19/02/2025
[A psicoterapia e a AI]
Hoje, a respeito do tema que dominou a semana sobre o Rommie, o chabot virtual que irá ser, segundo notícias, lançado até final do ano, não podia deixar fugir este assunto e o tema do post semanal é este mesmo.
Não vou fazer um post do que tanto já se falou por aí, a diferença lógica e abismal entre a relação humana psicoterapêutica e a interação com um chatbot (imaginando que os investigadores criadores do rommie o sabem). Vou assim destacar aspetos fulcrais, a meu ver.
1) a evolução tecnológica está aí, é o futuro e o presente, não podemos fugir dela. Posto isto vou abordar sem desprimor do impacto da IA nos dias de hoje alguns aspetos clínicos que nunca nos poderemos esquecer:
2) a aliança terapêutica é o processo mais estudado de sempre em terapia. Hoje sabe-se que uma boa aliança terapêutica está associada a bons resultados.
3) na terapia não existe uma díade, mas sim uma tríade: eu (terapeuta) + tu (cliente) = nós (o espaço intersubjetivo, um campo onde se forma a narrativa e se co-constroem significados. Ambos têm influência mútua, quer consciente e inconsciente no que acontece em 50/60 min da sessão. A relação, e este campo intersubjetivo não é apenas feito do que se diz, mas do que não se diz. Não só do manifesto, mas também do latente. Do sentido e não expresso. Do expresso e também sentido. Das palavras e dos silêncios, dos nós na garganta, nos gestos, da postura corporal. A relação terapêutica (e o sucesso) são co-construidos, onde não existe um sem o outro, cliente sem terapeuta, terapeuta sem cliente e mais do que isso, sem o espaço onde ambos existem naquele espaço que tudo torna real. Isso não existe num livro de auto-ajuda que se arranja, não existe num chat que transforma o que se diz em meras técnicas/conselhos/expressões. O processo terapêutico não são só palavras, não são perguntas que têm logo resposta, recompensa imediata. Aliás, acrescento, a psicoterapia não é feita de respostas, nem de perguntas, mas do que se ouve sem necessáriamente se perguntar (sobre nós e o mundo) do que se escuta nos silêncios, do que se ouve no corpo, de perguntas sem resposta, de respostas que trazem perguntas. Novos mundos ao mundo.