23/08/2025
“Não tenho nada para fazer.”
Dizem com um suspiro, como se fosse o fim do mundo. Mas, na verdade, é o início de outro — um mundo que só nasce quando não há nada marcado, nada preparado, nada imposto. Sabemos hoje que os três meses de férias deixam saudades… até de sentir tédio, porque é nesse tempo de pausa que se aprende a inventar, a explorar o próprio mundo, a descobrir o prazer simples de criar algo do nada.
Três meses inteiros para se perder no tempo. Entre o fim das aulas e o regresso à rotina, abre-se um espaço precioso, onde as horas se alongam e o tédio pode instalar-se. Não chega logo; primeiro espreita, depois f**a. E quando isso acontece, surge a oportunidade de inventar, de sentir a falta dos amigos, de descobrir que até a própria companhia pode ser suficiente.
Há um prazer antigo em simplesmente não fazer nada. Observar as nuvens, ouvir o vento nas árvores, deixar a mente vaguear. Longe das distrações rápidas que apagam pensamentos antes que cresçam, a imaginação desperta.
Um lençol preso entre cadeiras vira castelo.
Pedras e paus transformam-se em ingredientes mágicos.
Um caderno em branco é a porta para histórias nunca contadas.
O sabão da cozinha cria mares de bolhas no quintal.
Um chapéu esquecido transforma-se em coroa ou capacete de explorador.
Até o eco da própria voz, no corredor, é o início de uma aventura.
Nós, adultos, f**amos muitas vezes à margem, a olhar…
Aliás, na maioria das vezes estamos afogados nas nossas rotinas, sentimos a culpa de não estar sempre lá. Queremos calar o “estou aborrecido” com a primeira boia que apareceu, mas quando o fazemos, retiramos às crianças a hipótese de atravessar o desconforto do tédio e descobrir o que existe para lá dele: a invenção, a autonomia, o prazer simples de criar algo do nada.
O tédio é um mestre paciente. Cabe-nos não o expulsar à pressa. By Francisca Silva Ferreira da ❣️