27/11/2025
Existe hoje uma corrente preocupante no mundo do comportamento animal:
a recusa sistemática da medicação por parte de alguns treinadores, baseada não em ciência, mas em convicções pessoais.
Esta posição ignora décadas de investigação em etologia clínica, neurociência e medicina veterinária.
E, pior ainda, coloca os animais em sofrimento prolongado.
Cães e gatos não são folhas em branco moldáveis apenas com técnica.
Têm emoções, temperamento, história, predisposição genética e — tal como os humanos — limites biológicos claros.
Medo, ansiedade, impulsividade ou agressividade não são falhas morais nem falta de treino.
São estados e traços emocionais mediados por neurotransmissores e circuitos cerebrais.
Recusar medicação quando clinicamente indicada:
não é “treino respeitoso”,
não é “abordagem natural”,
e não é “trabalhar na causa”.
É negar fisiologia básica.
É particularmente grave quando essa recusa vem de profissionais que:
não fazem diagnóstico médico,
não avaliam dor,
não têm formação em farmacologia,
mas ainda assim convencem tutores a rejeitar tratamento, culpabilizando-os por uma decisão médica legítima.
Felizmente, existe também outro grupo — competente e ético:
os treinadores que trabalham em verdadeira parceria com médicos veterinários especialistas em comportamento.
Esses profissionais compreendem algo fundamental:
* a medicação não substitui o treino — viabiliza-o.
*Regular emoções permite aprendizagem.
*Sem regulação emocional, não há modificação comportamental sustentável.
A dicotomia “ou treino ou medicação” é falsa.
É simplista.
E serve apenas o ego de quem a defende.
O bem-estar animal exige humildade interdisciplinar.
Exige reconhecer limites.
Exige colocar o animal — não a ideologia — no centro.
Medicar, quando indicado, é um ato médico.
Recusar sistematicamente essa possibilidade não é ciência.
É convicção pessoal projetada sobre quem não pode escolher.
E quem paga o preço, como sempre, são os animais.