01/06/2024
Todas as crianças têm o direito a ser crianças. E têm o direito a crescer livres, mas com regras, num país amigo das crianças.
Todas as crianças têm direito a uma escola que as eduque, antes de as instruir. Onde não passem tempo demais, todos os dias. Em que as aulas não sejam tão grandes como têm sido e se poupe nos trabalhos de casa. E em que os recreios sejam maiores em tempo e melhores nas condições de segurança e nos recursos que põem ao dispor de todas as crianças.
Numa escola amiga das crianças, os professores contam histórias e acarinham, quando ensinam. E haverá, por isso, um quadro de honra para todos os alunos faladores. Porque uma escola que não fala e não escuta vive assustada e fechada sobre si. E, se for assim, educa mal. E não é escola.
Num país amigo das crianças, todas elas têm direito a tempo livre. Sem a tutela permanente dos seus pais. E sem ateliês onde façam os trabalhos de casa, onde vejam televisão e onde tenham de estar quietas e caladas. Aliás, num país assim, todas as crianças terão direito a conversar. Porque só quando se pensa com os outros, conversando com os botões e em voz alta, ao mesmo tempo, se aprende a crescer.
Todas as crianças têm, finalmente, direito a engonhar, a destrambelhar, a azucrinar e a chinfrinar. Têm direito a ter uma ou outra macacoa. E a ser, até, estrambólicas e escaganifobéticas. Que são formas complicadas de falar da salvaguarda do direito de quem se engasga e de quem se engana, de quem exagera e se atrapalha, e de quem erra. Que só é possível quando se tem pais e avós, e muitos tios ligados nelas. Que, todos juntos, façam com que, venha de onde vier, cada criança nunca se perca no caminho para casa.
Todas as crianças têm direito a um país amigo das crianças. Onde todas as pessoas, nem que seja aos bocadinhos, sejam atentas, serenas e sábias, bondosas e firmes para com elas. Um país onde todas as crianças se sintam filhas dos pais e sobrinhas de todos. Um país que não as idolatre nem endeuse, mas que as ame, simplesmente (que é tudo aquilo que quem repete que "o melhor do mundo são as crianças", raramente, lhes dá). Porque, afinal, a nossa pátria são todas as crianças.
Eduardo Sá