
16/07/2025
Os bons pais podem criar “maus filhos”. Se por maus filhos se entender filhos egocêntricos e egoístas. Filhos que não cuidam, que não protegem e que não são empáticos. Filhos que não mimam, não dão colo nem comunicam. Filhos que se resumem a atitudes de passividade, como se os pais tivessem de ter sempre o primeiro gesto em tudo. Filhos que se colocam no papel de meninos pequeninos, quando se trata de receber, e de adolescentes reivindicativos, sempre que se trata de repreender. Filhos que não ajudam. Filhos que toleram mal as fragilidades dos pais. Filhos que não arrebatam nem os trazem ao amor, à comunhão ou à alegria.
O mais grave disto tudo, é que a imensa maioria destes filhos imaginam ser bons filhos. Muitos porque vivem com naturalidade o facto de só por existirem chega para serem bons filhos. Mais grave, ainda, é que eles são boas pessoas. Mas, sim, pode-se ser boa pessoa, boa mãe ou bom pai e mau filho. E pode-se começar por ser bom filho e ir-se ficando mau filho, devagarinho.
A mim parece-me que os pais não colocam como a primeira “obrigação” de cada filho ser bom filho. Às vezes, parecem viver tão embrenhados nos resultados dos filhos que não lhes exigem ser, sobretudo, bons filhos. Ancorados nos bons exemplos de bons pais que lhes dão.
Bons filhos não são aqueles que são obedientes, submissos ou que tentam fazer todas as vontades aos seus pais. Mas os que dizem sim como não. Com verdade, com cuidado e com delicadeza. Com palavras claras e com gestos nunca omissos. E todos reconhecemos que quanto mais eles forem bons filhos melhores pais nós seremos. (E vice versa, claro).
Seja como for, trágico, de verdade, é que à medida em que condescendemos que nos magoem vamos desistindo deles, de forma passiva, mais do que parece. Com se nos sentíssemos, aos poucos, com menos direito de ser os seus pais. E, por isso, como se eles fossem deixando, aos bocadinhos, de merecer o respeito, a admiração e a nossa gratidão por serem os nossos filhos. E assim nos fossemos perdendo uns aos outros. Como se não fosse urgente seremos bons pais e bons filhos para que, finalmente, o amor se possa tornar mais fácil.