06/07/2022
AVÓ CAMPEÃ DO BASQUETE
Carla Teixeira recorda os tempos de meninice e juventude, passados em Luanda, com medalhas que enchem de orgulho toda a família.
🏀🎖
Quem olhava para aquela menina esguia, de 1.72m e a fibra de quem foi criada à solta na liberdade angolana, adivinhava facilmente uma atleta em potência. Pertencia a uma família de jogadores, sete irmãos basquetebolistas, e o sangue que lhe corria nos braços e nas pernas impeliu-a a impor-se rapidamente.
Corria o ano de 1962 quando, na Mocidade Portuguesa Feminina, experimentou com sucesso quase todos os desportos. "Joguei hóquei em patins, voleibol, tiro ao arco e muitas outras modalidades. Mas onde tive mais sucesso foi na prova dos 100 metros de atletismo e no basquetebol", explica-nos Carla Teixeira, hoje com 73 anos e utente do Lar do Comércio.
Se a Mocidade Portuguesa lhe permitiu conhecer o prazer pelo desporto, foi no Benf**a de Luanda onde se notabilizou. Aos 17 anos já jogava pela equipa principal, sob autorização do Governador, sagrando-se bicampeã nacional em 1965 e 1966.
O sucesso no basquetebol permitiu-lhe viajar e conhecer diferentes lugares e pessoas, numa autêntica escola da vida. Essas recordações ainda hoje ecoam no seu álbum mental. "Cheguei a jogar os Europeus em Madrid e aquele torneio foi um sonho para uma menina como eu. Por outro lado, houve um campeonato em que não pude participar porque o meu pai não deixou... Tirei um "9" num exame e fiquei de castigo. Nem o Presidente do clube, que foi lá a casa pedir ao meu pai para ceder, o demoveu"!
A sua importância para as equipas que representou - Uíge, Belenenses de Luanda e Centro Desportivo Universitário de Angola, para além do Benf**a - era tanta que aquela jovem franzina, que envergava sempre a camisola número 10, depressa chegou a outros pontos cardeais. "Em quase todas as edições, a jornalista Vera Lagoa escrevia sobre mim nas Crónicas Femininas. Fiquei conhecida como Patinha de Ouro... Marcava 20/30 pontos por jogo, quase sempre triplos (na altura eram duplos)", confessa com indisfarçável orgulho.
A cassete do tempo leva-a ainda até um mítico cesto, convertido de forma dramática antes do meio campo, mesmo no momento do apito final. "Era um jogo contra a Académica de Coimbra. O tempo parece que parou, as pessoas gelaram e ficou tudo em suspenso até a bola balançar as cordas. Virei uma lenda nesse dia"... Por essa altura, na casa dos 20 anos, ainda acalentava o sonho de defrontar uma equipa da NBA, algo que nunca aconteceu.
Engravidou cedo, foi mãe, a vida foi acontecendo no seu passo impiedoso e o basquetebol virou memória.
No dia 15 de Agosto de 1975 chegou a Portugal, grávida da segunda filha, destinada a refazer a sua jornada, ao lado do companheiro de sempre.
De Angola, trouxe o curso comercial que lhe valeu emprego no Governo Civil do Porto. Fixou-me em Nogueira da Maia, criou as duas filhas e ajudou a criar os netos. Rafael, que f**a deliciado ao observar as medalhas da avó, já é campeão distrital pelo Maia Basket. "Gosto muito de ver os meus netinhos jogar e fico orgulhosa por darem continuidade a esta minha paixão. Cheguei a br**car com eles, numa tabela que tínhamos em casa, mas as artroses e uma lesão na clavícula já não me deixam entrar nesses campeonatos", diz em tom de br**cadeira.
Apesar de não ter condições de praticar, ainda adora assistir todo o tipo de desporto, sobretudo hóquei em patins.
Outra das curiosidades sobre Carla Teixeira é que o seu clube desportivo preferido sempre foi o Sporting - que também chegou a representar na ginástica - mas foi de vermelho que se notabilizou. Inclusivamente, pela ligação do Benf**a de Luanda ao Sport Lisboa e Benf**a, o clube da Luz atribui-lhe o título de sócia de mérito, pela conquista do bicampeonato de 65/66.
Carla conheceu O Lar do Comércio através do Centro de Dia e é residente na instituição há um ano.