27/07/2025
A Crónica da Não-Responsabilização
Vivemos tempos curiosos, em que assumir responsabilidade pessoal parece, para muitos, um exercício quase heróico. Há quem tenha um talento peculiar – quase nato – para colocar nos ombros alheios o peso das suas próprias decisões. A culpa, dizem, nunca é deles. É da carência, da solidão, das circunstâncias, do outro… seja lá do que for, menos de quem escolheu.
É fascinante observar como certos indivíduos justificam escolhas pessoais, até mesmo traições, com argumentos que parecem saídos de um guião mal escrito: "foi a falta de atenção", "foi o que me fizeram sentir", "foi o ambiente". A narrativa é sempre a mesma: o mal está fora, nunca dentro.
E depois há aqueles que se dizem influenciados. Alegam que o outro os levou a agir assim ou assado. Mas se sabem que são influenciáveis, porque não trabalham isso? Porque não se fortalecem emocionalmente em vez de se refugiarem numa desculpa confortável? Afinal, a decisão de se deixar influenciar é, também ela, uma decisão.
É notável a habilidade que alguns desenvolvem para transformar-se eternamente em vítimas das circunstâncias. O padrão é sempre o mesmo: tudo o que lhes acontece de negativo é obra do outro. A vida desaba, vira um caos, e lá está a velha ladainha — "a culpa não é minha". A narrativa repete-se, como um disco riscado: o inferno pessoal é sempre construído por mãos alheias. E o circo continua… sem fim à vista.
O mais preocupante é que, por trás desta postura, geralmente esconde-se alguém com feridas profundas, com assuntos internos por resolver. Mas, em vez de olhar para dentro, apontam o dedo. Em vez de fazer o trabalho necessário, exigem que o outro mude, que o outro cure, que o outro faça por si.
É triste. É, de facto, lamentável que o ser humano ainda fuja tanto de si próprio. Que procure culpados fora, em vez de encontrar coragem dentro. Porque enquanto a responsabilidade for sempre do outro, não há crescimento, não há evolução e não há paz.
Ah, insanidade… a que ponto chegámos!
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