do exercito luso-britânico que na tarde de 18 de Agosto de 1808 ...
20/08/2025

"𝐀 𝐂𝐀𝐌𝐈𝐍𝐇𝐎 𝐃𝐎 𝐕𝐈𝐌𝐄𝐈𝐑𝐎 (𝟏𝟖𝟎𝟖)

À memoria dos soldados do exercito luso-britânico que na tarde de 18 de Agosto de 1808 passaram pela Lourinhã e que, como valentes, foram morrer, dois dias depois, na sangrenta peleja do Vimeiro.
A' memoria respeitável dos lourinhanenses que nesse mesmo dia 18, com interesse e dedicação, acolheram os vencedores da Roliça, mantendo, assim, de maneira gentil, a tradição da generosidade da sua nobre terra, sempre tão esquecida ...

Enterrados os mortos, e cuidados os feridos, feita a limpeza sumaríssima das armas e canhões, concertados, bem ou mal, os carros e reparos da artilharia e abatidos os animais inutilizados ou agonizantes, as tropas luso-britânicas, após algumas horas de descanso, decamparam da Roliça e marcharam na direção do Sul.
Chegaram á Lourinhã pelas catorze horas de 18 de agosto (*) vinte e quatro horas depois do terrível combate e em
virtude da conversão ordenada pelo Tenente-General Arthur Wellesley (**) que parece ter tido necessidade de traçar outro plano de campanha além da conveniência de seguir ao longo da costa afim de receber os reforços vindos de Inglaterra.
O sol era de calcinar ... Viração alguma a adoçar, sequer, um álosinho aquela atmosfera de fogo! Os pobres soldados chegaram à Lourinhã cobertos de poeira, queimadíssimos e alquebrados pela marcha forçada nas últimas horas.
Meia hora antes da sua chegada vieram à frente, em exploração, vinte e tantos soldados de cavalaria portuguesa da Guarda Real de Policia, os quais avisaram as autoridades.
Os habitantes da vila aprestaram-se a servir lhe de utilidade. Daí a uma hora apareceram soldados ingleses e núcleos de tropa escocesa a qual se fazia acompanhar das suas tradicionais gaitas de foles e por quatro ou cães corpulentos que vinham à trela e conduzidos por dois soldaditos muito novos.
Os apontamentos do Sr. Henriques a quem ja me referi numa cronica anterior informam:
« -... os rapares não tinham dezas«seis anos. Um deles, de cabelo muito alouro, quase branco, vinha ferido na cabeça; tratou com imenso cuidado dos animais a seu cargo e deu-lhes de beber primeiramente, posto que viesse também morto com sede.»
Os soldados da cavalaria portuguesa que tinha procedido o grosso das tropas, foram alojar-se ao cabo sul da vila. Não vinham menos derrancados também.
«- Utilizaram para os animais a araribana do José Cosme, dos casais de Lourim, e eles foram descansar em casa do António Pereira, a poucos passos da mesma arribana.»
A toda a hora chegavam tropas que acamparam por onde calhou. Os ingleses lavaram-se na rua, aos três e aos quatro,
em cêlhas e baldes e «desencascaram a pele, cheia de poeira e suor, com uma espécie de raiz»
Presumo que talvez fosse a ricinus saponarius, erva saboeira que se usou durante muitos anos nos exércitos quando não havia outra forma de ocorrer à limpeza pessoal e bem assim a lavagem de roupas e fardamentos. Após isto foram à procura de fruta, principalmente uvas. Alguns entraram em várias casas onde pediram comida; outros rogaram ap***s que os deixassem descansar em qualquer parte e nem vontade tinham de comer ... Vinham desfeitos !... Dormiram sobre esteiras, mantas e colchões que a boa vontade de todo o povo lhes prestou.
Todos os lourinhanenses se comportaram de maneira bizarra e generosa andando as criadas das casas abastadas a acarretar fruta, pão, ovos, carne e vinho para os soldados.
«- Houve nesse dia quem fizesse dois jantares; um para os da casa e ao outro para os militares. Dois ingleses vinham tão doentes com golpes de sol que f**aram três dias na terra.»
Era a insolação que tantos estragos fez no exercito anglo-luso na manhã em que foi pelejada a ardida e sangrenta batalha do Vimeiro.

Havia nesse tempo um grande e magnifico caniçal junto à ermida da Senhora dos Anjos. Nele se foram acoitar
bastantes soldados ingleses naquele terrível dia de calor.
« ... e tão intenso foi ele que até os passaritos tombaram das árvores. O sol parecia lume e no dia do Vimeiro ainda foi pior ...»
Era preciso acalmar a sede e os ingleses, apesar de fleumáticos e graves, foram à cata do remédio ... a pinguinha lusitana que eles tanto adoram …
«- Grandes pielas coseram eles nesse dia! Muito beberam!»
É' de calcular tudo isto ... E quem estiver isento do pecado de, pelo menos uma vez na vida, ter sacrif**ado Baccho, que lhe atire a primeira ... medida!… Desculpo os ingleses de 1808 ... a contemporânea e a vindoura até à consumação dos séculos ! E porquê ? Porque na nevoenta e frígida Albion não é conhecida a granda satisfação ver sair dos túneis, espumoso e lindo na sua cor natural de rubim de tons diferentes, ou de topázio doirado e cintilante, esse vinho provindo de excelentes uvas colhidas nos esplêndidos vinhêdos de Portugal, nesses belos e alegres dias de Setembro sob a bênção da luz do sol criador e fertilizante ... Falta-lhe a abundância que nós temos …
«- Vinha com os ingleses certo indivíduo, já de idade, com óculos, vestido de preto, de polainas, muito grave e sizudo, que também bebeu, e de grande, na taberna que havia na Praça, ao lado da do Manuel da Cândida. Este último também fez bom negocio e vendeu todo o vinho que tinha.»
Iria jurar que este senhor grave e sizudo era capelão protestante da tropa inglesa. E o que tem isso? Não me consta que haja incompatibilidade entre apreciador de bom vinho e teologo …
Vinum laetif**at cor hominis !... Diz o proverbio. Ora se a pinguita, que tem cabida litúrgica na missa, alegra o coração do homem, não há que fazer reparos no cidadão que « também bebeu, e de grande», em ocasião em que a vida lhe andava em risco …
Se me constasse que ele havia dito heresias do vinho da Lourinhã e sem termo, eu com perdão das suas honradas cinzas, botava-lhe nesta cronica uma fala amarga …
«-- Os soldados tiveram as adegas à franca ... »
Para muitos deles fora, quiçá, a sua ultima alegria neste mundo .. À roda de bastantes, andava já, rondando, o negro e sinitro espéctro da morte, que os esperava no Vimeiro …
«- À tarde já pela fresca, ao som das gaitas de foles e tamborins, entoaaram, de cabeça descoberia e com reacolhimento, uns cânticos tristes. Em seguida solfearam canções que pareaciam guerreiras, estrepitosas e que pessoa alguma compreendeu.»
Se o coletor das preciosas notas houvesse alcançado o assunto dos hinos entoados com marcial arreganho pelos soldados britânicos e o lançasse nas suas ementas, que belo subsidio para avaliar o espírito daqueles homens estrangeiros que passaram algumas horas na vila de Lourinhã!…
Todavia não será inconsequentes avançar que estas canções deveriam ter sido as da velha Escócia, terra sonhadora ... ninho de bardos e de segreis !…
Para a garotada da Lourinhã é que fora de alta novidade aquele concerto. Somente estava costumada a admirar as habilidades e os talentos musicais do gaiteiro e seu indispensável comparte, o tamberileiro, dos cirios de Torres e do próximo lugar de Marteleira que soíam ir á afamada peregrinação da Senhora dos Remédios.
-«Curioso certo canto com interruapções e que terminava por um grito rouco, prolongado, acompanhado pela gaita de foles e rufos espançados dos tambores. Causou grande impressão ... »
Quem tomou as notas era, evidentemente, espírito observador e de sensibilidade. Foi pena não ter coligido em livro, (que teria hoje imenso valor,) as suas interessantes e ótimas anotações.
«- Os rapazes andavam em volta dos «soldados pedinchando a bolacha escura amanhada com sementes de erva doce, que eles comiam; a bolacha era muito rija, porém saborsa,»
Não me admira a gulodice da rapaziada porque ... porque fiz o mesmo.
Se a minha avó materna, Maria Bárbara, da Lourinhã, anunciava uma brindeira, ou bolo, eu já não lhe saía da beira, com constante vigilância à boquinha do forno, plantão de olho alerta, espírito inquieto, sempre com o receio de ver desenhar-se no horizonte grande e misteriosa tramoia que tivesse por escópo desapossar-me da apetecida guloseima …
Ficámos também sabendo que o autor das preciosas notas provou da tal bolacha inglesa «rija, porem saborosa».
Acamaradou com a rapaziada lourinhanense e deu-nos uma nota interessante e curiosíssima que reputo digna de ser mencionada nesta cronica.

Estavam no melhor da festa quando se ouviu grande alarido na parte norte da vila.
O pregoeiro da Câmara corria as ruas gritando o alarme do maior flangelo do mundo ...
- Fogo! Há fogo!
«- Ardia o palheiro e o estábulo peratencente ao António Pedreira, na Rua do Hospital. Acudiram muitos soldados que trabalharam bem, metendo-se pelo incêndio e salvando ainda dois animais maiores e utensílios de lavoura.»
Somente f**aram de pé as paredes enegrecidas; o terrível brazeiro consumira palhas, rações e consideráveis valores representados em arreios, ferragens da lavoura etc.
Nessa noite a atmosfera foi asfixiante; a maior parte da soldadesca dormiu nas ruas sob a vigilância das patrulhas que continuamente giravam pela rua e da dos postos avançados que havia pelos arredores da localidade e até meio caminho do Vimeiro.
A tropa partiu em 19, pela madrugada. Ia já um pouco reposta da fadiga das marchas do dia anterior sob a ardência do sol abrasador daquele agosto bem incendiado!
Dai a dois dias o exercito luso-britânico combateu valentemente no Vimeiro onde as aguis de Napoleão deixaram outro grande destroço de p***s despedaçadas e sangrentas …
Barquinha
Júlio de Sousa e Costa

(*) Inquérito inglês sobre o procedimento do Tenente-General Hew Dalrymple.
(**) Pela noticia da aproximação à costa, dos navios ingleses que a seu bordo transportavam as brigadas Antruther e Ackland, Wellesley fez uma conversão para a Lourinhã. Excertos históricos do Sr. General Claudio de Chaby - Vol. 3.°, pág. 73.

Fonte do texto: Gazeta de Torres Nº 133 de 16 de março de 1929, da Biblioteca Municipal de Torres Vedras
Fonte da imagem: https://o-povo.blogspot.com/2008/08/h-200-anos-batalha-do-vimeiro-21-de.html

Município da Lourinhã
CIBV - Centro de Interpretação da Batalha do Vimeiro

Endereço

Lourinhã
2530

Notificações

Seja o primeiro a receber as novidades e deixe-nos enviar-lhe um email quando Arquivo Genealógico da Lourinhã publica notícias e promoções. O seu endereço de email não será utilizado para qualquer outro propósito, e pode cancelar a subscrição a qualquer momento.

Compartilhar

Share on Facebook Share on Twitter Share on LinkedIn
Share on Pinterest Share on Reddit Share via Email
Share on WhatsApp Share on Instagram Share on Telegram

Categoria