21/10/2025
A ansiedade é a expressão de um corpo em estado de alerta contínuo, como se a qualquer instante pudesse surgir uma ameaça. O coração acelera, a respiração encurta, o sono fragmenta-se, a vigilância nunca desliga. O organismo permanece mobilizado, mesmo quando não há perigo imediato.
Do ponto de vista clínico, a ansiedade pode ser entendida como uma resposta de sobrevivência que não chegou a completar-se. Perante uma ameaça, o sistema nervoso prepara-se para lutar, fugir ou imobilizar-se e quando esse movimento não encontra resolução por não haver saída possível a energia defensiva f**a suspensa. O corpo permanece em activação, preso num ciclo que não conseguiu fechar.
Na prática, encontramos frequentemente esta marca em pessoas expostas muito cedo a histórias traumáticas: violência doméstica, abuso físico ou sexual, mortes súbitas, acidentes vividos ou testemunhados entre irmãos, vizinhos ou primos. Nessas idades, o sistema nervoso ainda imaturo não dispõe de recursos para integrar tamanha intensidade. O corpo aprende então a viver em sobressalto, instalando a ansiedade como modo habitual de existência. Os sintomas que surgem — palpitações, insónia, pensamentos repetitivos, hipervigilância são sinais de um organismo que fez o que estava ao seu alcance para proteger a vida. Este mecanismo tem custos profundos pois desgasta os recursos fisiológicos, fragiliza os vínculos e alimenta a sensação de que “há algo de errado” em si próprio. O processo terapêutico não consiste em forçar a eliminação da ansiedade, mas em criar condições para que essa energia encontre vias de resolução. Pequenos gestos, movimentos, descargas espontâneas permitem que o sistema nervoso complete gradualmente o que ficou inacabado. A partir daí, a ansiedade deixa de ser um estado permanente e transforma-se numa resposta transitória, adequada ao presente.
É nesse espaço que o corpo reencontra a possibilidade de repousar, expandir-se e estar plenamente vivo. A ansiedade, então, revela o que sempre foi: uma resposta adaptativa, sábia e legítima, que precisa de cuidado para se transformar em vitalidade.