27/11/2025
Depois da chave na mão, parecia que o tempo acelerou.
Fábrica, mensagens, decisões, ansiedade — tudo misturado.
A ideia inicial era simples: um gabinete pequeno, discreto, só para eu não adormecer outra vez na rotina.
Mas quando entrei naquele espaço, percebi que já não estava no mesmo ponto da minha vida.
A montra grande, aberta para o centro comercial, não combinava com um “cantinho escondido”.
Era como se o próprio lugar dissesse:
“Ou vens inteiro, ou não vale a pena.”
E, sem perceber bem como, a loja começou a nascer.
Primeiro na imaginação, depois nas listas, depois nos contactos.
Onde arranjo prateleiras? Como organizo cristais? Onde encontro essências? Que energia quero que isto tenha?
E no meio desse turbilhão, havia uma pergunta que me picava por dentro:
“Como é que há tão pouco tempo eu estava perdido, parado, sem direção…
e agora parece que tudo se move ao mesmo tempo?”
Enquanto tentava construir a minha nova vida, a vida antiga chamava-me com força.
O meu avô adoeceu.
Internado. Meses.
E ali não era só o meu avô — era uma raiz minha.
Um pedaço vivo da minha linhagem.
Eu não tinha o avô… eu vinha dele.
Viver esses dois mundos — o nascimento da TEANOS e o declínio de quem me antecedeu — partiu-me e uniu-me ao mesmo tempo.
Como se a vida estivesse a ensinar-me, à força, que tudo o que floresce nasce sempre ao lado de algo que se transforma.
Nesse caos organizado, a família Pineu foi porto e abraço.
Monção, conversas, gargalhadas, refeições simples, pausas que me mantinham a respirar.
Foram chão quando eu tremia.
A Fada — sempre discreta, sempre atenta — trouxe aquilo que só ela sabe trazer:
clareza, direção, organização da alma.
Com a experiência dela, ajudou-me a perceber passos, encaixar peças, ganhar visão.
Ela não fez magia: ela ensinou-me a vê-la.
E no meio de tudo — o espaço, a loja, o avô, o medo, a esperança — uma certeza começou a crescer devagarinho, quase escondida:
eu não sabia ainda quem me tornaria,
mas finalmente deixara de estar parado.
Eu estava a avançar.
Sem garantias, sem mapa, mas a avançar —
e isso, naquele momento, já era milagre suficiente.