20/10/2024
- Ouve... Mas porque é que não tentas, não vais a jogo e não arriscas?
- Se não tentar também não perco...
- Sim. É verdade. Mas o que é que ganhas com isso?...
- Sempre fico com a sensação que, se tentasse, eu ia conseguir.
O mais desconcertante é que um diálogo destes se repete com um adolescente e com mais outro e mais outro. E não acontece só a propósito da desconfiançazinha que cada um é para o que nasce e que não terão nascido com aptidões inatas para a matemática, por exemplo. Mas, também, com as relações sociais. Com os namoros. Com os sonhos (relativamente ao curso que querem seguir, por exemplo). Com os projetos mais imediatos. Ou com tudo o que ambicionam ou mais desejam.
E é aí que eu pergunto: o que é que andamos a fazer? Que geração é esta, que não arrisca? Que não vence os medos com as paixões que os arrebatem? Que só joga pelo seguro e que não levanta voo nem para voar com os pés no chão? E que num tempo mexido, sempre revolto e sempre em contradição parece procurar, sobretudo a segurança? Terá isso a ver com o rebuliço do mundo, com a precariedade do trabalho ou com a forma como nós os protegemos demais? Terá a ver com as exigências todas que colocamos sobre eles, a ponto deste medo se transformar numa auto-estima sobressaltada, como acontece com muitos deles? Como podem eles crescer a medo se é só caindo que se aprende a cair? E quando, finalmente, caem sem terem caído, antes, muitas vezes: como é possível não se sentirem a desmoronar quando, afinal, só perderam uma vez?
Os adolescentes precisam de arriscar! Arriscar desejar. Arriscar ambicionar. E arriscar ir atrás dos seus sonhos e transformá-los em conquistas.
E precisam de perceber que, mesmo quando erram, cada erro os ajuda a configurar melhor aquilo em que acreditam, de forma a apurarem tudo aquilo que anseiam para si duma forma mais realista.
Os adolescentes “têm de cair” mais vezes! Porque só quando se cai é que se aprende a levantar.
E precisam de correr riscos. Porque só os vencendo se f**a mais seguro!