
16/07/2025
Ser psicóloga, empreendedora e ter PHDA é para mim, por vezes, como tentar construir uma casa com um martelo que ora funciona, ora se desintegra nas minhas mãos.
Tenho passado por uma fase difícil. Dura. Daquelas em que dou por mim a falhar. A esquecer-me de coisas importantes. A adiar outras tantas. A fugir…. A ser forçada a parar quando mais precisava de conseguir avançar.
Costumo ser transparente sobre o meu caminho enquanto terapeuta. Mas hoje venho ser transparente sobre o meu caminho enquanto pessoa neurodivergente.
Não, a medicação não resolve tudo.
Não, a terapia não impede o cansaço.
Não, saber o que está a acontecer não faz desaparecer a frustração.
Às vezes, dou tudo o que posso e mesmo assim não consigo manter a consistência.
Às vezes, quero muito, planeio bem… e falho na implementação.
Às vezes, fazer o mínimo custa-me tão mais do que parece possível conseguir explicar.
E não, não é preguiça. Não é desinteresse.
É o que alguns chamam de burnout neurodivergente. Um colapso do sistema executivo. Uma exaustão que não se cura só com descanso, porque não vem de um lugar de “fazer demais” (ou a mais).
Vem de viver num esforço constante e permanente para parecer funcional, enquanto por (cá) dentro tudo é um caos.
Partilho isto não para me justificar, mas para me lembrar (e talvez lembrar-te a ti também) que ser profissional de saúde mental não nos torna imunes à vulnerabilidade.
Às vezes, não conseguimos tudo. Às vezes, não somos consistentes. Mas somos verdadeiros. E estamos aqui. A aprender a ser humanos, mesmo quando é difícil.
Hoje estou aqui sem tenho respostas. Só trago comigo a vontade de continuar, mas devagar, com limites, com pausas, com muita verdade.
E estou aqui também com a esperança de que esta partilha possa, de alguma forma, ser um lugar de espelho, acolhimento, identificação e companhia.
Se estás aí, desse lado a tentar, eu vejo-te.
E sigo contigo, um dia de cada vez 🤎