15/09/2025
A inclusão é uma treta.
É um rótulo para brochuras coloridas, para discursos do 25 de Abril. Mas depois há uma mãe, a representar a si mesma e a muitas outras, a escrever ao Primeiro-Ministro: o filho, no primeiro dia de aulas, não tem escola. Não há turma, não há cadeira de rodas aprovada em Junho, não há talas para andar, não há terapeuta porque a escola não deixa, não há transporte adaptado, não há resposta. Só há silêncio.
A frase é um slogan caquético: “recursos insuficientes”. O copy-paste burocrático é o único manual pedagógico que conhecem. Os CRI oferecem 30 minutos de terapia em grupo por semana a crianças que precisam de intervenção diária, individual, continuada. Os CAA, sobrelotados, funcionam como armazéns de boas intenções falhadas. As crianças não comunicam, não brincam, não aprendem: não são. Limitam-se a “passar tempo” dentro de uma escola que não é para elas.
Sete anos depois da Lei da Escola Inclusiva, regressámos ao velho modelo segregado: “unidades” de multidificiência, guetos pedagógicos com cheiro a caridade. Não há ortóteses, não há andarinhos, não há verticalizadores. Há colunas de Excel, há códigos ISO que bloqueiam cadeiras pediátricas por detalhes administrativos. No meio desta m***a toda, as crianças deformam-se, as famílias desesperam. O Estado, magnânimo, repete: “estamos a analisar”.
A escola não é para todos. É para quem não incomoda, é para os normais. O resto f**a à porta, com um atestado médico na mão.
A inclusão é uma treta.
É uma promessa que não passa. É uma exclusão organizada, metodicamente planeada, com carimbos, carimbos, carimbos.
A inclusão é uma treta.