16/12/2024
Ansiedade de desempenho
Estão a ver aquelas situações em que a vida vos coloca em cheque? Em que, de algum modo estão a ser avaliados ou sentem que estão a ser testados?
Não, não estou necessariamente a falar de imprevistos, ou “destinos”, ou surpresas que as vossas expectativas defraudaram.
Estou literalmente a falar do teste na escola, o exame na faculdade, competição desportiva, a entrevista de emprego, a apresentação que vão fazer para a direção de uma empresa…
Na prática, situações em que vocês sentem que o vosso desempenho está a ser avaliado e que, quase que automaticamente, surge um desconforto acima do que vocês consideram “controlável”.
Tensão, medo, preocupação intensa, com as respetivas reações físicas de respiração acelerada, coração a querer sair do peito, transpiração excessiva ou acima do habitual… vocês sabem…
Bem-vindos à ansiedade de desempenho 😊
A ansiedade de desempenho é um fenómeno psicológico, relativamente comum, em que existe uma ativação excessiva do sistema nervoso autónomo.
Nestas situações, acreditamos que as capacidades que temos não chegam para aquilo que nos é exigido, e por isso, entendemos essas situações, comuns para alguns, como ameaçadoras. É esse desequilíbrio entre o que pensamos e a realidade, que vai desencadear essas emoções negativas e que pode, desse modo, afetar o nosso desempenho.
Além de que, sendo ansiedade, vai afetar o modo como pensamos. Ou seja, essa preocupação excessiva vai limitar a forma como executamos as nossas tarefas, reduzindo os recursos da nossa memória de trabalho.
Por exemplo, qual o estudante que, mais ansioso do que devia, durante um teste, nunca teve uma “branca”? Esteve atento, estudou, sabia tudo… Mas chega ao teste e aqueles conteúdos tão bem guardados parecem inacessíveis…
Por outro lado, é importante termos noção do problema que isto nos traz… Se constante, a ansiedade de desempenho, por levar a uma situação regular de medo do fracasso, pode trazer uma diminuição da vossa confiança, não só aumentando o problema inicial, mas também levando ao desenvolvimento de perturbações de ansiedade de maior grau, como, por exemplo, a ansiedade social ou a ansiedade generalizada.
Já Aaron T. Beck, um especialista nesta área, referia que “os pensamentos automáticos negativos e as crenças disfuncionais vão exercer influência no comportamento e na regulação das nossas emoções”.
E agora? O que fazer com esta informação?
Um exemplo útil é o que acontece na terapia cognitivo-comportamental (TCC).
Numa consulta com um psicólogo especialista em TCC vamos identificar e ajudar a reestruturar estes pensamentos distorcidos ou disfuncionais. De modo cómodo e confortável, ajustados às necessidades e capacidades de cada um, vamos reduzindo os comportamentos de fuga e evitamento, e encontrar estratégias para gerir e aprender a lidar com estas emoções e estes momentos de “crise”.
Dependendo da pessoa e das situações em que sente a tal ansiedade de desempenho podemos aprender estratégias de mindfullness, técnicas de relaxamento, de respiração, ou de journalling dirigido que promovem uma maior e melhor capacidade de resposta e respetiva diminuição do estímulo ansioso.
Saber como contar com os nossos, os amigos, os familiares, o que nos são próximos – o suporte social – também é muito importante. Não necessariamente pelas opiniões e pelos julgamentos, que sem saberem, por vezes nos passam. Mas porque tambem estão lá para nos darem coragem, segurança, e diminuir o medo e a ameaça que a vida nos transmite quando nos sentimos sozinho na multidão.
Todos temos a capacidade para transformar o limão na limonada, o medo de falhar na aprendizagem e na evolução. Acompanhados das pessoas certas, e certos da nossa força e resiliência.
Dr.ª Ana Sofia Moreira
Dr. Jorge Ascenção